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Cronicas-->O cravo não brigou com a rosa... -- 01/02/2012 - 15:58 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA

Texto de Luiz Antônio Simas

Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto.
Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais
"O cravo brigou com a rosa". A explicação da professora do filho de um
camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a
mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou
a rosa debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha.
Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma
suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no
folclore brasileiro?

É Villa Lobos, cacete !!!

Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da
minha infância o negócio era o seguinte : Samba Lelê tá doente/Tá com a
cabeça quebrada/Samba Lelê precisava/É de umas boas palmadas. A palmada
na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do
maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/
Assim que a febre passar/A Lelê vai estudar.

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca.
Os amigos sabem de quem é Samba Lelê ? Villa Lobos de novo.
Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim : Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos
e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música
desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda
dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um.
Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de “marré-de-si”,
para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

Dia desses alguém
[não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não
procurei a referência no meu “babalorixá” virtual, Pai Google da Aruanda]
foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de
“viado”. Qual é o problema da frase ? Ecologia, de fato, era vista como coisa
de “viado”. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía,
soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava
militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das
bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais
pode usar a expressão coisa de “viado” ? Que me desculpem os paladinos da
cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto
é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa
de “viado” não é, nem a pau
(sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão
de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé
de asfalto ou bola sete
(depende do peso) - só pode ser chamado de
afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um
cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia
- aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia
pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas
a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade.
O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca,
baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal.
O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa
e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã
de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho.
Direi o seguinte : o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades
especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do
apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014,
disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o
juiz pra “putaqueopariu” e o centroavante pereba tomar no “olho do cu”,
cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven,
entremeado pelo coro de Jesus, Alegria dos Homens, do velho Bach.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais.
O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele
que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular
tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura.
A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde.
Defuntos ? Não.Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.

Abraços,

Luiz Antônio Simas

(Mestre em História Social pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio).

Comentário:

"Não atirei o pau no gato, mas esfaqueei a professora, estrangulei um colega e dei um tiro no diretor da escola" - retrato atual da violência nas escolas. Puritanismo stalinista é isso aí: o politicamente correto babaca que toma conta de nossa sociedade, criminalizando palavras como "crioulo" e atenuando crimes como o de aborto, que passa a ser  apenas o "direito da mulher de dispor do próprio corpo".

E Negrinho do Pastoreio, como fica? Afrodescendentinho do Pastoreio?

E Negueba (do Flamengo), suponho que seja "neguinho pereba", não foi proibido ainda por quê?

No Exército existe o "Terceireba", o Terceiro Sargento pereba. Algum marechal vai pedir para riscar esse vocábulo do miliquês?

Tá passando a hora da gente bater as botas. Não dá mais para aguentar tanta babaquice.

F. Maier

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