Ela usava drogas e os pais não sabiam. Num dia ensolarado pegou a moto do pai sem permissão para dar uma volta sem destino. Essa possante era de 600 cilindradas, preta, bem a caráter para quem viveu os anos sessenta. Depois de muito curtir o vento em seu corpo, parou para descansar e viu um jovem com uma monareta. Foi ao seu encontro e propós uma troca. O rapaz espantado perguntou quanto em dinheiro ela queria de volta. Estupefato ouviu a resposta:
- É mano a mano. Estou cansada e nada melhor que uma moto pequena com 100 cilindradas para descansar e voltar para casa.
O rapaz mais que depressa pegou a moto da garota e saiu em disparada. Seus neurónios deveriam estar brigando, ou se divertindo em sua cabeça desmiolada para ela ter sugerido e aceitado aquilo. Você pode imaginar que ela fez isso já de cabeça feita, já embalada por barbitúricos. Nada disso. Ela havia saído de cara limpa.
Quando retornou para casa, contou o ocorrido a seus pais que, boquiabertos, a enfiaram no carro e fizeram o percurso inverso, na busca desenfreada pela moto. Não encontraram mais o felizardo que ganhara com a troca.
Resolveram levar a garota numa psiquiatra. Esta, com uma enorme bagagem no tratamento de jovens, fez a garota contar a ligação com os amigos. Foi então que ela abriu o jogo.
- Sou dependente da coca. Uso maconha de vez em quando e já experimentei ecstasy.
- E crack?, perguntou a psicóloga.
- Esse aí não quero conhecer, porque mata e eu quero viver bastante.
Foi a resposta que a psiquiatra queria. Aproveitou-se que ela desejava viver muito e com palavras sugestivas convenceu-a a se internar numa clinica de reabilitação.
Passados seis meses a garota era outra. Prestou vestibular e, para alegria de seus pais, passou em medicina. Formou-se e se especializou em psiquiatria. Nem bem se graduou fez pós em psicologia clínica da saúde.
Hoje tenta salvar jovens das drogas usando seu próprio exemplo e termina as sessões dizendo:
- Felizmente troquei a moto. E troquei também de vida.