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Cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (16) -- 21/04/2012 - 08:28 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (16)

Em Ritápolis, outrora Fazenda do Pombal, Minas Gerais, faz alguns anos decidiu-se por decreto municipal, erigir um memorial ao libertário Joaquim José da Silva Xavier, dentista, minerador, tropeiro e ativista político. Ou, "inconfidente" republicano. Ali nas hoje ruínas da fazenda, nasceu Tiradentes e onde deveria se erguer o memorial.
Ele morreu num dia nublado de 21 de abril de 1792, enforcado em praça pública e posteriormente esquartejado.
Mencionado monumento jamais ficou pronto e o articulista certo dia, esteve lá presente e constatou a conversa fiada da democracia brasileira, que não honra seus vultos e os reverencia vagamente, quando muito com um feriadozinho fajuto. Afinal de contas, reconheça-se, naquela época o futebol ainda não houvera aterrissado em terras brasileiras.
Para não ser tachado de injusto, há uma estátua de Tiradentes em Belo Horizonte e uma praça no centro do Rio de Janeiro, onde o personagem morou por volta de um ano, projetando a canalização dos rios Andaraí e Maracanã a fim de melhorar o abastecimento d´água na cidade.
Quando voltou a Vila Rica e periferia, pregando como um ativista político, aí o couro comeu. Juntou-se a três políticos e poetas, Claudio Manoel da Costa, Tomás António Gonzaga e Inácio José de Alvarenga Peixoto, que juntos aderiram ao movimento.
Ocorre que a eles igualmente se juntariam alguns padres e militares de alta patente, para estabelecer um governo republicano independente de Portugal. Vai daí que um xará do nosso herói resolveu delatar - também havia dedo-duro no século dezoito - o movimento, condenando os revolucionários a, no mínimo, o degredo, sobrando para Tiradentes o trágico final. A propósito, vocês todos se lembram de D. Maria I, não?
A partir daí, condenados que foram por crime de lesa-majestade, o doutor Tiradentes tomou para si a culpa no imbróglio.
Porquanto o hajam transformado em mártir, isso pouco importa, haja vista a imagem iconográfica que desde sempre fizeram dele: vestido de roupão branco, barbas e cabelos longos, à guisa de Jesus Cristo, outro que ainda hoje - tenha existido ou não - é personificado nas mil e uma artimanhas constantinas, incluindo os olhos azuis e cabelos louros, disfarce pouco provável de não ser descoberto pela turma do deixa-disso, na propalada fuga para o Egito.
E não será de pouca monta assinalar que o imperador Constantino perpetrou tudo aquilo em nome do status quo e das benesses que o poder proporciona.
No máximo, o que Tiradentes poderia usar, seriam um bigode ralo e cabelos curtos, uma vez alferes; e um milico, a exemplo dos tempos atuais, não deve usar cabelos longos. Se o leitor se interessar por grandes conflitos, corra à enciclopédia britànica e veja que no bojo deles todos, nenhum soldado se atreveria a praticar um ato de indisciplina.
Excetuando-se a rapaziada americana no Vietnam, Laos e Camboja, que compostamente mantinha as cabeças quase raspadas, mas não resistia a um generoso baseado para suportar o trauma da distància de casa e para amenizar as dores da guerra.
O que nos sobra nesses duzentos e vinte anos de inconfidência? Como diria vovó Lídia, merda nenhuma, carregando a pronúncia no erre. Hoje, ao sair para o trabalho, provoquei um estudante pré-universitário que estava num pequeno grupo e perguntei-lhe o que achava do feriado. Ao ouvir um grunhido aparentemente primal, seguiu a resposta: "Feriado? que feriado?". "Amanhã, dia 21 de abril, dia de Tiradentes", reacendi sua memória. E ele dando de ombros, respondeu placidamente: "Massa, né?".
No mais, pendure sua rede na parede do terraço principal de sua casa, empunhe e abra seu livro em sua leitura predileta e sorva uma loura gelada em memória da república que, em nossos dias, tornou-se reprivada, como na casa de mãe Joana onde todo mundo manda e ninguém manda em ninguém.

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Pano rápido
Art. 87. Tentar diretamente, e por fatos, destronizar o Imperador; privá-lo em todo, ou em parte da sua autoridade constitucional; ou alterar a ordem legítima da sucessão. Penas de prisão com trabalho por cinco a quinze anos. Se o crime se consumar: Penas de prisão perpétua com trabalho no grau máximo; prisão com trabalho por vinte anos no médio; e por dez anos no mínimo. (Código criminal do Império do Brasil)
"Portanto condenam o réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes, alferes que foi do Regimento pago da Capitania de Minas, a que, com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca, e nela morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde no lugar mais público dela, será pregada em um poste alto, até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e pregados em postes, pelo caminho de Minas, no sítio da Varginha e das Cebolas, onde o réu teve as suas infames práticas, e os mais nos sítios das maiores povoações, até que o tempo também os consuma, declaram o réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, e os seus bens aplicam para o Fisco e Càmara Real, e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique, e não sendo própria será avaliada e paga a seu dono pelos bens confiscados, e mesmo chão se levantará um padrão pelo qual se conserve em memória a infàmia deste abominável réu; [...]"
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WALTER DA SILVA
Maceió, AL - 20.04.2012
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