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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (13) -- 19/02/2012 - 12:58 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES(13)


Meu professor de direito constitucional era um conhecido político pernambucano, morto tragicamente num acidente aéreo, até hoje não elucidado. Sua alcunha, atribuída a seus adversários políticos, fazia jus ao estilo de penteado que usou durante muito tempo. Advogado militante, citou numa aula, certa lei do ocupatio, que, sob minha estranheza, explicou claramente: "ninguém tem o direito de apanhar uma concha no mar" (sic).
Apesar de ter lido MONTESQUIEU, para sair da ignorància ("Espírito das leis"), não me vi convencido o bastante a entender ou aceitar o conteúdo dessa tal lei, provavelmente contemplada no direito romano, praticado neste país.
Porquanto jamais me passar pela cuca, tornar-me um dia advogado, hei de reconhecer que o estudo do Direito, qualquer que seja, é de extrema importància para a conduta do homem e para a sustentabilidade da verdadeira democracia.
Fosse eu um advogado, faria de tudo para preservar a ética que se me é obrigatória e o direito de exigir-me altivez e independência, escorreita conduta pessoal e conhecimento bastante para garantir o sucesso da carreira.
Não foi porém isso que observei durante o tal caso Eloá, como ficou conhecido o julgamento no tribunal do júri em Santo André, condenando um metalúrgico a quase um século de regime fechado. A advogada de defesa, suposta descendente de libaneses, ainda que tenha demonstrado empenho técnico-científico como exigido, teria sacrificado sua carreira de tantos anos, ao ofender a magistrada presidente do júri, de forma um tanto intempestiva?
(E aquela atmosfera de dançarina de flamenco, teria tudo ou nada a ver?)
Corporativismos à parte, a OAB, guardiã do exercício profissional de seus associados, veio em defesa da causídica, embora não com tamanha intensidade, a ponto de evitar que a juíza do caso representasse a incauta senhora advogada Ana Assad, num futuro processo por desacato e injúria.
Visivelmente instruída pelo seu foro íntimo a tornar-se estrela da causa que defendia, a infeliz senhora advogada, fez exatamente o contrário da promotora, que, de modo discreto e altamente profissional, convenceu os jurados para o previsível, o que, para leigos em geral, seria uma zebra, fossem assistir ao inocentamento do réu.
A mídia, exercendo seu papel de fato e de direito, deita e rola sem nenhum pejo ou constrangimento, haja vista ter insistido através de um dos canais, para entrevistar depois do resultado, a advogada "perdedora", o que seria o golpe fatal em sua carreira, para mim já tão combalida até aquele ponto do episódio. Mas não é assim que a banda toca. Em certos casos, o advogado de defesa, com ou sem trunfos sobre os autos e seus ditames e paràmetros, pode muito bem "sofismar" de maneira singela, os caminhos e descaminhos que culminarão ou não com a vitória final.
Para um fervoroso acadêmico de Direito, a estratégia de esconder os meandros dos autos sob certo aparato, faz parte do rito julgatório e, com efeito, pode ou não desencaminhar o objetivo de sucesso da defesa, ainda que não seja de todo consciente por si só.
A maioria da prudência jurídica sabe, até prova em contrário, que não haveria nenhum gênio do direito que pudesse convencer qualquer conselho de justiça, a inocentar alguém com aquele perfil de culpabilidade ipso facto.
Exceto se e somente se, fosse o causídico, um gênio do Direito, um lídimo e consequente Hobbes ou quem quer que dominasse a batuta de Demóstenes.
Eu pessoalmente assisti a todo ou a quase todo o rito, não interessado no output, (mas no throughput), isto é, na decisão final, já um tanto esperada pela turba ignara, postada fora do prédio do tribunal.
É que, como o nobre e régio leitor já sabe muito bem, de cor e salteado: pimenta no dos outros é refresco.
Um detalhe ao menos para mim ficou assente e definitivamente confirmado: a justiça brasileira não tem infra-estrutura que se a sustente. Como administrador, eu diria mesmo que, sem querer parodiar o velho e reacionário, porém sábio Peter Drucker, estudioso da administração científica: sem planejamento, pessoal suficientemente preparado e objetivos bem dispostos, a gerência de um negócio, vai mesmo pro beleléu.
Os juízes, quase todos concordam, são e estão preparados para a lida cotidiana, mas o meio-ambiente que os rodeia é de todo medieval e aquém dos objetivos aos quais se destinam. Certa vez comentei isso tudo com um juiz de tribunal de pequenas causas e ele, muito gentil e simplesmente, concordou de pronto.
O sucesso de um negócio está principalmente na harmonia dos seus meios a fim de atingir os fins harmoniosamente.
O resto, como diria ainda o velho e americanizado Drucker, é apenas marketing ou merchandising.
E, para corroborar, ficou muito claro e patente em toda a odisséia de mais de cem horas de trabalho, quase estafando a magistrada, que se postava ali apenas para gerenciar um rito jurídico e não para servir de chacota ou, ainda, quase exaurir-se pela temperatura ambiental, ao preterir um mínimo de calor humano.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe, 19.02.2012


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