Usina de Letras
Usina de Letras
186 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62178 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50582)

Humor (20028)

Infantil (5425)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6183)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (14) -- 13/03/2012 - 13:20 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES(14)

Lupércia era uma mulher de meia idade, cuja atividade profissional consistia em sair de casa em casa, injetando medicações na vizinhança. Até onde ia minha observação de menino quase adolescente, desempenhava uma função muito comum no subúrbio, numa época em que se podia contar com a figura do médico de família.
E me lembro bem que o pai gozava desse privilégio, através da assistência de um profissional, um tal dr. Medeiros, que apreciava um bom uísque (o do meu pai, claro), coadjuvado por uma suculenta lagosta, preparada no restaurante do velho.
Quero esclarecer o leitor, porém, que narro tudo isso a propósito do dia internacional da mulher, nestes idos de março. E quanto à Lupércia, gira em minha memória, um detalhe que convinha bem ao seu estilo de paramédica provisionada.
O rolar ritmado da seringa entre as mãos, a produzir um som bastante singular, percutindo com a grossa esférica aliança que usava na mão esquerda. A tarefa ajudava a esfriar a seringa que esteve imersa em água quente, na suposição de esterilizá-la.
Lupércia enviuvara de alguém que não conhecemos e se tornara a impiedosa mãe da rua do Rio, onde despendi quase toda minha adolescência, num subúrbio da zona norte.
Ela criara dois filhos bastante primitivos nas atitudes, talvez pela repercussão psicológica que lhe causavam as chicotadas lupercianas, que eram ouvidas em todo o quarteirão ao lado dos gritos lancinantes dos rapazes.
Pelo que se pode deduzir, o talento para as injeções medicamentosas, se equivalia ao de mãe rigorosa e nada exemplar. Minha mãe, mais suave em suas punições, estranhava as ações da amiga e vizinha, quando presenciei muitas vezes sua conversa em tom baixo, sobre os comentários da última sova na pequena prole, que também não era lá flor que se cheirasse.
No início dos anos sessenta, a comemoração do dia internacional da mulher, não era nada notável ou significativo, senão no exterior.
Resumia-se a uma pequena nota nos jornais da época, quando muito divulgada numa provinciana rádio local, conotando apenas jocosamente, sem muito desvelo ou respeito. No meu parco modo de ver, as grandes datas a serem comemoradas se podiam contar nos dedos.
As mulheres, ainda longe de reivindicar direitos, eram educadas para o casamento e para as prendas domésticas e seu mês especial era o de maio ou mês de Maria, o que proporcionava um grande motivo para se o denominar mês das noivas.
Recentemente li um breve texto acompanhado de um vídeo, contendo as principais realizações das mulheres cientistas Curie, Marie e Irene - mãe e filha - cujo labor científico, levou-as a morrer de leucemia, um tanto precocemente. Ambas ganharam prêmios Nobel e uma delas, duas vezes.
E me veio também à memória, concomitantemente, a figura de uma pária que sobrevivia de migalhas na rua onde morei no belo bairro da Casa Forte. Chamava-se Jurandir e, a despeito de a acharem louca, disso ela não tinha nada, se é que compreendemos mesmo, o significado do termo. Minha filha mais velha se aproximou dela e fizeram uma interessante amizade.
Dentre tantas mulheres citadas, exijo-me especialmente homenagear certa mulher, mãe dos meus filhos, cuja personalidade marcante, ajudou-me a compreender melhor as mulheres em sua complexidade.
Essa mulher, que pese se chamar Norma, não revela o rigor legalístico do nome que ostenta, mas a suavidade flexível da algaróbia ao receber a leve chicotada do vento da tarde.
__________________________________________________
WALTER DA SILVA
Camaragibe, 13.03. 2012
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui