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Artigos-->Ausências -- 22/07/2003 - 16:40 (won taylor) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ausências























As pessoas só se revelam após ver exposto, a mesma dor que sentem, então não se calam, até que a sua própria dor seja levada de suas vidas. Porque já conhecem aquilo que as incomodam, mas não sabiam como conviver com aquela estranha sensação que lhes incomodavam e parecia não ter fim.













O Autor













Ausências

















Dedico essas palavras que escrevo, as pessoas que de alguma forma tentam superar a dor que sentem...







Senhor,



Fere me com que eu possa ser ferido

Cure me com que eu possa ser curado

Ouça me com que eu possa ser ouvido

Ama me com que eu possa ser amado



Bem seja você que consola

Bem seja você que ajuda

Bem seja você que ensina

Bem seja você que orienta



Venha a vontade com o bem

Venha a paz com o sorriso

Venha o buscar do bem com o pensar

Venha a vontade com o olhar



Assim nos console e nos faça consolar

Assim nos ajude e nos faça ajudar

Assim nos ensine e nos faça ensinar

Assim nos oriente e nos faça orientar.





















Ausências









Não tive a pretensão de ser pessimista, porém atinei com a única maneira de mostrar que nós não temos que nos prestar a fazermos planos de um futuro que não nos pertence. Decerto que acrescentei a miséria das coisas e, com efeito, proferi destinos que se cruzaram e como um fardo inútil se separou depressa demais.

Inferi eu que zelo das palavras e ninguém se fie com a melancolia do dia ou com a quitação da noite, mas, lembre-se que antigas suplicas podem não valer muito ao inestimável lamento de quem fica.

Efetivamente e sem desamparo algum traduzi sentimentos que se espalham em nosso dia-a-dia, e esses sentimentos que nos engolem a vontade e que dentro em pouco acaba nos acontecendo por vontade divina. Lamentavelmente deparei esses sentimentos torpes e com menos conflito do que eles merecem e mais vagos do que realmente são. Contanto que prestemos mais atenção no que temos, que se ao perde-lo que seja por determinado tempo que nos foi permitido e aproveitados em todo o seu esplendor e delicias.







Wonderli Taylor Januário









Ausências





Capitulo 01





A chuva caía continuamente e a noite que mal começara se encarregava de tornar mais cinza aquele dia. Apenas umas poucas almas corajosas se aventuravam a caminhar pelas ruas, e dentro dessas poucas, fazia parte, um homem louro e miúdo, que encharcado tentava se livrar da água em seu rosto, e ia apressado se dirigindo a pé para casa.



__ Você! Não acredito! Giovani!

__ Para que tanto espanto. - Os olhos castanhos eram carinhosos, e a doçura de seu rosto encantava a todos.

__ Estou espantada mesmo. Deparar nessa chuva com o meu escritor preferido - Essa era Suzana Ribeiro, uma mulher de humor fora de série, morena, miúda, um rosto de traços finos, e seus olhos de um azul brilhante.



Giovani sorriu de novo, desta vez com mais prazer. Estava acostumadas as brincadeiras dela, que sabia que ele era intensamente reservado.



__ Giovani? - Voltou os olhos rapidamente para a imagem daquela mulher molhada diante dele - Sim, Suzana!

__ Não quer vir comigo, estou de carro - Ele sacudiu a cabeça e sorriu, e ela ficou impressionada com o porte franzino dele.

__ Não, obrigado. Prefiro caminhar.

__ Está chovendo muito - Insistiu ela.



Como sempre acontecia quando ela o via ela teve vontade de se declarar, de dizer o que sentia por ele. Aos trinta e oito anos, ele ainda tinha a aparência de vinte e cinco e às vezes de catorze anos - Vulnerável e delicado. Porém havia algo mais, havia em seus olhos uma solidão que dilacerava a alma dos outros, e isso se misturava com a aparecia frágil. Ele era um homem só, mas se a vida fosse justa, não seria ou não deveria ser.









__ Deixa para uma outra oportunidade - Hesitou em apenas dizer não. Quis ser delicado e gentil - Pode deixar que eu sei nadar muito bem.

__ Ainda tem tempo para ser espirituoso?

__ Vou indo! - A gentileza em seu olhar transformava o frio que água da chuva causava, em algo cálido.





Ao voltar-se para a rua, desviou os passos em direção da calçada, e a cada passo se distanciava da mulher que parada, acompanhava com um olhar triste, o homem se se distanciar dela e se perder na cortina esfumaçante, que a chuva provocava.







Giovani carregava a culpa pelo desaparecimento de sua esposa e de seu filho. Culpava-se por ter pedido que Edith fosse buscá-lo, na noite de autografo, de seu primeiro livro. E mesmo sabendo que ela ainda se recuperava do parto difícil que tivera. Ele não imaginou que naquela noite chuvosa, Edith pudesse ser abaulada por um caminhão desgovernado e assim fora apanhado dentro do carro parado, a esposa e o filho de dois meses. A sua culpa era por ter deixado a esposa grávida de lado, e ter-se dedicado no término e na publicação de seu romance. Sabia que a sua falta de atenção, tinha apenas o propósito de tornar-se um escritor de verdade e aquela era a oportunidade única e não tinha outro caminho a seguir. Mas, o peso em seus ombros, era quase insuportável e ele apenas seguia sobrevivendo.

Agora, não freqüentava nenhuma festa de lançamento, e a nenhum círculo literário, isolava-se em sua dor e não se interresava em nada do que acontecia, em jornais, programas de televisão ou em rádios. Permanecia em seu mundo particular e se envolvia com poucas pessoas. Como Suzana, uma agente literária, secretária, além de porteiros em sua rua.









Nada de sua vida era revelado, quase ninguém sabia quem ele era de verdade, apenas o que ele fazia, e esse mistério o tornava mais fascinante e menos humano possível, apenas as suas personagens tinham vida; ele não.

Giovani com uma angústia intermitente, em sua névoa particular parecia se misturar à neblina, enquanto Suzana já não conseguia acompanha-lo.



Ao chegar em casa, foi-se logo retirar a roupa molhada e tomar uma ducha quente e em seguida já estava deitado, como se buscasse refugio em seu esconderijo. Ao ser vencido pelo cansaço, mal pegou no sono e veio o mesmo pesadelo a lhe atormentar a alma... Luzes fortes demais e freadas cortantes... Sem conseguir saber como chegara até aquele local, onde um carro parado a espera de um caminhão em alta velocidade.

Ele despertara então; trêmulo; o olhar alucinado; o suor frio e o terror causado pela dor. Sentindo a mesma lâmina de agonia corta-lo mais uma vez. Levantara e aos poucos fora deixando de lado, assim como a sua vida, não tinha amigos, não saía de casa. Entregava-se ao trabalho e escrevia dois livros ao mesmo tempo. Devotava cada momento aos livros que escrevia, com medo de deixar que qualquer pensamento pudesse chegar, e faze-lo reviver a dor de sua perda.



Seus sentimentos lhe cercavam a alma trazendo tanto desespero que ele não sabia como suportar. Passava os dias se desfazendo de suas inseguranças e tormentos, e assim não precisava apanhar os seus pedaços que se espalhavam por entre os dias. A sua falta de vontade de esquecer ou de admitir aquelas dolorosas lembranças, tornavam os seus dias como castigo.



Ele vivia sob permanente tensão, no entanto, havia inúmeros momentos em que sorria, porém, vezes sem conta, ele precisava encarar a realidade, e ele sabia que a vida dele jamais seria normal, se ele continuasse a se esconder. Vivia apavorado com a idéia de que ninguém poderia entender tão bem quanto ele os riscos e frustrações com a qual ele se defrontava diariamente. Tomava cada fardo da vida dele sobre os próprios ombros e sentia sobre si um manto mudo e pesado de culpa, pois achava secretamente que a culpa era sua e que devia ter impedido aquilo de acontecer. Não fora capaz de impedir que Edith e o bebe de morrerem no acidente e desde então, acabava sempre com os seus pesadelos e acordava sempre gritando:











Sentado no sofá pensava numa de suas poesias, que escrevera quando Edith ainda estava viva, era como uma profecia:



‘Quem sabe um dia eu ainda consiga superar todo esse tempo em que estou só. Apesar de saber que é muito complicado e além da dor que me mantém como um prisioneiro, tem esse medo que me olha mais do que me olhava antigamente.

Acho que o teu sol, vida, não consegue mais brilhar para mim. E por isso faço do teu desamor escudo para não ser atingido por essa indiferença. Não há mais cor em meus olhos que parecem estar tão fatigados.

E nada é certo apenas o meu querer e essa saudade do que já tive. Mas eu prefiro fugir...Quando tudo que eu sempre quis foi ter um lugar seguro, onde pensava que nada pudesse destruir o que sinto. Mas a dor abandonou o meu coração bem longe daqui. E nem sei por quê isso me deixou tão frágil. Bastava ter dito o que estava para acontecer e eu poderia acreditar que era verdade o que eu via. Com teu céu em chamas, uma coisa triste assim e eu só pude cobrir os meus olhos...

Quem me dera saber que toda essa dor é passageira, que todo o carinho que você me deu, vida, não vai estar mais do meu lado. Por uma coisa que nem tentei entender só quis estar ao teu lado. Teu medo, paixão e desinteresse causaram tanto estrago. Você fez uma prece e eu só implorei ao santo errado.

Não quero mais beber da minha lágrima e nem acreditar que esse foi um amor perdido. Se quando tudo que fazíamos era por acreditar no que sentíamos...

Meu anjo caído em tua porta com palavras que lhe escrevi há tempo atrás

E você me diz que não vale a pena querer tentar. Assim com tanto cuidado e atenção, dava para saber que era apenas um "não”.

Quem sempre disse que a confiança era algo sagrado errou em seguir por caminho em separado e ainda veio sem perdão e falta de vontade e sei que ainda tenho a tua saliva em minha boca e que teu gosto vai permanecer em mim por muito tempo. Mas começo agora a ver o que ficou com outros olhos e teu amor que me faz mal vai se diluir do meu peito cansado e terei apenas eu do meu lado’.













Celina sua secretaria, loira, cabelos quase cor de prata, olhos verdes, boca e voz sensual, esperta e alta. Era ela quem tocara a Campânia insistentemente, até que percebendo a situação, Giovani pôs-se a abrir a porta.



___ Desculpe-me pela demora! - A voz sempre meiga e gentil de Giovani conseguia diminuir o impacto que o sofrimento fazia questão de mostrar em seu rosto.

__ Pesadelos de novo? Vá a um especialista. - Celina sempre sabia o momento certo em falar com Giovani.

__ Um psicólogo? - Gritara para ela com quem se entendia melhor - Não farei isso comigo e nem com eles, isso nunca!

__ O que está fazendo é muito pior. - A voz de Celina era gentil - Não precisa ser para sempre, mas, você tem que enfrentar a realidade.

__ Já faço isso todos os dias. - Berrava sem ser violento.

__ Não tem o direito de fazer isso! - Ela tentava acalma-lo com carinho na voz e na expressão.

__ Não quero que eles se vão da minha mente! - Falava com lagrimas nos olhos.

__ O psicólogo só vai aliviar a sua dor, faze-lo entender o que não consegue sozinho. - Uma pausa antes de continuar - Ele vai ensinar-lhe a domar os teus sentimentos.

__ Mas, eu gosto da vida que levo e gosto dos sentimentos que tenho. - Justificava a própria vida com palavras infrutíferas.

__ Você não sabe mais sentir e está perdido e sozinho... Quem lhe conhece além de mim? Sou grata pelo modo fraternal com que me trata, mas não és tão velho assim, você ainda tem muito a viver. - Brincava para que o clima não pudesse pesar mais.

__ Não sou um monstro!

__ Eu não disse que o é...Você é muito bom quando escreve e ninguém melhor do que você para dar alivio as pessoas com seus textos. Seus fás gostam dos seus livros pelo auxilio que encontram neles, será que você não consegue ver que você é importante para essas pessoas e tem que ser importante para você também? - A ternura de seu olhar chegava até Giovani.

__ Eu sei...Eu me dedico a essas pessoas e entro em suas vidas e as faço felizes. - Ele andava de um lado para o outro sem parecer estar nervoso.





__ Mas você não se faz feliz... - Ela se compadecia com o olhar cheio de compaixão.

__ Sim, eu sou feliz ao meu modo. Mas, as pessoas não conseguiriam ver isso com os olhos que vêem as coisas comuns...

__ São os mesmos olhos com os quais nós olhamos para você. - Ela já não conseguia esconder as lágrimas que escorriam em seu rosto.

__ Me veja feliz então!- Com o rosto avermelhado e sem demonstrar estar sendo vencido, ele ainda insistia - Veja, tenho você e tenho o meu trabalho.

__ E tem as suas penosas lembranças. - Celina se esforçava para não se entregar às lágrimas - Você está desperdiçando a sua vida, vivendo assim isolado em você mesmo.

__ Não quero viver cercado de pessoas, com suas vidas e seus valores. Não tenho mais condições de começar com isso de novo...Não posso...

__ Por isso as evita? Você não é tão covarde assim e sabe que pode contar comigo, para superar tudo isso. - De novo a voz dela tornara meiga e amiga.

__ Já cansei de sentir dor, ao tentar lutar contra mim e resolvi ignorar a crueldade que cerca a todos com o que sentimos e nada me importa mais...

__ Nem mesmo a sua vida por sinal...

__ Chega...Por favor, Celina chega! - Caído de joelhos e aos prantos, ele implorava para acabar aquela tortura.

__ Tudo bem, vamos esfriar as nossas cabeças e tratar dos negócios que nos cercam. Mas, ainda vou insistir em leva-lo a um psicólogo.

__ Hoje não...Hoje não! - Esforçava para sorrir.





Um sorriso amigo saía da face daquela mulher adulta e ainda tão criança e linda.









Edith era uma mulher alegre; honesta; forte; lutadora; nervosa; generosa e gentil. A falta que ela fazia tornara a vida de Giovani, um tanto vazia e vaga e por isso, ele dedicara todo o seu tempo a estar com um papel e uma caneta na mão.

A voz de Edith que às vezes soava áspera e em muitas outras vinham acalentadora, com sabedoria acertada, e em seus conselhos, sempre a certeza de como tudo se concluiria. Todas essas coisas particulares, que montava o caráter de Edith, faziam com que Giovani não deixasse de pensar nela um só segundo...Gestos; palavras; abraços; sorrisos e carinhos.





Edith era uma mulher linda, com os seus cabelos castanhos claros e seus lindos olhos verdes e sua estatura mediana. Jamais diriam que a idade dela, era a mesma apresentada em seus documentos. Mais parecia uma menina de dezoito anos e nunca de vinte e oito anos.

Seu sorriso lindo e sempre disposto a ajudar e a doar-se, uma pessoa excelente, que às vezes não era entendida, mas era uma pessoa muito mais dócil, do que lhe parecia a expressão forte. Seus sentimentos acertadamente fieis e seus passos sempre na direção certa, e o que mais fazia com que Giovani a admira-se, era a sua fé, forte e segura.





Giovani tinha em Edith a base de sua estrutura, e com ela tinha uma fortaleza montada, com segurança e proteção. E agora sem ela, ele sentia como se todo o chão tornasse mole, feito gelatina, onde nem seus passos e nem as suas emoções estavam mais seguros.











Talvez nem a solidão de seus dias e nem a certeza que colocara em seu coração, de permanece sozinho, nem nada mais, poderia diminuir a presença forte de Edith em todos os momentos de sua miserável vida.





Calada; gritando; chorando e sorrindo e sendo ela mesma; e assim ele havia encontrado o amor naquela mulher tão especial e nela concentrara a vida dos dois e se esforçara para que ela sempre pudesse saber disso. A cada dia, hora e segundo, mas, sempre achava que algo faltava, e todo o seu empenho para fazê-la feliz, resumia-se em trabalhar e trabalhar.









Edith também trabalhadora, mostravasse sempre feliz e nada parecia incomoda-la e eles eram tido pelos muitos amigos, como um casal perfeito, feitos para durar para sempre. Nem destino e nem a felicidade previra essa separação e logo depois da felicidade ter sido completa, ao nascimento do bebe que lhes trouxeram tanta alegria.





Pensava nela sempre com carinho e saudades, e nada diminuía a falta dos cuidados que ela lhe reservava; a sua voz a lhe chamar de amor e seus carinhos. Tudo isso, fazia aumentar a ausência que Giovani sentia, mas isso de alguma forma, o tornava feliz.













Capitulo 02



As lembranças corroíam todos os momentos, em que sem perceber iam se agrupando pelos dias que insistiam em passar. A imagem de Edith sorrindo e dançando pela sala, ao som das musicas que a fazia alegre e ele ia a observando em silencio, enquanto ela dançava e sorria.

Neblinas de agonia descia em seus pensamentos, e por mais que tentasse

Evitar ele mergulhava em seus pensamentos, e sentia-se protegido, afinal, ali ele estava com ela e o presente era por demais dolorido. A pele clara de Edith era sempre alvo das brincadeiras de Giovani e os dois passavam as tardes de domingo, a rir, a brincar, a dormir e a comemorar aquele forte amor. As risadas fácies de Edith ao ouvir palavras pronunciadas de forma errada por Giovani a faziam chorara de tanto rir, enquanto sério Giovani mostrava-se contraído, o que aumentava as gargalhadas de Edith.

Muitas vezes pela manha, Giovani a observava se arrumando antes dela sair para o trabalho. Deitado, ele fitava-a a se pentear nua e sentada de frente a penteadeira, com o secador na mão.



__ O que foi? - O som da voz doce ainda era o mesmo em sua mente.

__ Nada, eu estou apenas pensando se fosse possível, você não ir hoje ao trabalho...

__ E você também não trabalharia?

__ Não! Eu ligo e digo que você está passando mal...

__ Fico imaginando de onde você tira essas idéias!

__ Da minha própria cabeça!

__ Só podia ser - E as risadas quebravam o silencio matinal.



São momentos assim que Giovani não queria largar, a força para continuar vinha deles e em sua sagrada mente Edith ainda vivia e ele sobrevivia a sua ausência.

Traçou a sua vida em fugas e transformou a sua nova casa num refugio. Sem conseguir continuar na mesma casa, transferiu-se para outro bairro, distante do lugar em que nascerá e crescerá. Como se distanciar pudesse deixar para trás todo sofrimento e perda.











Deixava amigos em comum e sem parentes, seguia com o seu plano de tentar ser feliz. Cansou de ouvir que tudo ficaria bem e que o tempo era senhor de tudo. Mas, a sua fé em Deus não chegou a ser abalada, mas mesmo assim preferiu ir para um lugar distante e continuar a ser feliz, com os seus fantasmas.

Perdera o animo de estar perto de outras pessoas, e foi deixando a sua vida trancada, apenas Celina tinha conhecimento de quem realmente era aquele homem, que por trás das forças das palavras que usava em seus livros e poesias, era um homem frágil e tão sofrido.





Não se atrevia a falar sobre si e mesmo a responder perguntas sobre a sua vida, ele evitava olhar nos olhos dos outros, a fim de se proteger do perigo da intimidade, mas, quando em quando ao olhar nos olhos de alguém, era como se desvendasse o mundo alheio. Com o seu olhar penetrante e ao mesmo tempo distraído, fascinava as poucas pessoas com as quais tinha contato direto com ele.



__ Você está sempre distante! - Celina cortara o silencio insuportável que Giovani fazia ao ficar sentado em sua poltrona preferida.

__ Lá vem você de novo. Parece uma velha senhora, que gosta de implicar com tudo. Pensando bem, uma velha senhora seria demais, melhor seria uma adolescente que implica com o irmão menor. Assim fica melhor para você e para mim. Somos crianças mesmo...





































Parecia estar feliz o pobre coitado, que julgava carregar o mundo nas costas, naquele momento os seus ombros pareciam estar leves e sem peso algum sobre eles.





__ Eu devia registrar, pois esse é uma cena singular. O grande escritor preso numa sonora gargalhada - Celina demonstrava sempre uma boa dose de energia positiva, quando falava com Giovani - Mas não sei o que considerar como elogio, se ‘ velha senhora’ ou ‘adolescente’.

__ Acho que errei na dose, você é uma mulher belíssima e jovem. Aceita isso como desculpa ou vou ter que me esforçar mais?

__ Meu Deus! Isso é o que você chama de se esforçar?



Os dois começaram a rir ao mesmo tempo, e esse era o contato mais vivo, que ele tinha nos últimos meses e mesmo quando se mudou, Celina fez questão de ir com ele, para ela foi difícil largar a família, mas ela era recompensada com um ótimo emprego, e como era jornalista formada, sentia que fizera o certo. Já que estava ali, era Celina quem cuidava de tudo, desde a assessoria até as refeições e cuidados com a casa. Ela que morava na casa dos fundos, e passava todo o tempo quando em casa, com Giovani acertando detalhes do dia-a-dia profissional.



Celina era dedicada ao trabalho, e a sua competência era assustadora, não permitia falhas e as corrigiam antes que pudessem ser vistas. Ela que julgara não ter experiência suficiente para tal função. Preenchia com sobras as tarefas que lhe eram dadas, e sempre dava atenção a coisas que eram pequenas.

A vida dessa mulher ficou restrita ao trabalho e mesmo com ela, Giovani não perguntava nada sobre a sua vida pessoal, deixava-a sempre livre nos finas de semana, que na maioria das vezes, a fazia retornar a Capri e aos seus familiares. Mas, quase sempre ela preferia ficar e alugar uns vídeos e ficar ali descansando e sempre com Giovani.



__ Como disse? Eu sou belíssima? Nossa! Quanta mudança...Achei que você pensasse que eu fosse um rapazinho...Assisto futebol, tomo cerveja e falo palavrão e você nunca repara se estou de vestido ou de calças...









__ O que você é uma mulher? Pensei que fosse um rapazinho...Ah, e quanto a beber, acho que deva ir mais devagar, pois, está parecendo uma esponja...

__ Retire o que disse ou eu vou enfiar a tua cara nessa almofada! - Gritou quase rindo.

__ Minhas sinceras desculpas. Sei que és uma mulher, alias até tenho um presente para você.

__ Serio?

__ Claro, está lá na cozinha...Vá ver!

__ Mas, aqui na cozinha só tem louças na pia!

__ Já que está aí e é mulher...Lave-as!

__ Olha, eu sei que você cuidou de mim e por isso lhe sou eternamente grata e oh! - Nem acabou de entrar na sala e viu Giovani segurando algo.

__ Não era esse o vestido que você queria?

__ Você lembrou até da cor... Pensei que nem tivesse visto...

__ Fico pensando em como você me trata tão bem, logo eu, que passo o meu tempo fugindo de todos e de tudo.

__ Eu é que tenho que agradecer...Você pagou toda a minha faculdade, me deu um carro novo e cuida de mim, como se fosse um irmão...

__ Irmão? Você deve estar querendo muito esse vestido...Não seria um pai?

__ Você não é tão velho assim e eu não sou tão nova.

__ Acho que estou ficando sentimental. - Sempre gentil e sereno - Ah, pode marcar o psicólogo...

__ Já está marcado para amanha as duas da tarde...

__ Mas...

__ Nada de “mas”! E pode deixar que eu marquei em outra cidade, em Marina.

__ O que seria de mim sem você. Fico admirado do modo como você me conhece bem. - Lançando um olhar admirado que deixava Celina sem jeito.

__ Apenas faço o meu trabalho e sei que você ia querer marcar a consulta em Marina.



Celina sabia que ele precisava de cuidados profissionais, mais do que ela poderia lhe dispensar. Alem disso, o seu isolamento era preocupante.







Nervoso diante do psicólogo, Giovani mal conseguia fingir descontração, até que a porta se abriu e o psicólogo entrou e antes que qualquer som pudesse sair da boca de Giovani, o psicólogo lhe fez uma pergunta de difícil resposta:



__ Quem é Giovani Martelli?

__ Seu paciente!

__ Não precisa ser sempre...Você pode ser um amigo também.

__ Tudo bem!

__ Só gostaria de saber o que lhe incomoda de verdade. Afinal, não conseguirá viver só de falsidade, mentiras e fugas...

__ Você é que está me incomodando e sendo falso. - Berrava com ele. Já que nesses últimos tempos não podia gritar contra o que o destino lhe cercou.

__ Isso grite... E lhe reserve o direito à própria vida...Isso, pelo amor de Deus volte a viver no mundo real e normal. Sei que é difícil, mas, quando estiver pronto...

__ E quando será isso? Quando tiver uns duzentos anos?

__ Você está tão acostumado a viver fora do mundo, mas agora está fazendo uma coisa maravilhosa por você. E esse é apenas um passo, mas, é o inicio de uma longa caminhada. - O sorriso do psicólogo estava cheio de compaixão.

__ Não sei quais foram às informações, que Celina lhe passou, mas confio no que ela lhe disse. - Falou Giovani com suavidade.

__ As informações que você dará, será a melhor resposta. - O sorriso do terapeuta era caloroso.

__ Não quero me ocupar muito comigo. A voz dele estava cheia de pesar.

__ Não estará se ocupando demais...Apenas está lhe dando tudo aquilo de que precisa para ter uma vida bem-sucedida no âmbito pessoal. - Sempre com um sorriso claro e honesto e olhando direto nos olhos de Giovani.





No caminho de volta Giovani pensava nas palavras do terapeuta, que ele nem havia pegado o nome ou nem se lembrou de perguntar. A coisa mais difícil que já fizera na vida fora ir ter-se com alguém que certamente tentaria separa-lo de suas lembranças, as quais queria se se agarrar mais do que a própria vida. Mas, começara a sentir que seria impossível protege-los dentro de si.











Em duas semanas, Giovani adaptou-se totalmente a consulta e se sentia como se tivesse passado a vida inteira indo até aquele consultório e a ouvir os comentários sobre a sua vida, e sem reagir. Os ensaios sobre o que a vida significava para ele, e assim podia abrir a alma nas noites longas e solitárias. E dessa forma, surpreendia-se quando o vazio quase tomava conta dele, e ele continuava firme.E ele pensava no que acabara de escrever em seu livro:



‘Eu sempre soube que você não ficaria até o fim e com o tempo imaginei que tudo pudesse se diferente e com muito querer a gente faria chover num deserto.

Mas me enganei e vi você caindo e quebrando em milhões de partes que não consegui juntar tudo de novo, então tive que deixar você ir embora.

Quando amanhece por aqui até o sol fica diferente e eu sei que eu estava sempre querendo que a gente pudesse ficar para sempre e que você só queria ser feliz do seu jeito. Mas o que devo fazer para me livrar do amor que sinto?

Se quando acordo já penso em você. Por que não vem para gente ser feliz...Juntos...

De todas as promessas que fizemos não cumprimos nenhuma e nem a de sermos felizes e verdadeiros. Ainda sem entender como tudo funcionava me vi tão perdido sem você. Acho que falei demais e essas coisas agora pesam contra mim

E nada mais vai me trazer de volta o que eu perdi e ainda nem me acostumei a não ter você.





Tantos rostos e tantas sombras me vêm a cabeça para me confundir, mas é de você que nunca me esqueço e me lembro de quando tentou me conquistar pela primeira vez e ainda continuo a lembrar do teu sorriso sincero e de tuas verdades cruéis que me machuca o peito. Vai e me diz que a gente foi infeliz e talvez assim eu sofra menos por saber que juntos éramos muito mais que amigos.











Nossos dias eram longos e honestos e nós sabíamos que tudo deveria ser eterno e nosso. Até o dia em que nada seria tocado e guardado em nós e quando apanhei todos os meus pedaços e juntei você veio como o vento e me espalhou por todos os cantos e não consegui me refazer. Por acreditar que tudo havia mudado e que você ficaria para sempre do meu lado...





__ Como foi hoje no consultório? - Quis saber Celina, assim que Giovani entrou em casa.

__ Bem! - A voz de Giovani foi sumindo enquanto Celina esperava que ele contasse mais.

__ A realidade, afinal, o está atingindo plenamente...A sua vida jamais será a mesma de novo...Nunca mais. - Ela olhou direto nos olhos de Giovani que sorria, e a passagem do tempo lhe transpareceu nos olhos. Os anos lhe haviam ensinado lições cheias de dor.



De certa forma, parecia uma violação de sua individualidade, e Giovani não se sentia pronto para partilhar seus próprios temores e a sua dor. Era tudo recente demais, no entanto sabia que tudo estava reprimido dentro de si; esperando para vir à tona e juntamente com sensações que não enfrentava havia anos e não queria piedades.





Acostumara-se à sua solidão, aos próprios pensamentos, ao consolo de abrir a alma apenas para si. Sentia que Celina era diferente, havia mais quietude, mais retraimento nessa mulher; delicada; madura e quase uma jóia. Somente quando se olhava nos seu olho, podia-se perceber que era muito mais sábia, do que era de se esperar em seus vinte e quatro anos e que a vida não fora sempre gentil para ela.











__ Começo a me abrir um pouco mais, e sei que preciso fazer mais do que isso...Mas, estou me esforçando bastante, e logo conseguirei falar melhor a respeito de tudo.

__ Você vai conseguir. - Ela falava com tranqüilidade para não deixa-lo mais sem graça do que ele já estava.





Era difícil pensar que Edith não estaria ali para conversar com ele, e tal situação duraria eternamente. O que ocorrera a ambos fora um fenômeno de duas vidas e almas afins. A identificação entre eles permanecia igual, mas as suas vidas em separado já não eram a mesma. Conversar sobre o que sentia, era a condição de fazer mudar, e ele estava encarando a situação.



__ Não sempre, mas parte do tempo. Talvez isso basta. Ao menos estás vivo. - Não havia recriminação em sua voz, estava somente pensando em voz alta.

__ Em parte! Mas, principalmente por ter achado uma boa experiência. Você teve razão em me encorajar a ir lá.

__ Sabia e sentia que seria bom. - Celina olhou para ele com uma expressão corajosa.

__ O psicólogo acha que devo me envolver com mais pessoas, mas eu disse que me sinto isolado, mesmo quando estou cercado de gente por todos os lados.

__ Mas, ele disse para se envolver e não estar perto.

__ Então, o que você acha se eu convidasse Suzana para um drink?

__ Vai lhe fazer feliz assim? - A voz dela soava bastante triste.

__ Não tenho certeza disso.

__ Como sabe que isso será melhor? Estar se sentindo vivo, já não será o bastante?

__ Não se pode ter a perfeição, e ninguém garante que poderá ser sempre assim. - Falava de cabeça baixa. A voz de Celina estava tão triste e tão meiga, que Giovani se surpreendeu pensando no que ela dizia. Ele ficara imaginando se teria conhecido uma mulher que lhe agradasse, mas não lhe parecia a hora apropriada para falar com ela sobre esse assunto.

__ Ainda não cheguei a esse ponto, mas, se chegar conversarei com você. - Às vezes essa simples idéia de falar sobre si mesmo, o deprimia.

__ Não há necessidade, deixa para lá. - Celina parecia tão serena e positiva, que Giovani não quis atrapalha-la em sua reflexão. - Você agora está voltando a sua atenção para o mundo exterior. Faça o que for melhor para você, Giovani.







Capitulo 03



Despediram-se e Celina foi embora. Ele ficou pensando no que havia conversado e se perguntou por que estava se sentindo, de repente, tão triste por causa de Celina. Por que não a escutara quando falava, afinal de contas, fora ela que sempre tomara conta dele. Mas, isso não era tudo, absolutamente, e ele sabia. Havia mais, muito mais em Celina e isso o assustava demais.

Era como se os vapores de sua alma tivessem esvaecido lentamente nos últimos meses, e ele nem houvesse reparado, estava muito ocupado consigo mesmo, para perceber que os cuidados que Celina o dispensava eram mais fortes que um simples cuidar.



O dia sempre amanhece queira ou não queira, o tempo não Pará. Giovani bateu a porta de Celina e a fez despertar e como ainda era muito cedo, ela não tivera tempo de se repor, ainda de camisola, e ela foi até a porta para atende-lo.



__ Bom dia! Preciso que marque um encontro com Suzana.

__ Já! _ Nos olhos dela, Giovani viu uma melancolia que nunca notara antes. - Não me importa. Eu vou apanhar a minha agenda e ligar em seguida. Só isso? - Um bocejo sem vontade escapuliu.

__ Oh, desculpe me, você ainda está de camisola! Eu nem reparei quão cedo é... Espere, vamos tomar café, se arrume que eu vou até a padaria buscar o pão.



Giovani saiu e se esqueceu de perguntar se havia leite ou algo mais e voltou, mas antes de chegar até a porta, ele pode ouvir Celina soluçando.



__ O que foi Celina?

__ Nada! - Em sua mente ela pensava em perguntar-lhe se ele não achava que poderia ser feliz só com ela. Mas, ela não era egoísta a esse ponto. - Isso é bobagem, estou apenas feliz por você. Vamos tomar esse café que quero pegar a estrada cedo, afinal vou ver a minha família.

__ Vou buscar o pão, leite e mussarela... - Celina lhe sorriu por entre lágrimas e balançou a cabeça positivamente.











Celina que acabara de ler a poesia que Giovani ira inserir a personagem do livro e começou a lê-la em voz alta:



‘A gente chegou no dia em que podemos ter o que sempre buscamos, o nosso tempo para esquecer a dor e lembranças sujas que se misturavam com o que nós vivíamos e nos causava tanta tristeza.

Acho que não me lembro mais de como suportamos tudo para estar sempre em paz:

__ A boca fechada pela insegurança quase nos afastou e tirou a nossa identidade... Mas soubemos que estamos juntos e o caminho que seguimos nos leva onde queremos estar, deixando tudo que carregamos enterrado na distancia.

Chegou o dia para acreditar que tudo será eterno e novo, vem rápido e nos leva daqui. Ficamos perdidos e cegos quando a verdade ficou cara a cara, a gente sempre pensou que seria assim no final:

__ Um desespero por saber que talvez nunca permitissem os nosso viver, o modo como sorríamos e como sentíamos tudo era diferente. Mas estamos nos afastando de tudo que nos consumia e nos atrofiava. Sei que será impossível não lembrar de tudo isso.

Chegou o dia em que a fuga ficou para trás e só restou você e eu, e a certeza de que o nosso mundo não vai acabar. Podemos ir a qualquer lugar sem máscaras e sem saber se é bom ou mal:



__ Não precisamos nos arrepender do prazer contido e estamos tentando aprender o mesmo jogo que vocês e as pedras de castigos que nos atiram matam apenas o nosso próprio Deus, perdido entre o que temos para amar e o que vocês tem para se lamentar.

Chegou o dia da intervenção divina ir contra vocês, por tentar contra algo puro e honesto que ninguém quis sentir. Até que tomamos coragem para assumir a diferença e enfrentar o ódio vindo de vocês:

___ Com tanta indiferença a gente nunca se acostumou com essa ausência e arrastamos os nossos corpos na vã tentativa de não sentir. Por achar que nunca vimos isso passar em nenhum lugar e o tempo nos trouxe como bombas e bruxas’.





Desta vez a despedida não foi nada fácil, pois nenhum dos dois sabia ao certo como iriam se rever. Celina se agarrou a Giovani em lágrimas enquanto ele lutava para não se descontrolar.



__ Eu prometo, você vai voltar logo. - Era um lamento engrolado, ele não conseguia falar muito.

__ Eu vou tentar...Eu vou tentar de verdade. Não fique triste, divirta-se com o seu encontro. Pense nas coisas formidáveis que lhe acontecerá... Algo me faz acreditar que teu carinho e força não estão assim tão cultivados. Meu coração não quer descansar e fica em alerta, tentando me proteger dos erros que usamos por impunidade, quando a falta de tudo dar errado parece ter um gosto falso ou mesmo de pensar que a perfeição esconde seus defeitos. E não quero fechar os olhos e ser apanhada de surpresa, por você que não quer ficar e estar aqui como parte da minha vida. Você nunca foi constante e sempre sentiu medo de ser amado.

E por causa disso quis mesmo o fim das coisas e não quer mais sofrer de saudade ou tristeza parecidas. E nem quero tentar conhecer o outro lado do teu amor. Sei que existe um buraco entre nós dois e nada do que temos agora pode fazer com que tudo der certo. E não quero carregar mais esse coração apunhalado

com essa dor, eu não quero mais me acostumar. Dizem que estar perto é melhor que afastado, mas, vejo que só podemos estar longe para esquecer o passado.







Tudo que tivemos foi compaixão, quando todas as tentativas foram esgotadas. Você ficou com a parte boa da vida enquanto comigo ficaram só as magoas por querer algo que não existia mais.E sinto febre ainda se penso em você

Se eu pudesse tocar o teu espírito enquanto ele voa longe. Acho que teria uma chance de fazer tudo voltar a sorrir, mas, fico cada vez mais presa ao chão tentando caminhar lado a lado com o que ainda existe e tenho só o que me basta.

E só me falta a alegria que me foi roubada e levada embora, no dia em que você desistiu de mim.

__ Encaro a coisa por um prisma, que isso não será para sempre.











As horas que vieram após Celina ter ido embora, fez com que ele ficasse desesperado. De repente, ela não era apenas uma amiga e meio que ansiava por ela e sentia que uma parte mais vital de seu ser sendo arrancado de novo. Já sentira essa dor muitas vezes, e, no entanto, a cada vez, era sempre como se fosse a primeira.

De repente ocorreu a Giovani não saber onde a amiga tinha ido e subitamente se sentiu sozinho, um soluço lhe escapou. Ele estava se sentindo como uma criança, debruçou-se sobre a mesa e chorou de saudades de Celina. Prometeu a si mesmo como consolo que ligaria para ela tão logo fosse possível. Nesse meio tempo teria que agüentar era ainda pior pensar que ela pudesse estar sozinha, chorando também. Fê-lo desatar em lágrimas de novo e foi tomado por uma sensação de pânico, de desespero, um medo de ter falhado, quando a sua amiga pode pela primeira vez precisou dele.



Adormecido pelo cansaço de um dia aturbuido, Giovani ficou imóvel no sofá por horas e horas a fio. Até que foi novamente submetido a seu pesadelo, e quando parecia estar totalmente sugado dentro dele, a Campânia sou mais alto, do que a buzina do caminhão dentro da sua mente.



__ Oh Deus, você? - Ele mal conseguia abrir os olhos e apenas de short. Podia-se ver todo o corpo tremendo e suado.



Era Suzana, corpo esguio dentro de um vestido preto, curto, abusado em seu generoso decote, cabelos negros ao ar e um sorriso mágico no rosto.



__ Você está bem? Quer que eu chame um médico?

­­­­­­­­__ Não, tudo bem! Só preciso de alguns minutos. Por favor, sente-se...- Ele parecia estar totalmente perdido.

__ Resolvi passar aqui e parece que lhe salvei de algo terrível, alguma coisa lhe consumia. - Gritava para que ele pudesse ouvi-la de dentro do banheiro.







Suzana levantou-se e caminhou até a porta do banheiro e encostou a cabeça na porta e ficou em silencio, visualizando a cena, que acontecia lá dentro. Enquanto pensava ao som da água que caía do chuveiro.





__ Você não acha melhor ficarmos aqui mesmo, Giovani?

__ Do jeito que você está linda, seria um desperdício não mostrá-la ao mundo. - Esquivou-se, estranhando que ela estivesse atrás da porta.

__ Eu não me importo, afinal, estou vestida, mas você está aí dentro e nu. - Brincou ela.

__ Já não estarei em alguns minutos.



Giovani saiu enrolado na toalha e Suzana quase ficou sem voz, surpreendida pela visão do homem agora já refeito do pesadelo a que fora cometido.

__ Mesmo nunca desistindo de estar com você, eu nunca imaginei que pudesse chegar o dia de estar contigo e você só de toalha, na minha frente. E se eu lhe puxasse a toalha, o que seria?

__ Não faça isso, de forma alguma ou você iria se apaixonar por mim.

__ Apaixonada, eu já sou...Seria então, desapaixonar. Você não precisa ficar tão tenso, afinal, o seu cão de guarda não está aqui. Conta-me como conseguiu se livrar dela?

__ Cão de guarda?

__ É como Celina é conhecida. Sempre o afastando de tudo e de todos. Mantendo você sempre ocupado, com o seu trabalho. Mas, não posso me queixar, se não fosse por ela, eu não estaria aqui hoje.

__ Sempre gostei do seu humor, mas, por favor, não brinque com Celina. Ela não é nada disso e tudo que ela faz é o que eu peço. - Seco e ríspido, Giovani, nem a olhou nos olhos.

__ Sinto muito, já não está aqui quem falou...Vá se arrumar.





A noite se transformou num cemitério de palavras, e por mais que Giovani tentasse se concentrar no que Suzana falava, ele que sempre se fechara em seu normal, ali ficara estático, mudo e sem fôlego.

Pensava em como era difícil, estar ali com outra mulher, escutando um outro som de voz. Assim, não conseguia evitar as comparações que vinham surgindo em sua mente. Desde o pedido até as roupas e expressões que ela usava.



Giovani sabia que se adaptar ao novo seria uma luta constante, e ele não estava muito disposto a entrar nessa briga. Não conseguia ver nada que se interessasse ou que lhe chamasse a atenção. Pensava em Edith que ele queria que estivesse ali, e não tinha nenhuma intenção em seguir adiante.





__ Você não parece estar muito à vontade comigo. - Suzana parecia ler os pensamentos dele.

__ Está tudo bem! É que faz tempo que eu não saio e tudo está muito rápido e agitado.

__ Gostaria muito de acreditar nisso. Que possa ser apenas isso. Posso ver a tristeza em seus olhos - Completou.

__ Não olhe para eles, pois, sempre me dizem que eles são tristes.

__ E o seu coração?

__ Ah! Esse não está pronto.

__ E quando vais estar?

­­__ Sinceramente não sei. - A honestidade emitida era notável - Não quis vir aqui para começar um romance, acho que errei em faze-la pensar que teríamos algo mais.

__ Já não sou mais criança e sempre soube que você não tinha interesse em mim e não vim para força-lo a ter. Pensei que apenas se pudéssemos começar a ter algo vivo entre nós.





À vontade de tapar os ouvidos, gritar e correr dali era intensa, ele não queria escutar. Ele sabia que não podia anular a vida antes e que mudara de cidade, mas, que mesmo assim carregava as lembranças da mesma vida, só que de um tempo atrás. E apesar disso, ainda era o mesmo e não podia simplesmente esquecer de tudo que vivera.













Ele ficou ali parado e tocou-lhe a face delicadamente e com um gesto de carinho, falou baixinho:





__ Sinto muito!

__ Sei...Sei...

__ Venha, eu vou leva-la até a sua casa. Acho que já estraguei a noite. - Por um instante lembrou-se da frase que Edith sempre usava quando ficava chateada: ‘ Ninguém merece ““.

__ Sim, vamos indo.





Ao chegar em casa, Giovani sentou-se em sua poltrona, espalmou as mãos sobre o rosto cansado e pôs-se a chorar copiosamente. Enfraquecido pela passagem das horas. Ele permanecera ali, olhando para o teto como se quisesse ver imagens perdidas por á.

Giovani passara a viver como se Edith estivesse vivendo uma vida longe dali e sem ele. Essa certeza em sua mente lhe trazia um conflito muito grande. Imaginar que ela pudesse estar num outro lugar, levando uma vida, falando as coisas que costumava falar, rir das coisas que costumava rir, olhar as coisas que costumava olhar e sentir as coisas que costumava sentir. E lá estaria ela, passando os dias longe dele e isso não trazia sossego a sua dor.





Faltava vê-la sair de casa e lhe beijar a boca, vestindo braços e se perfumar em seu perfume e faltava olha-la e lhe sorrir e dessa forma lhe faltava tudo. Viver a sua vida e dar continuidade as coisas que seguiam mesmo sem a sua permissão era difícil como evitar a raiva que às vezes sentia por ela te-lo abandonado e seguido sem ele.

Agora todas as coisas vinham como novidade, musicas, novelas, filmes e programas de televisão. Era como se o presente tentasse de alguma forma apagar o passado e leva-lo embora, mas, Giovani sentia tudo isso como uma violação individual de seus sentimentos.











A dor se alojara dentro de Giovani e ele sucumbia em seu desespero por não ver ‘ as duas pessoas mais importantes de sua vida’ e por não poder estar mais com elas. Giovani continuava a viver do mesmo jeito que antes, não tinha nenhuma razão de mudar, nem nas roupas e nem no aspecto físico. Continuava a ler livros dentro de um espaço de tempo quase inacreditável e a escrever dois livros ao mesmo tempo. Talvez assim, para ouvir dentro de sua cabeça, as palavras de Edith: ‘você é louco!’



O dia amanheceu trazendo um sol tímido e sem força e arrastando as horas, contra o corpo fraco de Giovani que como um robô, permanecia deitado e de olhos abertos, quase surdo, mas, o telefone insistia em desperta-lo.





__ Pronto! - A voz rouca pelo dia sem dormir era notada.

__ Oi! Pela voz a noite não teve fim. - Celina mostrava um certo constrangimento em ligar tão cedo.

__ É foi uma noite longa, mas teve fim...

__ Divertiu-se? - A pergunta saiu como um raio, talvez por temer a resposta.

__ Foi um desastre total! Não consegui suportar a idéia de estar ali, era como se não fosse eu ou como se eu estivesse traindo Edith e você. E parecia que ela não conseguia ficar calada...

__ O que fez? Afogou-a no banheiro do bar?

__ Quase o fiz...Mas, eu não conseguia ouvi-la em quase nada do que ela falava, então decidi ir embora.

__ E ela, como reagiu?

__ Acho que ela entendeu. Ela deve estar decepcionada...

__ Ela vai superar...

__ Eu sou um desastre...

__ Não se culpe! Você apenas deu um mau passo. - Celina tentava acalma-lo.

__ mas eu não devia envolver as outras pessoas nos meus problemas...Não é direito. - A consciência lhe doía.

__ Ela é crescida e vacinada e sabe defender-se. Não fez nada por obrigação. Pare de ser culpar por tudo!

__ Você está certa! - A voz dele já mostrava mais tranqüilidade.

__ O que fará agora de manha?













__ Nada!

__ Então me espere que logo estarei ai, bem antes do almoço...

__ Assim será bom, pois, lhe conto pessoalmente a decisão que tomei. - Giovani parecia bem mais animado.

__ Que decisão? Espero que não seja surpresa!

__ Posso lhe adiantar que estou pensando em viajar para Teresópolis e ficar numa pousada por uns dias e fazer uma trilha que dizem ter lá e terminar um dos livros que estou terminando.

__ Por que se isolar?

__ Estou muito confuso em relação a minha vida e preciso me encontrar.

__ Mas não era se isolando que conseguirá faze-lo...

__ Quanto tempo não tira umas férias?

__ Você está pensando em me levar com você?

__ Claro que sim...Pensou que eu fosse sozinho? O que eu faria sem você?

__ Por que chegou a essa conclusão?

__ Em primeiro lugar, quero escrever um livro e em segundo lugar quero descansar um pouco. Não têm sido fácies esses dias e indo com você eu não estarei me isolando. O que me diz?

__ Você não me parece estar sendo uma boa companhia nessas últimas horas. - Celina tentava lhe dar um pouco de paz.

__ Já que concorda, pode ligar e marcar para amanha mesmo...

__ Eu não posso me ausentar por muito tempo daqui. Teresópolis fica no estado do Rio, mas parece que Marina fica na outra extremidade do mapa do estado. Posso ficar apenas duas semanas lá, já que tenho reunião com os agentes literários e editores no meio do mês.

__ Você vem e escuta-os e volta em seguida...

__ Nada é tão simples assim...Depois das reuniões preciso ficar para acertar todo o programa de lançamento... Esconde-lo de todos não é uma tarefa fácil.











Capitulo 04



Os dias anteriores não foram generosos em relação ao que se refere descanso e ele mal largou as malas no chão foi deitar-se. Celina havia reservado dois quartos com comunicação entre si, mas, Giovani não se deu o trabalho de averiguar. Cansado pelos dias sem dormir e pela pequena viagem, apenas colocou um short e ligou a televisão a fim de assistir o jornal das oito e deitou-se.

A noite apenas começara e lá estava o pesadelo de prontidão, parecia que o sonho apanhava-o toda vez quando ele estava exausto. Celina entrou no quarto dele que se mexia descontrolado e em movimentos rápidos, com o corpo molhado de suor. Celina apenas fitava-o em seu desconforto, temia acorda-lo e aguardava ao pé da cama que ele pudesse despertar sozinho de tal agonia.

Giovani abriu os olhos e com a visão ainda turva, ele pode vê-la de pé lhe sorrindo. Ela vestia uma camisola preta transparente e por não ter tido tempo de se trocar, entrara sem perceber que estava tão exposta. Giovani fitou-a sem dizer uma palavra sequer, mas o assombro estava em seus olhos, uma expressão perdida como se ele pudesse olhar e ver apenas o vazio.

Celina sentou-se à cabeceira da cama e aconchegou a cabeça dele em suas coxas e pôs-se lhe acariciar os cabelos, para acalma-lo e ele como se fora um bebezinho, permanecia quieto naquele instante a receber aquele consolo.



Giovani despertou já com o sol entrando firme pela janela e deparou com Celina quase nua adormecida ao seu lado; por uns segundos ele admirou a pele branca que a camisola preta fazia com que ficasse mais linda e olhando para os seios dela que haviam saltado para fora, ele sentiu vontade de toca-los, mas preferiu ficar olhando-os e logo em seguida encostou a face entre os seios dela e fechou os olhos como se fosse possível adormecer ali.

Celina acordou minutos depois e mesmo sentindo-se um pouco desconfortável naquela situação, não se mexeu. Para não acorda-lo ou para que ele pudesse acordar sozinho e se deparar com ela quase sem roupas.















Giovani nunca a tratara como filha ou irmã, ele sabia que ela era uma mulher e naquele instante sentia toda essa femilidade de perto. Com o braço em volta da cintura dela, ele ergueu a cabeça, apoiado na cama e a olhou nos olhos e como se tivesse despertado naquele instante, ela também retribuiu o olhar tenro. A mão de Giovani percorreu da cintura dela até a face e com a voz delicada, ele a agradeceu por te-lo socorrido. Ela já não se importava em estar ali seminua e sorrindo beijou a mão dele que estava em seu rosto.





__ Ou a gente retira o resto das roupas ou vamos parecer dois idiotas. - Argumentou Giovani sem resistir ao desejo de toca-la.

__ Que roupas? - Celina não escondia a vontade de fazer amor com ele.





Não havia recusa em Celina afinal, ela fora apanhada desprevenida durante o pesadelo dele e agora ali estava ela somando todo o tempo de admiração e carinho contidos em seu corpo. Mergulhava agora de cabeça no que o destino lhe aprontara.

Giovani não se continha de desejo e já não conseguia raciocinar, não conseguia ver além do que o momento lhe proporcionava. Beijou pela primeira vez de leve os lábios de Celina e outra vez de forma mais sôfrega, empurrando os lábios dela com força para trás, descendo sua mão alcançou-lhe os seios, que lhe despertara tanto tesão, o espremeu e apertou-lhe o bico, fazendo-a soluçar e desajeitado teve que ter a ajuda dela para se livrar da camisola e da calcinha que Celina usava e ela com habilidade, retirou também os shorts dele e assim, livres das roupas puderam se ver completamente pelados.





Celina o virou de barriga para cima e num giro rápido sentou-se sobre ele segurando-lhe as mãos por cima dos ombros e assim, pousando-lhe os seios na boca dele ora um ora o outro. Sem resistir ao fascínio daquela posição e como ela estava no comando, soltou-lhe uma das mãos e o encaminhou para dentro dela e o cavalgou por minutos, que lhes pareceram horas. Até que como um golpe de faca, ela jogou-se para trás e pronunciando sons ininteligíveis calou-se por segundos, até que deu uma risada gostosa, porem tímida.





__ você parece feliz. - Disparou Giovani.

__ E você parece satisfeito! - Emendou Celina.

__ Muito! Até que sim! Mas, acho que lhe devo algumas palavras...

__ Você não deve nada...

__ Devo sim! Você veio aqui me ajudar e agora me sinto um crápula...

__ E você acha que eu aceitei tudo isso por que? Achas que eu fui forçada? Eu sempre quis que isso nos acontecesse e desejei muito. - Completou a frase com olhos brilhantes e um sorriso aberto e totalmente franco.



__ Mas deveria ter acontecido de outra forma... - Tentava ficar com a cabeça erguida, mas sentia-se envergonhado por ter aproveitado a oportunidade.

__ Adorei tudo o que aconteceu aqui! - Celina que já era muito carinhosa, nesse momento era apenas ternura e desejo. Com seu olhar intenso.

__ Fico feliz que você pense assim e esteja feliz...Isso diminui o peso nos meus ombros.





Celina levantou-se e foi para o seu quarto, desejou deixa-lo em seus pensamentos. Giovani entrou no banheiro e subitamente lhe veio a imagem de Edith em sua mente e a idéia do ato que acabara de cometer, mastigava-lhe as entranhas e subia-lhe até a boca, como uma montanha-russa. Vinha um vomito, mas nada saia, apenas um som estranho.

Giovani ficou segurando-se na parede enquanto o seu estomago revirava-se todo e aquele estado de nervosismo durou quase uma eternidade, pois, em sua mente Edith o condenava e ele não queria ficar indiferente à presença de Celina depois do que lhes acontecera.





Chegou a hora de Celina retornar e assim deixar Giovani sozinho, agora ele tinha um pouco mais do presente para se agarrar.





__ Escuta Celina! Nesses dias em que você não estiver aqui, eu irei pegar aquela trilha da qual lhe contei e vou passar uns vinte dias a caminhar. Ficarei sem o celular e assim sem comunicação, mas não se preocupe, que eu estarei bem e desta forma tentarei me reencontrar; ativar a mente onde a dor e a solidão adormeceram a minha vontade de sentir. Ontem, eu pensei que pudesse se estender até esse momento, mas tive sucessivos momentos que quis fugir e desaparecer, para não olha-la nos olhos. Tornei-me dependente do meu medo e me acostumei aos conflitos, que não me deixam sentir. - A sinceridade nos olhos de Giovani era extraordinariamente visível.



__ Essa trilha é segura? - Celina tentara não dizer nada sobre os dois, mas demonstrava preocupação com os planos de Giovani.

__ Totalmente segura! Imagino que eu venha levar uns vinte dias, mas pelo envelhecimento que a minha alma causou ao meu corpo, pode ser que eu leve uns dias a mais.







__ Ficarei torcendo para que você reencontre o seu melhor e volte renascido e forte dessa busca que fará. Lembre-se que você é filho de Deus e que Jesus só ele poderá guiar os seus passos, e assim os leve até você mesmo. Você precisa chorar e chorar e depois de tudo, secar as lágrimas e levantar a cabeça. É difícil aprender a vencer o que nos machuca, o que nos fere, mas senão lutarmos contra isso estaremos presos a nós mesmos e assim jamais conseguiremos sobreviver. - Serena nas palavras e com os olhos de compaixão, assim Celina passara confiança a Giovani.



Despediram-se carinhosamente num abraço longo e silencioso. Giovani preparou-se para a sua caminhada e logo se pôs na estrada que o levaria até si mesmo.





O silencio daquele lugar invadia a cabeça de Giovani e entre morros e árvores, ele ia se misturando com aquela paisagem, caminhando lentamente pela estrada de terra, sem carros a buzinar e correrias, ali o tempo parecia estar em marcha lenta.

Dentro da cabeça de Giovani alguma coisa começara a faze-lo se aceitar, sentia-se tão pequeno, mas, tão importante e as mesmas perguntas que sempre rondavam a sua cabeça, agora pareciam calar-se diante daquele silencio.



Giovani sempre imaginava como Edith devia ter içado assustada no momento que vira o caminhão vindo em sua direção, mas, começara também a pensar que se Deus a pôs ali, era porque ela deveria estar lá. Lembrava o que Celina sempre o dizia: “Nenhuma folha caí de uma árvore, sem que Deus permita”.



Ele não queria que ninguém conhecesse o seu coração e se comunicava com ele de um lugar além da dor e em lugar algum o deixava. Assim, ele pensava em poder cumprir as promessas que fez a ela, a Edith. Enquanto caminhava olhava as fotos dela que pusera dentro da mochila e era como se colocasse o passado diante dele, sentia-se ameaçado com ele e agora ali diante do imenso nada, sentia que esses eram assuntos que ele não estava preparado para enfrentar. Alias, ele sentia que não estava preparado para enfrentar nenhuma tensão impactante.











E por isso ele se perdera em sua mente; ele podia trabalhar vinte e quatro horas por dia; suportar um calor de quarenta graus, ou um frio abaixo de quatro graus, mas não podia suportar o que o destino lhe preparara.



Andando e tentando deixa para trás todas as coisas que só lhe faziam mal, e essa era a última coisa que ele queria sentir e tentava buscar as boas coisas, as coisas que lhe faziam bem e começara a sentir-se mais leve e feliz e se concentrava pela primeira vez em algo real.



Uma chuva fina caia e Giovani continuava firme com a sua caminhada, assistia os pássaros se aninhando nas arvores, a espera de uma chuva mais forte, via-os e imaginava-os assustados e despreparados para enfrentar um temporal. Mas, logo depois de observa-los melhor, pode constatar que eles apenas se preparavam para a guerra da sobrevivência.

Ao amanhecer depois de tanta água que caíra durante a noite, pensara nos pássaros que pareciam desprotegido nas arvores e nem bem o sol saiu e lá estavam eles cantando e felizes, então Giovani sorrira e mais uma vez sentia-se leve.





Levantara e recolhera o seu material e tudo lhe parecia mais feliz. A caminhada que em suas primeiras horas pareciam estafantes, agora tornara um pouco menos cansativa. A leveza do vento batia-lhe de leve em seu rosto e enxugava-lhe o suor que escorria em seu rosto. E meio dia depois de começar a andar, veio-lhe a fome e o fez parar. Sentado debaixo de uma arvore de imensa sombra, pôs-se a olhar sempre em frente, como se todo o mundo tivesse ali diante dele.



Enxergava as imagens de seu mundo perfeito, as pessoas que ele conhecia bem, via-os conversando sobre suas vidas, e também conseguia se ver ali ficara preso àquelas imagens e sons. Edith surgiu e foi ter se com ele. Nervoso Giovani sabia que ela estava morta e confundia aquela fantasia com a realidade.





As risadas de Edith soavam iguais a antes e o seu sorriso estava encantador como sempre:



__ Parece assustado em me ver? O que estava fazendo de errado? - O tom incisivo mostrava a sua força.

__ Ao contrario... A sua presença sempre me traz paz e nunca pavor. - Conciliava os gestos e as palavras



Giovani sabia que aquilo ali era uma ilusão, um tipo de sonho, mas, não conseguia sair dali, era como se o seu espírito quisesse ficar ali.



__ Por que está de cabeça baixa? - O som meigo daquela voz estava mesmo em seus ouvidos novamente. Antes de responde-la Giovani ficou longos minutos olhando para a sua aliança no dedo esquerdo e não sentia o elo que sempre sentia e mesmo ali, ele sentiu-se enlouquecendo e não sabia o que fazer.



__ Quer que eu vá embora? - O tom não era triste, mas, Edith mostrava uma certa melancolia na voz.

__ Espere um pouco! - Falou ele com emoção.

__ Bebe, você precisa deixar de lutar contra você e deixar de recusar a aceitar. Bebe, você precisa continuar a sua vida sem mim...Deixe as lembranças para trás...O que a vida nos ensinou...Nos ensinou a morte...Tenha fé e volte a acreditar. - A mansidão de sua voz não trazia angustia ao coração de Giovani.



Giovani abriu os olhos e logo voltou a ver os morros e arvores que sempre estiveram ali. Tudo ia aparecendo; as arvores uma a uma; os morros um a um...E ele sem entender o que acabara de acontecer...Ele fitou a sua aliança e a retirou do dedo e a pôs em sua carteira, ele olhou distantemente dali, respirou fundo e se pôs na estrada.









Capitulo 05





Refletindo em seu silencio interior sobre a sua vida e o tipo de pessoa que se tornara, assim ele ia caminhando. Todo o trajeto era barulhento ao entardecer, com os pássaros retornando as arvores e desfrutando cada uma delas e sem disputas e aos poucos o silencio começava a ser notado. Sentindo-se cansado, Giovani também procurou um lugar para deitar e passar a noite.



Nesta noite em particular, Giovani temera dormir, mas não lutou contra o sono e mesmo cansado teve uma noite tranqüila de sono.



Dez dias se passaram e Giovani permanecera firme em seu propósito, caminhando por entre silencio e conflito, arvore e arbustos. A barba crescia com rapidez e a aparência cansada, não combinava com os passos firmes que ele dava.

A primeira vila só apareceria depois do décimo terceiro dia, mas, como ele estava mantendo um bom ritmo, não havia preocupação com água ou com comida e talvez o desgaste enorme que se imaginou surgir, tenha ficado para trás.



As pessoas simples dos vilarejos começavam a surgir ao longo do caminho, e cumprimentando-as uma a uma, Giovani sorria ao vê-los felizes, mesmo estando sob total pobreza, mas, a felicidade em seus rostos mostrava que o que menos lhes importavam eram qualquer tipo de riqueza senão a espiritual.

Giovani passou a conversar com cada um deles, e ria com eles e por instantes era um deles. Já não se importava com hora, com o sol ou com sede, mas, permanecera entre aquelas pessoas e conhece-las era um desafio.

Ele percebia que havia se anulado por tanto tempo e perdido essa sensação de estar presente, e ser realmente notado, sem o destaque ao qual se acostumara e sem o respeito pelo qual representava o seu papel como escritor. A maioria daquelas pessoas não sabia ler e talvez nem possuíssem televisão, mas, o aceitavam pelo simples fato dele estar ali e de falar com eles de igual para igual.













A cada Jorge, Herculano e Francisco que ele encontrava, ele se via neles, e gostava do que via e seguia sempre em frente. Deixava o vento forte lhe acertar e desorganizar os seus sentimentos, os mesmos sentimentos que julgara estar intactos e seguros.

A reviravolta em sua organizada e complexa forma de sentir passara a ser constante, e ele começava a deixar ir embora, os sentimentos que lhe aprisionavam o espírito.

Batia de frente com um Giovani contido, que retraído se omitia a certos sentimentos e a certos contatos físicos. Agora sentia na carne uma sensação que se desacostumara e isso lhe enchia os olhos de lágrimas.





De volta a silenciosa caminhada, Giovani parecia sem nenhuma ansiedade para voltar e os seus passos, agora, estavam mais suaves e lentos e a sua reserva estava mais cheia. No percurso de volta, as mesmas arvores; as mesmas pedras; os mesmos morros e os mesmos rios, mas, tudo parecia diferente, tudo estava mais verde e vivo nos olhos dele.



Giovani descera até o rio e foi banhar-se e lá permaneceu e de dentro d’água, ele ficara olhando o caminho que descera até chegar ali e sorria por ver que nem percebera a dificuldade que teve para alcançar a água.

Apenas foi descendo e descendo e assim chegou ao rio com a sua água gelada, que corria lentamente, mas, tão continuamente linda.



Banhava-se nas águas geladas e deixava que o rio levasse a sua dor embora e que todas as correntes que o prendiam pudessem também se afundar naquelas águas. Se o seu coração rejeitasse todas as emoções conflitantes que ele sentia, com batidas rápidas, certamente Giovani teria taquicardia crônica.

O pesar em seus olhos o transformava numa pessoa isoladamente perdida consigo mesmo. Ainda que ninguém pudesse ver em seus olhos, que todo aquele pesar era por estar ali, era por estar vivendo. Agora ele sentia que nem todo o tempo estava perdido, que podia sinceramente recupera-lo e ver o lado bom das coisas e simplesmente deixar ir embora o que não poderia jamais consertar.













Giovani sabia que havia alimentado a sua dor por tempo demais e todas as coisas que acabara destruindo jamais seriam as mesmas, mas, a esperança em recomeçar sustentava-lhe o árduo trabalho que teria para repor tudo que ficou para trás. Uma chuva forte veio por entre as arvores e em poucos segundos chegou até a ele que nem um pouco se mostrou contrariado. Sem demonstrar nenhuma reação de sair dali ou de fugir dos pensamentos que lhe eram acometidos. Nadava de um lado para o outro e ia organizando os seus sentimentos, a cada braçada e a cada fôlego e a cada olhada para frente.



Giovani não conseguia lembrar de sentir-se tão bem assim consigo mesmo, há tempos não aproveitava a sua companhia e sentia estremecer todo o corpo, ao menor pensamento, de como estava vivendo a sua vida. Da maneira covarde como se refugiava em si, e do afastamento que proporcionava as outras pessoas e do se egoísmo incomum e toda a negação de si mesmo.

A última vez que se divertira sozinho, estava tão obscuro em sua mente, que por mais que se esforçasse não aparecia nenhum momento ou indícios que isso pudesse ter acontecido, ao menos uma única vez.

Súbita era à vontade de se afastar de tudo que ele vinha sendo e certa era a clareza em sua mente em mudar tudo e que por dali em diante, teria uma vida melhor e seu brilho seria compartilhado com as pessoas que fazem parte da sua vida.





Já não há mais lamentações em seu pensar ou qualquer tipo de retraimento às suas atitudes. Giovani começava a aparecer diante de si nu de suas verdades e de sues propósitos e evidentemente sem incertezas. A visão de um homem e de seu coração tosco, tudo ia se diluindo e logo em seguida surgindo uma nova pessoa.

Inegavelmente a vida era a mesma, mas, a relação com que ele tratava-a fazia uma enorme diferença. Passara a viver sem afeto e com isso nada parecia ter um certo valor. Não questionava se algo era bom ou ruim, apenas evitava-os, o seu gosto era mantido sob o mesmo aspecto de suas idéias.







Não se importava com as pessoas ou as coisas em sua volta, achava que todos eram suficientemente crescidos e que seus problemas, assim como os dele eram pessoais e logo, teriam que resolve-los sozinhos. Por isso, jamais pensou em sequer ouvir alguém, até mesmo aquelas pessoas que puxam conversas em filas de banco, ele era sempre evasivo e furtivo.

Abandonava qualquer intenção de aproximação e nem sequer sentia-se culpado, ao contrario sentia-se aliviado e mesmo sem reter nenhuma satisfação pelo seu ato, ele apenas sentia-se bem e protegido.



Giovani olhava as arvores e pensava em quão tolo vinha sendo e também no quanto havia perdido, por ter sido tão sozinho; por ter evitado as pessoas; por ter atingido tantas pessoas e por ter sido silencioso e omisso.

Desacostumado a se proteger aos olhos dos outros, Giovani não tinha nenhuma idéia de como era visto pelos outros que o cercavam e sabia que isso não lhe dizia absolutamente nada, não era da sua conta. Pensassem o que pensassem, nada mudaria o seu jeito de viver ou de ver a vida.

As suas questões espirituais e morais estavam bem definidas, apesar de estar sempre escondido, não era uma pessoa ruim e nunca prejudicou ninguém, apenas a si próprio e em demasia. Em sua cabeça levantavam as questões óbvias, em como as pessoas o viam. Além do fascínio de sua profissão. Pensava em como pessoas e respostas bombeavam em sua mente, mas, nenhuma era tão precisa quanto à água do rio, que refletia a sua imagem totalmente desfragmentada, por causa da chuva.

Assim ele era visto, uma pessoa totalmente em incógnita, sem uma imagem que pudesse ser definida ou mesmo decifrada. Aquela distorção na água mostrava a ele o quanto ele era dispersonificado perante aos olhos de quem o via.

Ao invés de se assustar Giovani parecia sorrir e apenas continuava a olhar para o seu reflexo, como se pudesse ver um traço de alguma coisa, mas era impossível juntar tudo que estava espalhado. O melhor seria observar e deixar que aquela imagem voltasse ao normal, quando a chuva parasse.







A sensação de que a aliança ainda estivesse em seu dedo era imensa, assim como um amputado sente o seu membro que fora amputado. Giovani sabia que sentiria aquele anel por toda a sua vida. Ele já não tinha mais condições de parar o tempo, mesmo tendo falhado desde o inicio, insistiu para que ele ficasse preso em algum lugar de sua memora. Com a presença de seu eterno amor e com o tempo dos dois juntos e com os momentos sublimes de amor.





Perdera-se por isso, e castigara a sua vida, com um fardo que seria bem mais leve, se ele tivesse visto tudo como a um aprendizado e não como a um castigo que lhe fora imposto. Giovani ergueu-se de água, olhou para as arvores e pôs os pés na estrada e voltou a sua caminhada de retorno sem nenhuma fraqueza de animo e já não era mais irascível.

Sentia os pés pesados e tudo em sua volta parecia um grande alagadiço, onde não havia nenhuma parte seca, mas ainda sim, ele seguia sem parar. Molhado e pleno em si, parecia ter a situação em seu comando desta vez.

Estiou tão rápido que parecia não ter tido o temporal que alagara tudo em volta da estrada, Giovani prosseguia e o claro da noite trocava de lugar com a escuridão que a chuva causara. A natureza também tinha a sua mudança de humor.

Giovani não carregava mais o estigma de ser arredio e podia sentir a mudança de humor, mas, como a natureza, deveria compartilhar com todos em sua volta, e com a ajuda de todos, voltar ao estado normal. Ele sorria com encantamento enquanto tudo ia se solidificando e ao mesmo tempo se modificando dentro de si.



De volta a pousada, Giovani cumprimentou a todos os presentes e foi para o seu quart, apanhou o telefone e o som de ocupado não o intimidou e esperando, ele aproveitou para barbear-se e lavar-se.



As idéias para o seu livro estavam claras, bastaria pegar papel e caneta, que tudo estava pronto em sua mente, cada personagem, cada capitulo e cada página. Desta vez o sinal do telefone estava desocupado e a voz do outro lado o fez sorrir.







__ Celina, eu voltei! - Disse em tom de novidade.

__ Fico feliz por ouvir isso!

__ Eu voltei de verdade. Venha para aqui assim que puder...

__ Feche os olhos e quando os abrir já estarei ai do seu lado. - A voz de Celina suave como sempre.



A espera tranqüila era como chuva passageira, que servia apenas para revigorar e alimentar a vontade. Giovani pensava que aquela caminhada havia sido o melhor passo que já dera em sua vida e ressurgia das cinzas. Ao que ia pensando ia ficando sonolento, e logo o sono lhe alcançou e junto com o sono veio o peso dos duzentos anos que ia se despedindo daquele corpo inerte e vivo.





__ Acorda! Acorda! Celina subiu na cama e soprava as palavras no ouvido de Giovani.

__ Hum, acho que dormi lhe esperando, mas, como você disse se eu fechasse os olhos e quando eu os abrisse novamente você estaria aqui. - Com a voz rouca de quem acabara de acordar. Giovani falava pausadamente.

__ Viu, como eu não minto?

__ Sempre confio no que você diz...

__ Descobrir esse caminho, e quis vir aqui para poder fazer essa travessia, e é tudo mágico, pensei que eu estivesse perdendo o meu tempo, entrando por entre mato e folhas, mas, a solidão externa é mais compartilhada do que a solidão interna, essa a qual me amargurava.

Giovani ia falando com firmeza - e tudo foi ficando claro e eu me senti muito importante e ao mesmo tempo me senti muito pequeno e ao mesmo tempo me senti muito pequeno e senti que o meu mundo era muito mais importante do que eu.

__ Sente-se melhor agora?

__ Muito melhor! Quero acabar com a minha alienação e isolação.

__ O que vais fazer?

__ Estar presente e só.

__ O que você viu por lá?

__ Eu me vi...Era como se um enorme espelho estivesse o tempo todo diante de mim, mostrando-me como eu estava por dentro e devo admitir, não gostei nada do que eu vi.

Sei que pode parecer estranho, por ter sido tão rápido esse efeito e que eu sempre vivi só e você deve estar se questionando: “apenas por estar só ele se viu? E todos esses anos que esteve só, por que será que não aconteceu isso?”. Mas, Celina acredite! Quando decidi ir até lá e fazer essa travessia, eu já estava tentando me resgatar, mas, ali naquele caminho, sem pressa, sem cobranças e sem alinhamento de pensamento. Tudo ficou mais claro e mais simples; todo aquele silencio; as arvores; os matos; os rios e aquela estrada. Fizeram-me ver que eu estava errado, que não é estando sozinho ou se negando que eu me tornaria invisível ou insensível.

Não seria me fechando que eu fecharia o que sinto, e não seria fugindo da dor que eu poderia curar-me, mas, apenas se eu a enfrentasse de frente é que eu poderia saber como lidar com ela, já que todo esse tempo eu nunca soube o que realmente fazer e sempre me senti incapaz de sustentar todos esses sentimentos penitentes de conflitos que pairam sobre mim.

__ Sabes que eu sempre vou ajudar-lhe no que for preciso eu sou sua amiga... Ainda sei o gosto amargo do que senti depois de tudo que falamos um para outro.

Dividimos mais do que muito é era para durar por mais tempo, mas acabou como começou e ficamos no meio das nossas diferenças. Sem saber que nada podia mudar o tempo que ainda tentamos esquecer, por não acreditar que o caminho ainda era muito pouco. E que o chão ainda podia ser pisado por nós dois.

Impacientemente dissemos que acabar era o que queríamos e chegou o fim com um sabor cruel de quem não quer partir.

Quase sempre sei o que acontecerá adiante, mas se me perguntar por que chorei nunca saberei a resposta. Sem querer eu deixei que você fosse embora e poderia ter sido para sempre e quando tentei lhe alcançar já era tarde demais.

Ficou apenas o dia em que acordava desorientada e sem vontade de seguir em frente. Com tanta dor em mim não consigo aprender nada de bom aqui.





Faço sempre a tua lembrança com teu abraço apertado. Imaginando quando tudo será real de novo. Esperamos o momento certo para encontrar o que era verdadeiro e puro, mas perdemos tempo tentando aperfeiçoa-lo querendo mais do que era possível ter. E assim nos afastamos de um mundo perfeito que encontramos, onde a gente era criança e adulto de mentirinha e não acredito que eu deixei você ficar tão só assim, para me abandonar sem sangue e sem regras.

Quantas pessoas que teu amor já havia abandonado antes? Parece ser simples virar as costas e ir embora, mas o peso que fica é maior do que posso carregar. A sombra se disfarça de boazinha, mas só quer me deixar no escuro.

E me manter presa e longe de você

__ No momento...Desculpe-me interrompe-la...Mas no momento gostaria que você pudesse ser, além disso, gostaria muito que fosse minha namorada. - Giovani falava com tanta ternura que não deixava duvidas em suas intenções.

__ Claro que eu quero ser a sua namorada. - O sorriso de Celina era a extensão da sua vida naquele momento.

__ Então se arruma que nós daremos um passeio.



Logo Celina estava de volta e pronta dentro de um vestidinho rosa-bebe, que lhe deixava mostrar o quanto era esbelta, os cabelos louros soltos aos ombros e uma sandália branca de quase quinze centímetros.

Diante de Giovani segurando uma bolsa branca, estava uma mulher fascinantemente linda. Ele apenas a olhou e sorriu e com os olhos disse o quanto ela era especial e linda.



__ Vamos sair daqui antes que eu comece a desistir da idéia de passear, mas, antes espere que eu vou apanhar um caixote na cozinha...

__ Um caixote?

__ Claro, se eu quiser lhe beijar, terei que usa-lo para alcançar a sua boca.



Os dois deram uma boa gargalhada e logo se se entreolharam sérios.



__ No que está pensando? - Quis saber Celina.

__ Em como esse vestido lhe caiu bem. - Disparou.

__ Obrigada por te-lo me presenteado com ele. Agora sim posso notar o efeito que ele lhe causa. - Disse em tom erótico.







Capitulo 06



A maturidade daquele momento fez com que os dois se abraçassem e tivessem um contato físico caloroso, Giovani passou rápido para trás de Celina e a pegou com força pela cintura, puxo-a contra si e disparou.



__ Agarrando com você por trás fico pensando em quando vou conseguir “isto” que nesse momento quero demais. - Deu uma pausa e um puxãozinho em Celina contra si.

__ Você quer dizer... - A voz dela dava clareza que o seu rosto deveria estar todo ruborizado.

__ Sim...Penso em quando eu vou poder alcançar a sua bunda...Acho que precisarei de sapatos elevadores.



Novamente os dois soltaram uma sonora gargalhada e Celina virou-se e lhe ofereceu os lábios.



__ Contenha-se com isso, seu baixinho!



Celina era visivelmente mais alta do que Giovani e em cima daquele salto, com certeza que ele precisaria de sapatos mais alto.







A noite começara bem para ambos e dali se encaminharam para um restaurante com musica ao vivo, e a diversão fora completa. Giovani subiu no palco e no karaokê, pegou o microfone e soltou a voz com a musica ‘Fátima’ do Capital Inicial, surpreendendo-a e não pela sua voz, que era péssima, mas, pela coragem de subir ao palco e assim ele mostrava recuperação.

Num ímpeto Giovani desceu do palco pegou Celina pela mão e a levou até o palco. Vendo-os ali a espera da próxima musica. O DJ falou ao microfone:



__ Em virtude desse belo casal, vamos fazer uma homenagem ao filme ‘Duetos’ e mandar ver ‘Let´s Cruise Together’! Menina sinta-se a própria Gyneth Paltrow. - Gritou para Celina.







Ao terminarem de cantar aquela linda canção, os dois foram ovacionados por todos os clientes, que de pé os aplaudiram, mas pelo esforço dos dois do que pelo conjunto das vozes.



__ Agora vamos sair daqui, antes que o efeito da hipnose se acabe e eles comecem a nos tacar ovos e tomates. - Disse Giovani baixinho ao ouvido de Celina.

__ Agora não! De jeito nenhum! Vamos ficar, eu estou adorando ser uma estrela.

__ Meu Deus, eu criei um monstro.

__ Então beije me agora ou eu vou continuar aqui. - Desejo atendido.

__ Agora vamos descer até a praia...Seria muito bom ver o dia nascer do seu lado e tomar um banho de mar...

__ Mas, eu estou sem biquíni...

__ Não será necessário...Vamos a uma praia deserta e estando lá, poderemos ficar a vontade.

__ Fala serio!

__ Coloquei um biquíni no porta mala. Comprei na loja da pousada e o tamanho é P!

__ P! À parte de cima até que poderá entrar, mas à parte de baixo será pedreira para entrar.

__ Nossa, eu deveria ter comprado Pp...



Ao chegar na pousada, Celina foi experimentar o biquíni e os seios fartos ficaram expostos e a parte de baixo ficou tão pequena que seria tira-la de uma vez. Celina sorriu e foi mostrá-lo como ficara no biquíni e ele a admirou mais uma vez.



__ Você acha que devo sair assim? - Perguntou sem graça.

__ Bem, eu gostaria muito...Mas, é melhor ir lá na portaria e trocar por outro.

__ Melhor mesmo que eu vá. - Disse suspirando.

__ Acho que tem razão, vamos lá e você escolhe um outro.





Depois de trocar o biquíni eles pegaram a estrada e no caminho Giovani amarrou a cara.





__ O que foi? - Perguntou nervosa.

__ É que eu preferia o outro biquíni...

__ Seu bobo! Pensei que fosse algo sério.

__ Como posso ficar contrariado com você linda do meu lado.



Eles chegaram a praia de Içara e o dia já começava a mostrar a sua cara e nessa época do ano, o sol quente já podia ser sentido.

Sentados na areia ainda vestidos, eles apenas ficaram em silencio observando o mar e a praia deserta.



__ Vamos entrar no mar? - Convidou Giovani.

__ Acho que deveríamos entrar nus. - O tom da voz de Celina era malicioso.

__ Não há ninguém num raio de 01 km...

__ O que estamos esperando?



Sem roupas e sem testemunhas além do mar, eles brincavam, correndo e rolando abraçados pela areia.



__ Fique parada ou vai se arrepender quando eu pega-la. - Falava ameaçador.

__ Devo avisar-lhe que além de ótima corredora, eu também sou eximia nadadora.

__ Oh não, quem mandou eu me meter com uma atleta. Mas, eu vou ter que arriscar...Venha aqui! - Partiu em disparada atrás de Celina que entrou no mar e logo tomara uma certa distancia de Giovani.



__ Venha seu falador, me alcance, se queres me pegar...

__ Estou indo...Estou indo...Hei...O que é isso que se prendeu em minhas pernas...Acho que é uma rede de pescador...Meu Deus! - Giovani parara de nadar e afundara e logo voltara a tona. Celina veio desesperada ao seu encontro, sem desconfiar ou ver o sorriso maroto que ele tinha em seu rosto.



__ Ah, como é que vais fugir agora?

__ Seu mentiroso, me assustou!

__ Você pode ser uma ótima nadadora, mas eu sou um ótimo ator e onde estávamos mesmos? Ah sim, eu disse que quando eu lhe pegasse, você se arrependeria...

__ O que vais fazer!



Antes mesmo de responder Giovani a trouxe para mais perto de si e a levou até onde pudesse alcançar o chão com os pés e ali a segurou pelas coxas e se pôs entre elas. E erguendo-a pode penetra-la lentamente com movimentos suaves, até que o prazer o fizesse perder o ritmo e o romantismo e o desejo o forçasse a ser mais rápido e apressado.





Celina não demonstrava estar preocupada com nada além de sentir e o mordia os ombros, a boca e o pescoço e gemendo e apenas tentava prolongar o prazer, que era a sua única vontade, mas, logo que Giovani começara a deixar-se ir. Celina não conseguia mais segurar aquele momento e se deixava ir também.

Exausto por estar dentro dágua, foram deitar-se na areia e o sol que envergonhadamente os assistia por trás das nuvens, como se quisesse cobri-los e lhes trazer uma coberta de sombra e assim lhes trouxe também um sono leve e merecedor.



__ Hei, acorda...Celina...Vamos acordes! - Falava mansamente.

__ O que foi onde é o incêndio? - A voz totalmente rouca de quem acabara de acordar.

__ Celina, é hora de retornarmos.

__ Sim, vamos sair daqui antes que eu e acostume a não usar mais roupas.

__ Seria linda vê-la sempre nua.

__ É acho melhor irmos, você já está com idéias subversivas.

__ Espere um pouco e veja...

__ O que?

__ Não há ninguém aqui, apenas eu e você...



Nem terminou o que estava dizendo e deu-lhe um beijo em suas costas e pôs-se sobre o corpo relaxado de Celina, ele apoiou as mãos na areia, entre os ombros dela, e pôs-se a beijar ora as costas ora o pescoço e logo que fez com que Celina começasse a ficar com a respiração ofegante; percorreu com a língua do pescoço dela até as suas coxas; e quando lhe deu leves mordidas nas nádegas dela; fez novamente Celina gemer e desta vez um pouco mais alto. Giovani sentindo que tocara numa parte sensível, colocou uma das mãos por baixo da cintura dela e a fez erguer; quase a colocando de joelhos e sem conseguir controlar a língua, passou a lamber e pressionar a língua em toda as nádegas dela e forçando como se quisesse entrar ali, Giovani se encaixou por trás de Celina e num golpe só, penetrou-a por trás.

Celina rebolava incansavelmente e giovani apenas ficava imóvel e começava a deixar sair de si todo o prazer que ainda estava preso e ela recebendo esse prazer se mexia como uma louca, até que o prazer final a atingia fundo. Deixava assim que o corpo caísse na areia, junto com Giovani que ainda deitado em cima dela, dava-lhe os últimos golpes.



__ Você nunca acaba?

__Ainda não...- Ambos riram e deixaram que os corpos relaxassem de vez. - Celina não temos todo o tempo do mundo. - Celina o acalentava.- Isso será sempre como se fosse a ultima vez e quando eu fizer isso de forma medida, será a ultima vez.

__ É que parece que você não quer terminar mais e mesmo que já esteja vencido, você continua como se estivéssemos começando. - Explicou.

__ Esse é o meu espírito que não percebe, que esse corpo não tem a mesma força dele, e pensa que pode força-lo.

__ Eu acho ótimo e espero que seja sempre assim, que me tenhas como nesse momento. Para mim isso é uma grande prova que me desejas. - Sempre sendo honesta e inteligente.





Já na pousada fazendo as malas, eles iam recolhendo tudo e com as malas prontas. Giovani parou e fitou pela janela a paisagem lá fora.





__ Foi ótimo ter vindo aqui, Celina. Eu não soube o que fazer com a minha dor e como todos que tentam fugir do que lhes incomodam e procuram algo para usar como fuga; eu simplesmente fugi em mim mesmo e com o passar do tempo, tudo estava ficando chato demais e insuportavelmente solitário. Mas, eu já não sabia como sair dessa situação e por mais que eu pensasse, já não tinha forças para evitar e fugia e fugia.

Atolado em mim e sem vontade, ia sendo manipulado por uma força que não vinha de mim. Tudo era chato e sem vida e só me interessava a coisa, que eu poderia fazer sozinho ou sentir sozinho. Isso já era uma dependência interna e isso me enfraquecia e me deixava pequeno diante de todas as outras coisas e coisas que eu sempre gostei e diante de lugares que eu sempre gostei de ir e que me fazia feliz antes. - Parou de falar e por uns segundos olhou pela janela e prosseguiu - Às vezes, eu cheguei a pensar em largar tudo e ir para longe, muito longe, onde ninguém me conhecesse e de lá não sair nunca mais.

__ E por que não o fez?

__ Porque de alguma forma, eu ainda tinha uma força que não deixava que eu tomasse essa decisão.

__ Essa força...Você sabe o que é?

__ Penso que deva ser o meu guia espiritual, que me envia força e fé...Acredita nisso?

__Claro que acredito. Acho que se você chegou até aqui e de alguma forma conseguiu enxergar tudo com clareza, penso que seja isso que Deus queira, e Ele não o deixou sozinho.

__E se agora eu vejo que posso me recuperar. Deve ser que o eu passei seja para o meu progresso e isso diminuirá a minha conta futura.





__ Ainda bem, que seja assim. Você merece essa paz que está sentindo.

__ Celina escute com atenção o que eu vou lhe dizer: ‘Encare a realidade e por mais dolorosa que ela possa ser, encare-a e nunca fuja dela. Suporte a dor com resignação e Deus lhe Dara alivio em seu peso e nunca faça o que eu fiz e é isso que eu lhe peço de coração’...



Falou com um toque de desafio, como se estivesse acostumado a que lhe dissessem que era assim.

__ Sei o quanto tudo isso o fez sofrer - Celina dissipava a tensão com palavras carinhosamente bem colocadas e se posicionava bem em frente de Giovani para que ele assim pudesse olha-la nos olhos.

__ Mas do que sofrer; o que é inerente é o que você vê; isso que torna tudo sem vida - Um jeito reservado surgia em seus olhos e por uma fração de segundos, ele acreditou no que acabara de dizer.

__ Você não está mais na posição de abatimento - Olhando-o cautelosamente e com carinho, Celina era simplesmente metódica e amiga e até os movimentos de suas mãos transmitiam calma a ele.

__ É... Eu quero dessas feridas esquecer - Giovani dissera isso com um sorriso na face, mas as palavras tristes desconcertavam a exatidão daquele sorriso.

__ Sabes o que será preciso? Aumentar a sua auto-estima e receber tudo isso que lhe aconteceu como um aprendizado - As palavras atingiam em cheio o coração de Giovani.

__ Sei...Sei...Farei todo o possível para que tudo isso me sirva como crescimento - A voz de rasgava a sua garganta.

__ Você agora está no caminho certo e logo estará bem.

__ Sinto-me melhor - Giovani já não sentia o sentimento ambíguo e sabia separar o que antes lhe fizera mal e o que agora o faz bem.

__ Tudo só dependia de você, mas eu nunca desisti de você. Eu sempre acreditei que chegaria o momento em que você mesmo com os olhos fechados, pudesse ver tudo com clareza - Sempre demonstrava sinceridade no que dizia e suas mãos faziam carinho no rosto de Giovani.

__ Sou mesmo agradecido pela sua coragem.

__ A coragem de acreditar vinha de você e eu sabia que essa depressão teria um fim - Os seus olhos brilhavam e a sua voz saia derretida.

__ Ainda bem que tive você nesse momento, e sei que cada dia que passa, tudo vai ficar melhor - Disse com um sorrisinho divertido e seus olhos se iluminaram de novo. De um jeito que mexia dentro do coração de Celina.







Celina puxou-lhe a cabeça e o beijou com ternura e carinho.



__ Vamos antes que eu desabe em lágrimas - Com os olhos totalmente marejados, Giovani ainda mantinha o sorriso cativante e com os braços para trás esperava por um sinal para apanhar as malas.





Na descida da serra, Giovani tentava se concentrar na estrada e em seus olhos já não existia aquela dor que sempre o acompanhara. Estava com um semblante mais sereno e fortalecido, era como se ele tivesse encontrado a sua paz.

Os pensamentos dele já não se limitavam em seus problemas, e podia-se ver claramente que algo mudara, a sua chama estava mais acessa e seus olhos bem mais vivo.







__ Gostaria de parar lá embaixo para comprar um copo dágua...

__ Claro!

__ Quer alguma coisa, Celina?

__ Não obrigada por perguntar!

__ É que estrada sempre me dá sede.



Estava bem claro que Giovani não se incomodava com a presença de Celina e um sopro forte levava qualquer pesar que pudesse surgir. Bem acomodada na poltrona, Celina reclinou e pegou no sono. Seu vestido curto deixava que fosse vista toda a beleza de suas pernas e Giovani sorria e com os olhos a admirava gentilmente em silencio.

__ Durma, que você está linda - Disse-lhe baixinho tocando-lhe as coxas com as pontas dos dedos.

__ Você quer é ver as minhas pernas, não é?

__ Melhor ficar olhando as suas pernas, do que dormir também e bater com o carro.

__ Mas, se você não se concentrar na estrada e ficar me olhando vais bater do mesmo jeito - Disse tentando puxar o vestido para cobrir-lhe as coxas e tapar a nudez parcial.

__ Que pena, vais cobrir o meu colírio, era isso que estava me mantendo acordado, agora eu vou ter que parar o carro e beija-la.



Capitulo 07



Giovani freou o carro e parou no acostamento e logo em seguida deu-lhe um beijo ardente em Celina e quando ela se entregou, Giovani pôs a mão esquerda em sua coxa direita e subiu até o seu quadril.





__ Hei! Estamos numa rodovia federal, podemos ser interceptados por policiais e ai como nós iremos nos explicar?

__ Simples! Basta dizer que estamos apaixonados - Com um olhar safado, ele arranjara uma desculpa para continuar fazendo as sua caricias nela.

__ Não seria melhor se descêssemos do carro e entrássemos por entre essas arvores e rasgássemos as nossas roupas e fizéssemos amor, deitados no chão, como dois animais? - A expressão de moleca não combinava com o que estava dizendo, até que Celina começou a rir sem parar.

__ Ah, eu pensei que fosse sério - Disse baixando a cabeça em tristeza e decepção total.

__ Eu não acredito que você pensou que fosse sério - Disse tentando ficar séria.

__ Sei lá, você é louca...

__ Louca?

__ Brincadeirinha, você é normal - Giovani começou a rir e abraçou-a gentilmente, retirando a mão da coxa dela.

__ Por que tirou a mão daí? Eu já estava quase acreditando na minha idéia de irmos lá e...

__ Acho melhor dar a partida nesse carro e se mandar daqui.







Celina ria desesperadamente enquanto se ajeitava na poltrona e tentava parar de rir.



__ Hoje você está com um humor contagiante.

__ E vou estar amanha e depois de amanha e depois e sempre - Lhe cutucou as costelas com o dedo indicador e o fez dar um salto na poltrona.

__ Não me digas que sente cócegas?

__ Cócegas? Não! Nós apenas sentimos cócegas até os onze anos, depois disso passa a ser tesão.

__ Que conjectura sinistra!

__ Vais me dizer que sentes cócegas?

__ Claro que sim - Olhava-o com espanto.

__ Onde?

__ Nos pés; na barriga; nas costas; no pescoço; na cabeça e nos cabelos - Suspirou e ficou pensativa e com os olhos esperava que ele dissesse alguma coisa que pudesse explicar porque não acreditava que alguém depois dos onze anos, não pudesse sentir cócegas.

__ Bem... - Iniciou a sua explicação - Acontece que nos pés seja possível, mas, dependendo de como for aplicada a tentativa de fazer rir. Agora na barriga; nas costas; no pescoço; na cabeça e nos cabelos. Fica evidente que jamais será cócegas. Imagine que se eu pusesse as mãos e alisasse a sua barriguinha, com as pontas do dedo, e enfiasse a mão dentro do de vestido, você sentiria cócegas ou tesão?



__ Tesão! Respondeu de imediato.

__ Viu! Como posso explicar!

__ Mas, desse jeito fica fácil.

__ De outro jeito não existe. Só há um jeito de fazer cm que sintas tesão, é metendo-lhe a mão nas partes que você é sensível.

__ Não vou argumentar mais...

__ Por que?

__ Porque pretendo estar com você por muito tempo, e se eu pensar no que acabou de me dizer, terei que pensar seriamente no assunto.

__ Você quer ficar comigo por muito tempo?

__ Para sempre!

__ Olha...Como eu vou ter que lhe fazer cócegas...

__ Seu bobo!

__ Também quero você comigo pela eternidade.

__ E não pense que vais conseguir o que quer de mim com cócegas, que agora já sei como és malicioso.

__ Você vai adorar a minha técnica...

__ Tens técnica?

__ Você ainda não viu nada - Abriu um sorriso e olhou para frente.







Celina recostou-se na poltrona achando graça do lado humorístico de Giovani. O caminho foi rápido, novo e divertido.







Ao chegarem em casa, Giovani ficou sério temporariamente e começou a falar:



__ O que achas de voltarmos a nossa cidade?

__ Seria maravilhoso! Sei que tudo está lá e ficar aqui ou lá não faz diferença para a nossa profissão.

__ pensei nisso também, mas, pensei me nós dois e em você em particular, a sua família está em Capri e você estará mais oportunidade de estar com eles.

__ Obrigada por pensar dessa forma.

__ E o nosso trabalho, será resolvido sem correrias. Eu sempre a fiz se deslocar com hora marcada, e se estivermos lá, poderemos juntos marcar e desmarcar com os abutres.

__ Que maravilha!

__ O que é maravilhoso?

__ Você! - Com a cabeça inclinada para o lado, olhou-o e viu a honestidade em seu olhar.





__ Se vamos morar juntos, até que se corra os papeis para casarmos...

__ Casarmos?

__ Sim, casar!

__ Não sei o que dizer...

__ Digas que sim e só...

__ Sim, sim! - Pondo-se de pé e colocando as mãos nos ombros dele, o beijou-lhe a testa.

__ Graças a Deus! Pensei que você fosse achar que ainda era cedo - O som da sua voz continha emoção.





__ Jamais pensaria em ser cedo, pois, eu sempre estive com você e parece que isso já faz parte da minha vida há tempos.

__ Que bom que você me agüentou e ficou...

__ Como eu disse, eu jamais desistiria de você.

__ Ainda bem que eu estou aqui para recuperar do seu lado e eu quase estraguei tudo saindo com a Suzana.

__ Não me lembro disso...

__ Sinto muito...

__ Eu apostei tudo quando você me disse que sairia com ela, eu quis dizer, gritar o que eu sentia e sabia que não tinha esse direito. Agüentei e esperei calada e não sabia o que eu faria se você tivesse dormido com ela - Havia apreensão em sua voz.

__ Que tolo eu fui fazer isso...

__ Deixa isso para lá, já passou...

__ É! - Concordou com ela.

__ Mas, não repita isso nunca mais. Aceitei essa bobagem sua...Agora eu corto o seu pinto fora - A gargalhada saiu forte da garganta de Celina e tomou toda a sala.

__ Recado entendido. Alto e claro.

__ Me abraça e me beija...



Celina estava sentada sobre as pernas dobradas, e Giovani teve que se abaixar para beija-la. Ela riu e cm suavidade o aconchegou por entre as suas pernas e o envolveu com carinho.



__ Acho que lhe beijar nessa posição, será um pouco difícil. - Giovani não conseguia tirar os olhos dela e sabia que finalmente estava diante de uma mulher, que estaria com ele por toda a vida.

__ E se eu deitasse?

__ Seria muito melhor...

__ Então... - Soltou-se com suavidade dos braços de Giovani e deitou-se no chão.

__ Eu jamais vou me cansar de você - Celina riu da frase, fitando-lhe o rosto.







Celina era a mulher que certamente o preenchia com o seu valor, com a sua força e com seu carinho. Ela era sem duvida, uma mulher forte e decidida e que era a mulher dos sonhos de giovani.



Celina balançava a cabeça e o cabelo dela estava preso num coque apertado em forma de oito na nuca, preso por um lápis e com um olhar muito atraente e ao mesmo tempo sensual e meigo, enquanto sorria para Giovani, com aqueles olhos verdes.





__ Acho que estou ficando apaixonada demais por você, minha menina.

__ Espero que seja o bastante - Concluiu sem tempo de ver que Celina estava de cabeça baixa.

__ Você está se tornando muito exigente.

__ Só quero que o teu sentimento seja forte, para me suportar.

__ Você não é tão mais chato do que eu acho que vamos nos dar bem - O sabor que transparecia da imagem de Celina era encantador e mágico.

__ Sim, já estamos nos dando bem - Celina se encaminhou até a porta e fez uma posse de menininha - Enrubesceu com o amor que sentia e baixou os olhos. Sentia-se encabulada de admitir que se passava em sua mente.



Com inocência e paciência Giovani foi ao seu encontro e segurando-lhe a mão levantou a cabeça dela e a olhou nos olhos.

__ Venha, vamos descansar e logo mais vamos a um restaurante. Por agora vamos descansar um pouco - Carinhosamente a conduziu até a cama, e aninhou-se ao lado dela e ficou-lhe fazendo cafuné e cantando para que ela pudesse dormir.



À noite já arrumados, eles começaram a se preparar para sair. Celina usava uma blusa branca de rendas, com mangas cumpridas uma sai de linho azul-claro. Giovani com jeans e camisão verde e tão grande que o engolia e de tênis.





Ao sentar na poltrona Celina percebera que Giovani tentava não fitar a fenda na saia dela, de onde as pernas bem-torneadas que apareciam e que eram alvo dos olhos dele.





Antes que Celina levanta-se dali, Giovani com os olhos voltados ao chão, e tentando disfarçar o seu interesse no que via, ele elogiou-a:

__ Você está linda e mágica.

__ Obrigada! Você também está lindo.





Giovani preocupado com Celina em relação à bebida e ele tentava evitar que ela bebesse, mas, sempre havia um motivo em que ela conseguia burlar tal vigilância e se alimentava de seu vicio, que aos poucos, crescia e a fazia diferente.

Celina não deixara isso afetar o seu trabalho, mas, agora ela estava sempre à disposição do álcool, e isso se tornou um fator preocupante e só agora que Giovani passou a perceber, que a sua amiga não estava encontrando forças para se desvencilhar de algo que começou sem ter sido notado ou disparado um alarme de alerta.



__ Vamos nos preparar para a mudança. Logo estaremos indo de volta a Capri e deixando essa cidade para trás. - Disse Giovani em meio a um sorriso maroto.

__ Parece que você está querendo muito sair daqui. Ainda nem amanheceu direito...

__ Não seja preguiçosa e levante-se daí! Que logo chegará o caminhão da mudança e será melhor estarmos prontos.

__ Eu já liguei para Capri e a casa já está pronta nos esperando e deixei preparado que dois caseiros viessem para cá ainda hoje á tarde e o caminhão só virá as duas da tarde e como eles apenas levarão as coisas de uso pessoal, então, não temos que nos preocupar.

__ Sempre eficiente!

__ Que tal calar a boca e deitar-se ao meu lado!

__ E mandona também!

__ Acho que vou escrever algumas linhas lá na sala e depois lhe trago um café bem gostoso.

__ Assim está melhor! - Celina virou a cabeça para o outro lado e fechou os olhos.









Giovani foi embora do quarto e da porta virou-se e deu uma boa olhada em Celina que deitada de lado não percebia que ele ainda estava ali. Fechando a porta lentamente para não fazer barulho e não despertá-la, assim ele saiu do quarto e foi para a sala e sentado permaneceu olhando pela janela.





__ Por que não vem e fica quietinho na cama comigo? - Celina entrara silenciosamente a sala, quase nas pontas dos pés e enrolada apenas num lençol, envolveu-o por detrás da poltrona e o beijou a face.

__ Difícil vai ser ficar quietinho diante de você apenas nesse lençol...

__ Se o lençol lhe incomoda posso deixa-lo aqui! - Celina passou a frente de Giovani e abriu os braços suavemente para que o lençol caísse sem pressa ao chão.





__ Já me convenceste! - Disse Giovani levantando-se rapidamente como se Celina pudesse desaparecer dali, mas, logo em seguida retornou a poltrona - Deixe-me admira-la mais um pouco aqui, nua no meio da sala.

__ Espero que não queira mudar de profissão e querer ser pintor. - Disse Celina sorrindo.

__ Acho que um pintor ficaria encantado com a perfeição do seu corpo e com a beleza que emana de ti. Esse frescor e essa volúpia que sai de você me faz sentir tamanho desejo, que nem posso lhe explicar porque só agora percebo e sinto tal sentimento.

__ Teu coração foi aberto e eu sinto tudo isso que sentes também. Assim é a força que nos atrai um ao outro. - Celina tentava explicar o inexplicável.

__ Vamos antes que eu me derreta todo...

__ Sim, eu quero que derretas dentro de mim. - Ela se aproximou dele e sentou-se em seu colo e o beijou o pescoço e depois o peito e guiou-o para dentro dela e o fez suspirar e gemer.







Os dois deitaram no chão e ali permaneceram até que à tarde os alcançasse e demonstrando nervosismo, Giovani e Celina levantaram e começaram a rir.



__ Preciso ir lá em cima retirar a antena! - Disse ele colocando o short e quase caindo.

__ Por que vai retirar a antena?

__ Porque quando viemos para cá, eu trouxe a que estava lá, já que a daqui estava com defeito e eles não podiam conserta-la antes de nós nos mudar, lembra?

__ Claro! Eu vou com você lá em cima! - A saia de Celina ainda estava sob a mesinha da sala. Ela a apanhou e vestiu-a em segundos.

__ Ir lá em cima com essa saia pequenina? Acho que deixarei você subir e vou ficar aqui debaixo assistindo a tudo de cima do muro.

__ Pará de ser infantil!

__ Tudo bem!



Giovani retirou a antena e desceu com Celina que assustada com a peripécia que ele acabara de cometer para chegar até a antena.



__ Nunca mais faça isso! Se quiser voar entre num avião, entendeu?

__ Deixa comigo que jamais farei isso outra vez! Agora vamos que eu vou desmontar o codificador lá embaixo, para não esquecermos dele.

__ Todas as coisas que vamos usar devem estar prontas, que ao chegar o caminhão, eles trarão as caixas.

__ Ainda temos um tempo, não estamos tão atrasados, que não podemos dar uma olhada para aquelas montanhas lá adiante. - Disse se aproximando de Celina e abraçando-a e apontando com o indicador as belas montanhas que se encontravam com o céu. E de longe tornavam uma visão celestial, uma natureza divina.





Capitulo 08



Após retornarem a Capri e de volta de uma noite divertida e cheia de encantos, e sem formalidades tanto Celina quanto Giovani começaram a descobrir que juntos se completavam, alias, apenas lhes faltavam oportunidades para que eles pudessem juntar as peças do quebra-cabeça, que lhes fariam ficar juntos.

Reunidos na sala e já com as malas desfeitas da viagem, eles planejaram como seria o retorno ao trabalho e depois de vários telefonemas, tomaram um café e partiram rumo a cama.



__ Amanha teremos uma entrevista para a televisão. - Falou Celina entusiasmada.

__ Mas, logo estaremos livres... Mesmo que seja por uns meses ate o próximo livro. - Justificou Giovani - Onde será a entrevista?

__ Na Rede Alto Vale!

__ Quem será o entrevistador?

__ Acho que Belizário Ribeiro...

__ Esse não seria o irmão da Suzana?

__ Eh mesmo! Ela tem um irmão jornalista aqui nesta emissora...

__ Espero que não seja uma entrevista chata, com as perguntas de sempre. Tomara que ele tenha senso profissional e sensibilidade.

__ Depois da entrevista teremos que ir ate a redação para entregarmos o original para o editor, que estará nos aguardando.

__ Bem, e depois vamos aproveitar para não fazermos mais nada durante todo o final do dia. - Emendou Giovani.



Na entrada da emissora, Celina ainda conversava com alguns editores, quando Belizário chegou e ao vê-la, ele foi ao seu encontro para dar detalhes de como seria a entrevista.



__ Com licença! Chamo-me Belizário e disseram-me que você sendo a secretaria de Giovani, que eu tratasse sobre a entrevista com você, importa-se? - Disse pausadamente.

__ Sim! - Olhando-o nos olhos, Celina tentava reconhecer um pouco de Suzana naquele homem, mas, a única ligação a ela seria mesmo o parentesco. Ele era um homem com feições de homem e não lembrava muito de Suzana, apenas os olhos continha alguma semelhança. Um olhar agudo e direto e com franqueza.

__ Gostaria de acertar alguns detalhes sobre a entrevista. Existe algo que gostaria que fosse acrescentado ou que não fosse tocado durante a entrevista?

__ Não! Não há nada! O que você fará?

__ Apenas farei perguntas sobre o novo livro e devo acrescentar apenas poucas perguntas sobre o nada em particular. - Ele tentava ser profissional e não queria ser bisbilhoteiro.

__ Tudo bem, faça do seu jeito e tudo acabara dando certo. Giovani esta no camarim e em seguida eu os encontro no estúdio.

__ Obrigado você foi muito gentil! Exatamente como me disseram que seria. - Tentava ser gentil ao falar.

__ Obrigada! - Agradeceu um pouco sem jeito, com os olhos rutilantes.

__ Ate daqui a pouco então!

Após a entrevista eles foram diretos a editora, e de lá foram para casa. Giovani parecia feliz enquanto Celina parecia exausta.



__ Venha aqui que eu lhe farei uma boa massagem. - Convidou-a com ar de moleque querendo aprontar alguma travessura.

__ Assim eu vou me acostumar mal...

__ Acostume-se! Mas, deixe que desse mal habito eu cuido e me encarrego de vicia-la...

__ Você não esta se referindo a bebida, esta?

__ Disso trataremos depois... Agora a minha vontade será de relaxa-la...

__ Que homem bonzinho que eu fui arrumar...

__ Para ter esse corpo lindo, esbelto, relaxado e nu diante de mim, vale um pouco de sedução...

__ Pensei que fosse apenas uma massagem!

__ E será! Mas, como evitar que os meus sentidos se aflorem, se as minhas mãos, tanto à direita quanto à esquerda, estará passando nessas costas, barriga, coxas, braços e pescoço?

__ Meu Deus! Envolvi-me com um tarado mesmo! Acho que vou colocar a saia e a blusa de volta, ou melhor, colocarei um jeans e...



Giovani nem lhe deu tempo para terminar a frase, colocou a mão em seu pescoço e com as pontas dos dedos, fez movimentos circulares.



__ Oh, como isso é bom! - Falou com a voz adocicada.

__ Então se deite aqui no carpete que isso vai ser bem prolongado...

__ Nem vou discutir... Celina se deitou e de costas pra cima, esperou pelas mãos de Giovani.

__ Não disse que seria algo fantástico?

__ Devo acreditar sempre em você?

__ Claro, mas tenho um grande interesse em ir além dessa massagem...

__ Eu sabia que tinha segundas intenções...

__ Segundas terceiras e quartas...

__ Então espere que eu vou tomar um bom banho, e por que não vem comigo e continua isso lá no banheiro?

__ Claro! - Giovani apanhou as roupas de Celina e colocou-as na cadeira.

__ Deixe isso aí! - Ordenou Celina.

__ Você manda, meu amor!

__ Repete!

__ Meu amor, meu amor, meu amor, meu amor...

__ Nossa como você está romântico hoje...

__ Sempre estarei...Sempre estarei...

__Assim espero...

__ Quando eu não estiver, basta me espetar com um garfo, que voltarei a ser...

__ Não será com um garfo... Será com um bom beijo na sua boca...

__ Bem melhor!

__ Sabe, eu cheguei a pensar que sentir tudo isso novamente em mim, fosse algo que dificilmente pudesse vir e agora eu sei que na foi preciso muito, tive apenas que abrir o meu peito e deixar que toda a dor posta ali se curasse com o amor que vinha de você.









Às vezes eu pensava que nada voltasse a ter esse sentido, sei que tudo é apenas questão de tempo, mas, seguramente eu não queria nada para mim, quer não fosse vir de você ou de outro alguém. Só que deixar você colocar a mão no meu coração, isso foi a melhor coisa que eu fiz ou que eu me permiti fazer. - Giovani falava e a sua voz saia firme e serena e segura.

__ Tudo tem o seu tempo, e como o que lhe aconteceu não tem como voltar a acontecer. Isso foge ao seu alcance, retornar a sua antiga vida, mas, acredite que ainda pode sentir. - Justificava Celina toda a sua condição de apaixonada.

__ Embora eu saiba que voltar com Edith, não me seja mais possível, eu apenas assumi uma condição de continuar, mas, depois de todo esse tempo e com a sua aparição, eu tive que superar tudo e retornar a vida e agora a minha vida sentimental ressurgi com você. - Novamente as palavras saiam de sua boca carinhosamente e se alojava nos ouvidos de Celina.

__ Obrigada por confiar em mim!

__ Não me agradeça, alias, você não tem que me agradecer acho que temos é que agradecer a Deus, por nos colocar juntos.

__ Você tem razão não estamos dando nada um ao outro, mas, estamos ganhando essa missão de Deus. - Celina estava emocionada por demais.

__ Agora cada vez que penso em encontrar você e esse seu olhar, até mesmo a dor que sinto diminui e a ausência do vazio dentro do meu peito se apaga de vez, assim é o teu olhar em mim! Teu sorriso me faz esquecer das coisas que passei e me faz querer ir adiante do que ainda não senti... Já não consigo negar as batidas do meu coração, tremo, temo e fico mudo, mas, nem todo o silencio que faço nessa hora, consegue ocultar a alegria em lhe ver e o que antes me rasgava o peito, agora é o que se desfaz.

Sei que me acostumei a ficar de olhos fechados, querendo, buscando esquecer as angustias dessa vida, pois, era só dor que havia e agora com você, já não há mais. E agora de olhos bem abertos, tudo que vejo é você a sorrir e sempre e cada vez mais me esqueço do ontem e me entrego sem lutar, sem resistir e sem pensar. Assim teremos tantas coisas para viver e tanta coisa para contar, só precisa de um pouco de tempo e paz.- Giovani ia falando e falando quase sem perceber as lágrimas que escorriam pelo rosto de Celina.

__ Por favor, se você não parar de falar eu vou me derreter aqui no banheiro. - Celina tentava rir, mas o nervosismo e a emoção a denunciavam.





Passados alguns dias a proximidade do casamento que aconteceria no civil, deixava-os apreensivos e muito ansiosos.



__ Celina, já sei o que vamos fazer para não ficarmos nessa agonia!

__ O que você tem em mente? - Perguntou curiosa.

__ Vamos passar uns dias em Afrânio Peixoto! Lá existe um ótimo rio e excelentes acomodações e não precisamos ficar em barracas. Alugaremos um chalé e ainda poderemos passear pelas trilhas ecológicas, o que me diz?

__ Seria uma lua-de-mel antecipada ou um treino

__ Por favor, diga, o que você acha? - Insistiu Giovani meio agitado como uma criança à espera de abrir seu presente.-

__ Será maravilhoso estar com você no meio do mato.

__ Não será tão no meio do mato assim e você pode levar o seu laptop e até se conectar na internet... Isso se você tiver tempo, para essas coisas fúteis.

__ Minha vida sem computadores...Humm...Como seria?...Ah, já sei! É como será nesse mato, cheio de aventuras naturais, mas, vá lá que seja, eu realmente preciso me desligar um pouco e relaxar.

__ Ótimo! Partiremos daqui a duas horas...

__ E se eu tivesse dito não?

__ Eu teria que estar agora ligando e cancelando e nós perderíamos o nosso momento de Tarzan e Jane - Brincou Giovani.



Eles levaram quase oito (8) horas de viajem até o acampamento em Afrânio Peixoto. A estrada que leva até o chalé estava horrível.



__ Graças a Deus, chegamos! - Gritou Celina abrindo o vidro do carro.

__ Nossa, eu estou todo moído...

__ Vamos entrar nos registrar e deixa que agora eu lhe faço uma massagem Indiana...

__ Agora sim eu fiquei curioso... Que massagem é essa?

__ Você deita nu de costas para baixo e eu fico nua e passo óleo em nossos corpos e eu fico me esfregando em você com os seios, pernas, braços e bunda. E aí, gostou?... Hei, aonde você vai assim correndo?

__ Nos registrar logo e qual é o seu nome mesmo?

__ Se não me esperar não terá massagem Indiana nenhuma... - Disse Celina em meio a uma sonora gargalhada.



Com o dia claro, eles se levantaram e saíram para dar um passeio, o tempo nublado e no alto da serra podia-se ouvir as trovoadas, que anunciavam que logo teria uma chuva forte.

__ Vamos pegar a trilha de volta, que está vindo uma chuva por aí e aproveitaremos para dar seqüência àquela massagem Indiana, que ontem teve a sua primeira parte. - Disse Giovani com aquele sorriso maroto.

__ É mesmo? Que massagem? Apenas durou dois minutos, o Sr. Tarado nem me deixou continuar...

__ Puxa, ainda tinha outros movimentos?... Espere!...Ouça! - Pelo tom de voz de Giovani parecia ser sério, o que acontecia.

__ Giovani, parece ser uma mulher gritando por socorro, está vindo lá debaixo no rio...

__ Venha...Dê-me a mão...Isso...Vamos descer depressa. - No rosto de Giovani surgiu uma expressão de apreensão e serenidade assustadora.



Chegaram a beira do rio e viram uma mulher tentando desesperadamente retirar das águas um pequeno garoto, de mais ou menos uns nove anos de idade, que não conseguia chegar até a margem devido a forte correnteza que o arrastava. Giovani deixou Celina com a mulher e correu adiante e se segurando numa pedra esperou pelo garoto que vinha sendo arrastado pela força da água.



__ Estique os braços garoto...Estique os braços! - Berrava Giovani.



Ele conseguiu pegar o garoto, e o colocou na margem e pediu para que Celina e a mulher o levassem para o alto. Mas, antes que Giovani pudesse sair de dentro da água, desceu uma enorme quantidade de água vindo da cabeceira do rio e o arrastou e em segundos o rio transbordou.

Celina, a mulher e o garoto conseguiram subir, pois, eles estavam no seco, mas, Giovani não conseguiu



__ Meu Deus! Giovani! Giovani! - Desesperada Celina corria gritando pela margem do rio enfurecido em suas águas revoltas. Mas, sem avistar Giovani. Ela sabia que o pior tinha acontecido



A mulher correu em direção a portaria do chalé em busca de ajuda e logo todos sabiam que quem estava desaparecido era o escritor de sucesso: Giovani Martelli.



A imprensa chegará quase ao mesmo tempo em que o corpo de bombeiros e no helicóptero da Rede de Televisão Alto Vale, estava Belizário, com microfone em punho, soltando a noticia ao vivo para todo o país.



Duas horas depois o rio já havia baixado consideravelmente, facilitando o serviço do pessoal do resgate, mas, com isso impossibilitando qualquer esperança de encontrar Giovani com vida.



Depois de mais de quatro horas de busca e a quilômetros de distancia dali, fora encontrado o corpo de Giovani no meio de umas pedras.

Belizário foi quem o avistou do helicóptero, e mergulhou na água pensando que Giovani pudesse ainda estar vivo, e foi ele próprio quem deu a noticia a Celina.



__ Celina o que você precisar que eu faça por você...Peça e eu o farei...Farei qualquer coisa para diminuir isso que você está sentindo. - A voz de Belizário era suave e confortante.



Celina sem dizer uma palavra, o abraçou e chorou copiosamente. Visivelmente emocionado, ele apenas a amparava em seus braços e repetia automaticamente: ‘Sinto muito!’ ‘Sinto muito!’



Belizário passou a estar sempre presente, ora telefonando ora enviando flores e mensagens de apoio a Celina. Tentando de alguma forma anima-la e assim ganhar a confiança dela, que sem perceber sentia a necessidade de estar com ele ou mesmo de ouvi-lo ao telefone.





Celina passou a procura-lo para não se sentir tão só, e sabia que ele educadamente se mantinha a espera de que ela assim reagisse e sem forçar a barra. Ele fazia como ela um dia fez com Giovani e isso a agradava profundamente, pois assim, ela sabia que poderia contar e confiar nele e nenhuma situação desagradável aconteceriam entre eles.



As brincadeiras, as conversas e essa presença constante entre eles, a ajudavam a passar os dias, que certamente eram muito mais pesados do que aparentava ser e os tornava menos tristes.

Embora Celina percebesse que Belizário só esperava o momento certo para se declarar, ela dentro dela se acostumando com a idéia da perda de Giovani e sentindo um pouco menos a sua falta.



Num momento a sua única preocupação era a de estar vivendo a sua vida de forma exata e constante, e em certo momento, tudo que Celina queria era viver sem regras ou formulas. Queria se livrar do peso que tudo lhe trazia e tentava se apegar ora no trabalho ora na bebida. Apesar da amizade que lhe batia em sua porta.



Celina permanecia sentada no sofá por longas horas, talvez tentando entender o que estava acontecendo e seus pensamentos lhe cravavam pontas afiadas em se cérebro, que lhe doía à alma.

Lembrava de tanto tempo em que esperou para que Giovani pudesse vê-la como mulher e apaixonada foi conduzindo a sua vida em direção ao queria e de repente tudo ficara confuso e sem saída. Ela não tinha a intenção de se distanciar de tudo e se isolar numa posição que ela mesma se edificaria, mas, ela não conseguia deter tantos pensamentos em sua cabeça e se angustiava e mesmo secretamente querendo desaparecer, ela sabia que precisava continuar.



Tomada pelas lembranças e sentida por saber que não poderia voltar no tempo, e depois de amar tanto e sentir que também fora amada, ela pensava em bloquear esses sentimentos e não voltar a expô-los tão cedo em sua vida.





Celina não tinha a intenção de sacrificar a sua vida, e por saber que não teria mais a presença de Giovani em sua volta, ela quis somente se afastar de tudo por um tempo, mas, decidira trancar o seu coração e não se envolver tão cedo.

Ela sabia das intenções de Belizário, podia ver em seus olhos, uma ternura, uma paixão, mas, ela precisava de um tempo para se envolver novamente e toda a proximidade dele a confundia profundamente, e mesmo sabendo que não tinha a capacidade de compartilhar um sentimento, ela sabia que dificilmente o evitaria.



Três semanas depois do acidente, Belizário foi até a casa de Celina. Depois de tocar a campahia insistentemente por quase dois minutos, ele foi até a porta e percebeu que a porta se encontrava aberta, estava apenas encostada.

Ao entrar na sala, Belizário deparou-se com Celina sentada no meio da sala, olhando para a janela como se buscasse respostas para os seus conflitos ou como se olhasse para o vazio de seu intimo. Diante de uma paisagem perdida e silenciosa. Celina conscientemente travava uma luta desigual consigo mesma, desde o acidente fatal que vitimara Giovani.



__ Celina! - A voz de Belizário interrompeu aquele silencio.



Virando a cabeça sem pressa para o que iria ver, Celina levantou os olhos e soltou um sorriso amarelo.



__ O que faz aqui? - A voz rouca e sonolenta saia fraca de sua boca.

__ Passei para vê-la! É que fiquei preocupado com você e...

__ Não precisa se preocupar que eu estou bem... - Celina tentou levantar-se, mas, devido ao tempo que passou sentada ali, as pernas não a obedeceram e ela se desequilibrou, quase dando uma volta sobre si mesma. Com os cabelos longos, soltos e com um vestido grande e largo...Parecia estar dançando. Belizário demonstrando um bom reflexo a agarrou pela cintura, e com Celina em seus braços, ele soltou um sorriso imaturo e feliz.



__ Obrigada, acho que fiquei um pouco tonta e... - Celina nem conseguiu terminar o que estava dizendo e sentiu estar perdendo toda a sua força.





Belizário sentindo que Celina poderia desfalecer em seus braços, colocou-a no colo e levou-a ao sofá e deitou-a lá e foi até a cozinha apanhar um copo de leite ou algo parecido para dar a ela. Voltando com o copo de leite na mão, ele pode ver as coxas perfeitas e roliças que Celina tinha, mas, afastando os pensamentos da cabeça, pensou em apenas alimenta-la e cuidar dela.



__ Por favor, Celina! Veja se consegue beber este leite. - Falou tão carinhosamente que Celina nem discutiu.

__ Já me sinto melhor...- Expressão glacial surgia no rosto dela.

__ Então fique aqui deitadinha e não se mexa que eu vou...Com a sua permissão é claro...Até a cozinha lhe preparar uma macarronada.

__ permito sim, mas você terá que se juntar a mim...

__ Ótimo! Não se mexa e deixa que eu me vire e qualquer coisa eu lhe pergunto onde estão os ingredientes e tudo o mais.



Minutos depois Celina levantou-se e foi até a cozinha.



__ O que faz aqui? Pensei ter-lhe dito para ficar deitada!

__ Vim ajuda-lo ou não almoçaremos hoje e sim jantaremos. - Celina tentava mostrar-se animada.



Celina encostou-se ao balcão da pia e levou a mão até a cabeça, como se estivesse sentindo-se mal. Belizário estava cortando os tomates na mesa, deu uma rápida olhada, e nem pensou duas vezes, abraçou-a por detrás fortemente.



__ Não precisa se preocupar...Eu estou bem, eu só estava pensando. - Justificou Celina mesclando forca e vigor.

Belizário meio sem jeito ainda abraçado a Celina, sentia o perfume de seus cabelos e a pressão daquele corpo suave, leve, macio contra o seu.



__Desculpe-me! - Falou sem jeito e sentindo uma intima sensação.

__ Não precisa se desculpar! É bom se sentir protegida. - Disse Celina de forma afetiva e deleitosa.





Ainda com Celina em seus braços, e quase como se não quisesse que aquele momento terminasse. Belizário respirou fundo e com a mão em sua barriga, quis sentir um pouco mais da maciez do corpo daquela mulher.

Celina sentindo o clima, não teve forças para evitar aquele contato, e se deixou levar pela empolgação de Belizário que chegava a tremer abraçado a ela.



Celina parecia não ter forcas para sair dali e por mais alguns segundos, ela sentiu a presença do corpo daquele homem em contato do seu.



__ Sei que você está fragilizada, Celina. Espero que me perdoe e que não me entenda mal. - Argumentou disfarçando a voluptuosidade de seu ato.

__ Tudo bem! - Disse se ajeitando com as mãos nos cabelos como se tentasse prende-los - O que houve?

__ Não sei direito, eu achei que você fosse desmaiar ou...

__ Belizário, eu estou lhe perguntando sobre o macarrão. - Disse Celina rindo.

__ Sim, o macarrão...Oh não! Eu esqueci de ligar o fogo, mas, espere que logo a água ferve... - Falando e se movimentando todo sem jeito, ele ia pondo tudo no seu devido lugar.



Como passar do tempo Belizário e Celina passaram a ter mais contato do que ambos podiam planejar. Em seu programa de televisão, ele teria que entrevista-la, já que Celina era a responsável direta, pelos livros de Giovani.

Belizário sentia-se feliz sempre que estava ao lado dela e ela parecia confortável também. E como a amizade entre eles crescia, era comum estarem sempre juntos.

Celina que ficou meio perdida começava a voltar a ativa e estudava a oferta de outros escritores para trabalhar com ela, o reconhecimento de seu trabalho era maior do que pensava e sem pressa, ela ia estudando qual seria o seu próximo passo. O mais importante ela já havia dado, deixou a bebida para trás, graça a conversa que teve com Belizário.





Capitulo 09



Os dias iam se passando e levando a sua dor particular, mas, ela sentia fortemente a perda do seu grande amor. Sentada sobre as pernas escutou a companhia tocar, e se encaminhou até a porta meio cambaleante.



__ Belizário! - falou com certa surpresa no olhar - por favor, entre!

__ Obrigado! Quer que eu a carregue até o sofá? - Brincou.

__ Desta vez não será necessário, mas, devo admitir que isso possa ser vicioso. - Disse Celina olhando-o nos olhos.

__ Bem, vejo que você está bem melhor, tanto fisicamente quanto espiritualmente. Vim aqui convida-la para jantar comigo e desta vez eu não cozinharei. Sei que é muito cedo para você, mas, acredite em mim, será apenas um jantar... Eu somente gostaria de ter a sua companhia... - Disse cabisbaixo.

__ Não precisa se justificar, eu acredito em você e aceito sim...Eu estou precisando sair um pouco. Que horas você vem me apanhar?

__ Às dezenove horas! Está bem para você?

__ Excelente!



Celina sabia das conseqüências daquele encontro e quase sem pensar se arrumou de forma exuberante e linda deixou a luz do abajur acessa e sentou-se no sofá e pôs-se a esperar por Belizário. Quando ele chegou, Celina apenas o mandou entrar e continuou sentada lá.



Belizário entrou e deu alguns passos e ficou estático, e em seus olhos a imagem de Celina que agora de pé se exibia num vestidinho azul claro curtíssimo e com os cabelos totalmente soltos. Airosa e vistosa, um corpo esbelto e ondulante e um olhar agudo.



__ Você está linda! - Os olhos dele brilhavam tanto ao contempla-la que iluminava todo o seu rosto.

__ Belizário... - Olhar dele dissipava as antigas amarguras.

__ Por favor, agora você já pode me chamar de Bel. Que é como todos me chamam.

__ Tudo bem, Bel. E é sobre amizade que eu gostaria de falar antes de sairmos. Acho que tudo está tão cedo, que eu quase não consegui levar esse jantar adiante e depois pensei que seria bobagem da minha parte. - Um largo tempo depois, ele falou.

__ Não se preocupe, sei que você ainda está sensível quanto a isso e não farei nada para que se afaste de mim...



Com a sala na penumbra, Celina tropeçou e Belizário foi ao seu encontro e mais uma vez pode tê-la nos braços.



__ isso já está ficando repetitivo! - Disse Celina sem graça.

__ Acho que será melhor estar sempre por perto ou você viverá cheia de hematomas pelo corpo. - A voz dele saia com um tom engraçado. Até que Celina tentou virar-se e seu vestido levantou-se todo.

__ Que vergonha! No primeiro encontro e eu já vou ficando quase nua. Não pense que eu faço isso sempre. - Celina já não demonstrava embaraço na voz e ela parecia conformada com a sua trapalhada e a presença de Belizário.

__ Não se preocupe e não esquente, eu quase não vi a cor azul-clara da sua...

__ Não continue, por favor! - num reflexo Celina colocou a mão na boca de Belizário. Tremula de emoção.







Os dois se encararam por alguns segundos e com um olhar molhado e de admiração Celina retirou levemente a sua mão da boca de Belizário, que não conseguia esconder o desejo que estava sentindo e sem que ele reagisse, ela virou-se de costas e deixou toda a exuberância de seu corpo à mercê dele.

E colocando as mãos na cintura dela, ele pode sentir a respiração presa dela, mas, sem querer ir além daquela caricia, ele disfarçou e pôs-se adiante dela.



__ Vamos sair daqui antes que não consigamos mais. - Belizário tentava disfarçar o suor que corria em sua fronte.

__ Sim, vamos de uma vez! - Quase sem mobilidade física detido pela presença dela, ele moveu-se lentamente.





Alguns meses se passaram e ajudara Celina a se desfazer da dor que tentava se solidificar em seu coração. Mas, com a ajuda de Belizário, ela ia conseguindo seguir adiante.

Apesar de ser visível que algo acontecia entre eles, nada acontecia de real além da amizade, que fortificada e mesmo de forma forcada, eles conseguiam não deixar que nada pudesse desvia-los dessa condição.

O momento difícil que Celina estava passando, não a deixava se concentrar em nada que não fosse trabalho e trabalho. Apesar de se sentir à vontade na presença de Belizário e de perceber que ele só espera que ela diga ‘Sim’, para que ele a tenha verdadeiramente do jeito que ele a quer.

Celina sabia que podia esperar, para que todas as coisas se acalmassem dentro dela e que pudesse voltar a ter uma vida, que começara com Giovani. Apesar de saber o que poderia lhe acontecer, o coração de Celina se rasgava em tristeza e as lembranças ainda tão vivas do amor que ela tanto esperou e silenciosamente alimentou dentro de si. Com os olhos em direção ao chão, mas, com a cabeça tão acima de seu pescoço, ela pensava que não teria mais condição de tornar realidade.

Na cabeça de Celina o conflito crescia e ela parecia ouvir Giovani lendo para ela:

‘Depois que todas as lagrimas escorrerem por seu rosto, reveja os seus passos e todos os seus erros e acertos. E siga em frente sem olhar para trás e tente não chorar mais. Mesmo que todo carinho e apego tenham se acabado, ainda resta o teu sorriso escondido em tua face.

E se você apenas pudesse aceitar a sua sorte, poderia assim ver o quanto é lindo tentar outra vez. Vá e erga a cabeça e se levante, abra os seus olhos e veja que nada mudou em sua volta, apenas no seu olhar é que as coisas estão em preto e branco e tente não chorar mais.

Reencontre toda aquela alegria, para que consiga voltar a ser feliz. Quando você se abate e cai por terra e vem todo o desanimo e te puxa para baixo enfraquecendo o teu espírito. E tudo que você precisa fazer é acreditar, para que logo o seu sorriso renasça em tu a face, fazendo com que os teus temores fiquem pelo caminho e tente não chorar mais.

Mesmo que todas as folhas de sua árvore estejam caindo agora, espere um pouco que logo elas voltarão mais verdes e vivas e assim como você sempre estará em mim’.







Até a voz suave, delicada e perfumada de Giovani, Celina podia ouvir em sua cabeça, era como se ele estivesse ali lendo aquela poesia, que há muitos deu conforto e forca.



Há quatro dias trancada em casa, Celina desligara o telefone e avisara na editora que viajaria, mas, na verdade ela se escondeu em casa e se refugiou em si. Celina levantou-se no meio da tarde apanhou o telefone e discou para Belizário.



__ Oi, bel! - O som peculiar de sua doce voz.

__ Oi, Cel! - Fez a rima parecer um som eterno.

__ Você pode vir aqui em casa, é que eu gostaria de conversar com você...

__ Já estou a caminho...Tenho umas horas livres...

__ Calma! Eu ainda estou de camisola e...

__ Não se mexa, que dentro de alguns segundos eu estarei aí. - Disse ofegante e rindo logo em seguida.



Chegando na casa de Celina, ele parecia estar procurando algo dentro da sala, os seus olhos vasculhavam cada canto.



__ O que você está procurando? - Perguntou Celina curiosa.

__ Uma mulher loira e linda dentro de uma camisola sexy e com um telefone na mão. - Belizário parecia mesmo feliz - mas, tudo bem! Serve essa mulher que está de vestido, descalça e com os cabelos presos... - Olhar decrépito e torpe.

__ Bel, eu lhe chamei aqui para uma conversa definitiva e não para um desfile de pecas intimas. - Disse em tom enfadado.

__ Desculpe-me! É que você estava com uma carinha tão triste. A sua viagem foi ruim?

__ Não cheguei a viajar! Eu menti para algumas pessoas, inclusive para você. Eu fiquei aqui, para poder pensar na minha vida e tomar algumas decisões. - Segurando as mãos e esfregando-as nervosamente Celina falava e falava.

__ Eu cheguei a vir aqui, umas duas vezes e não me pergunte o porquê que eu fiz isso, já que eu achava que você não estivesse aqui...

__ Bem, uma das decisões que tomei está ligada a isso. Gostaria que você me explicasse ou que me dissesse alguma coisa... - Nervosa Celina não conseguia se fazer entender.

__ O que eu posso lhe dizer é que eu vejo em você uma grande chance de ser feliz e que me sinto atraído por você, desde que eu lhe vi numa foto de uma revista e isso já faz uns dois anos atrás. Quando eu me aproximei de você na emissora, eu apenas queria estar perto de você e de alguma forma falar com você.

Tentei antes me aproximar de você, mas, falhei em todas as tentativas. Lembro-me de ter pedido a minha irmã...Para me ajudar, mas, foi quando ela me contou sobre você e Giovani e desde então me afastei. - Confessou

__ Quer dizer que você já...

__ Sim eu já tinha um grande interesse em você. Surpresa?

__ Um pouco!

__ Isso apenas não basta para dizer, que eu tenho certeza que quero você e que posso me esforçar muito mais do que isso, para faze-la feliz, pois, eu sei que o que eu sinto em relação a você é verdadeiro e pode durar por muito tempo. Sinto não poder nesse momento dizer as palavras certas...E se eu pudesse eu as diria e...

__ Acha que precisa dizer mais? - Celina se aproximou dele e desta vez sem estar em apuros, pegou uma de suas mãos e pôs em sua cintura.

__ Acho que você precisa se desequilibrar...

__ Desta vez não será necessário...

__ Acredito que não será mesmo... A não ser que você queira acabar no sofá.

__ Terá que me levar até ele, pois, acho que estou caindo. - Celina se jogou no colo de Belizário.

__ Mudança de planos! Acho que a levarei até a cama...

__ Muito melhor!



Belizário a deitou na cama e tocou de leve em suas coxas e subiu a mão até a sua cintura e com a outra mão tocou-lhe os seios e beijou-lhe a boca.



As poucas horas se apressaram em passar e logo Belizário teria que voltar a emissora.



__ Devo voltar mais tarde? - Perguntou da porta do quarto.

__ Se você não voltar, eu irei apanha-lo pessoalmente. - As amarguras haviam sido engolidas.

__ Celina, logo estarei de volta! - Despediu-se apressado e sorridente.







Celina voltou a deitar e ainda não podia ter certeza se estava agindo de forma correta, mas, nada a faria sentir que estava errada também. Ela sentia que ele estava realmente interessado nela e agora ela podia sentir que era verdade, mas, o que Celina queira era sentir.



Celina esperava por Belizário quando o telefone tocou e era ele cancelando o encontro por conta de uma pequena viagem que teria que fazer. Celina apanhou uns originais e foi-se a ler, aproveitando o tempo para estudar um de seus novos escritores. A editora lhe propôs tomar conta da carreira de três escritores que iniciavam na carreira.



O dia amanheceu e ela nem percebeu, levantou-se da mesa onde passara a noite e foi direto para o banheiro. Mal tirou a roupa e ligou o chuveiro e os pensamentos sobre Giovani lhe invadiram a mente.

Toda a experiência que passara ao lado de Giovani, o modo como ele lidou com a sua perda, e todas as coisas que fez para que ele pudesse continuar a vida. Tudo estava se repetindo e voltando ao mesmo lugar e mesmo sentindo-se atraída por Belizário, e assim depositando uma ficha para que a dor que é uma variedade de coisas pequenas e grandes pudesse passar logo.

Ela precisa levar os momentos difíceis para bem longe e essa relação ajudaria a não se esconder, e ela precisava se esforçar e tentando estaria amparada... Crescia dentro de si um vazio triste, que ela sabia que a acompanharia por muito tempo, mas, ela precisava recuperar a sua forca, agora o que acontecia era real e presente em sua vida e não pararia apenas por vontade própria.

De alguma forma, mesmo sendo forte, a dor quando chega se alimenta do se tem. Resistir ou não resistir, para esse sentimento não faz diferença. Vem e se apodera, primeiro dos pensamentos. Onde fica guardado a lembrança e depois do corpo, por onde passa toda emoção. Celina se empenhava em não se abater, ela sabia que assim, não teria para onde ir e mesmo triste, ela se agarrava na esperança de seguir em frente.



Belizário chegou pela manha e como prometera seguiu direto a casa de Celina.

__ Celina, ontem fui a Pontes, para gravar uma entrevista com o Senador Jonas Ribeiro...

__ O tal Senador que escreveu um livro! E como foi? Ele realmente tem algo para falar?

__ Acho que nem ele mesmo leu aquela porcaria de livro... É como você disse alguns tiram proveito de ser conhecidos, para publicar qualquer coisa...

__ A entrevista então?

__ Total perda de tempo! Ele só queria falar sobre política, mas, o trabalho sujo foi feito.

__ Mas, a sua próxima entrevista será fantástica!

__ Como você pode saber?

__ Conhece Melissa Mendonça de Abreu?

__ Ainda não! O que ela escreveu?

__ ‘O impacto do tempo’

__ Não me lembro de ter lido esse livro ou de ter ouvido falar dessa escritora. - Belizário afagava a cabeça atrás de um botão que ativasse a sua memória.

__ Você não se lembra porque ela ainda não existe na mídia. - Disse enigmática

__ Poderia se explicar?

__ Acabei de ler o original dela e vou recomenda-lo para que o publiquem, ainda esse mês. É uma das coisas mais sólidas que eu li recentemente.

__ Ela deve ser boa escritora mesmo! Que empolgação contagiante!

__ Espere aqui e ouça este trecho:



‘Garantimos em nós umas capacidades estúpidas de acreditar, que talvez se usássemos a verdade, fariam florestas inteiras tornarem plantações de rosas. Bastaria que abríssemos a boca para que as palavras certas atingissem o consenso de quem as escuta e assim nos pouparia discussões, explicações e tempo.

E quando fechássemos a boca, todos os problemas já teriam ido embora e apenas sobrado a boa consciência de um momento feliz, onde a verdade prevalecerá’.



__ Tem forca mesmo essas palavras. - Belizário apanhou o original e por alguns minutos continuou a ler.

__ Essa é Melissa, uma escritora de vinte e dois anos. Ela mistura as emoções e parece ser real e falsa, e isso é muito bom. As palavras dela dão voltas e você pode ler duas estórias ao mesmo tempo.

__ É bom vê-la empolgada com o seu trabalho...Você ganhou respeito nessa área. Muitos escritores foram ajudados por você, mesmo sem trabalhar para eles, mas, bastava que você comentasse sobre alguns deles e todo o meio literário se voltava a esse escritor.

__ Mas agora, eu gostaria de conversar com você...

__ Venha, vamos nos sentar lá fora no quintal. Esta um dia lindo...

__ Sei que existe uma atração entre nós e que mesmo com tudo, nós não podemos negar e também de nada adiantaria. O que eu quero dizer é que talvez possa ser apenas uma atração e mais nada...

__ Celina, sei o que sinto. Sinto-me atraído por você e se tivermos que começar com uma atração, que seja! Qual é o mal?

__ Nenhum! Bobagem minha...

__ Por que se preocupar? Se for amor saberemos logo e se não for, não teremos do que se arrepender depois.

__ Sei disso, nos somos adultos e...

__Você está preocupada comigo? Acha que eu não pensei em tudo? Sei que você estava venerável, e esperei passar um tempo, e percebi que teria que acontecer, porque se não acontecesse.Eu teria perdido uma chance maravilhosa de estar ao seu lado e de compartilhar com você, o que eu tenho de melhor. Porque é isso que eu quero lhe dar, o melhor de mim. - As palavras saiam de sua boca e se espalhavam pelo ar.

__ Eu também quero estar com você e desculpe-me se pareço confusa...É que você tem sido muito bom e tenho medo de não poder ser do mesmo modo para você.

__ Para mim você é bem melhor! Agora vamos aproveitar esse sol e ficar um pouco aqui. Deixe-me abraça-la. E sei que ainda não está totalmente apaixonada por mim, mas, acredite-me que farei o possível e o impossível para que isso aconteça.

__ Sinto ter que acabar com essa magia, mas temos que entrar e tomar café e voltar a realidade...Que se dane a realidade, deixe-me deitar aqui no seu peito alguns minutos não farão tanta diferença.

__ Quero que você saiba que o relacionamento mais longo que tive, foi com a minha tartaruga, mas, o tempo foi muito curto e eu...



A risada de Celina ficou incontrolável e os dois entraram e por momentos assim é que ela sabia que precisava estar ali presente e viva.



__ Celina, vamos ver no que isso dá ou onde isso nos leva. - A expressão de Belizário era tão segura quanto as suas palavras e em seu olhar havia uma preocupação em estar alerta.

__ Tudo bem, sei que somos adultos e deixaremos tudo que tiver que acontecer, aconteça. - Conformada em não lutar Celina demonstrava estar tranqüila.



Compromissos, passeios e entregas...Tudo ia acontecendo rápido. Melissa ganhava as paginas de revistas e jornais, estava ali nascida uma escritora com algo interessante a dizer. A vida de Celina voltava ao rumo, sem trauma ou conseqüências, apenas a saudade permanecia intacta e ela não conseguia se entregar totalmente a Belizário.



__ Há quanto tempo estamos juntos, Bel? - A voz de Celina era sempre delicada e frágil, quase quebradiça, assim como os seus movimentos enquanto falava.

__ Quase um ano?

__ E nesse tempo, quantas vezes eu disse que o amava?

__ Acho que algo lhe incomoda e isso sempre a incomodou, não é? Eu nunca consegui...

__ Eu amo você! Eu amo você! - Celina sorria sem maculas.

__ O que você disse?

__ Eu disse que eu o amo. Sei que é de uma maneira diferente da sua tartaruga, mas, essa necessidade de estar com você e essa falta que eu sinto de você quando não está comigo, e como me sinto bem ao ouvir a sua voz e quando você diz que eu sou importante para e tudo que aconteceu entre nós...Tudo isso me faz perceber que eu te amo.



Belizário a abraçou com carinho e sem dizer nada apenas a manteve ali em seus braços e mesmo calado, parecia que todas as boas palavras saiam de sua boca.



__ Celina, eu tinha a esperança que isso pudesse acontecer e mesmo que eu não tenha tentado saber disso, no fundo eu sabia que você descobriria isso por você mesma, porque eu também sinto o mesmo que você.



Capitulo 10



Os dias corriam felizes, enquanto cada vez mais distante da dor que a saudade lhe causava, Celina passara a viver mais solta e a felicidade lhe acompanhava em seus dias.

Surpreendentemente passou a se relacionar com Suzana, e dessa amizade surgiu a abertura para que questionamentos do passado pudessem ser resolvidos. As duas mantiveram um trabalho juntas, Celina apontava os escritores consagrados e os novos e Suzana os fazia aparecer em evidencia.



__ Bel!

__ Quem mais poderia ser a essa hora ao telefone? Celina sei que já é tarde e que não combinei nada com você, mas, só que aconteceu algo que eu soube apenas agora...

__ Deixe de ser misterioso e fale de uma vez!

__ Amanha haverá uma viagem ao ‘Campo das Flores’, e será pela manha e como sei que você tem muita vontade de ir lá, reservei uma vaga no helicóptero para você, o que me diz?

__ Nem precisa repetir! A que horas eu devo estar lá?

__ Às sete e quinze da manha. Eu vou daqui direto da emissora e lhe encontro lá. Agora volte a dormir, meu anjo.







Ao chegar no Heliporto, Celina não encontrou Belizário e sim Suzana.





__ Celina, aqui! Bel pediu-me para que eu viesse no lugar dele, e que ele não poderá ir daqui com você e lhe encontrará lá. - Tentava justificar.

__ E onde ele está?

__ Está cobrindo uma matéria aqui mesmo! Ele disse que saíra daqui antes do almoço e lhe encontrará lá por volta das duas da tarde. E ele fez reservas no chalé ‘Du soile’ para vocês dois, e está no seu nome.

__ Vida de jornalista é isso! Mas será bom, assim nós termos tempo para irmos conversando. - Sempre amável Celina não ficou chateada.

__ Que bom! Preciso mesmo dos seus conselhos, estou presa em umas divisões.

__ Quais? - Antes que Suzana pudesse responder, o seu celular tocou.

__ Celina, espere um pouco...Deixe-me falar com o meu chefe, que deve estar querendo saber onde coloquei as anotações. - Afastando-se da presença de Celina, Suzana quase sussurrava ao telefone. - Fala maninho!

__ E aí? Ela desconfiou?

__ Que nada Bel! Ela agora foi até a portaria para preencher os documentos do vôo, mas, fale logo porque o helicóptero já está ficando pronto. - Suzana falava depressa - Comprou as alianças?

__ Sim e acho que tudo está perfeito! Tudo precisa sair perfeito, e gostaria que ela nuca esquecesse esse dia. Ela sempre quis vir a Penedo, por causa do Campo das Flores, e essa é a melhor época do ano para se estar aqui, frio e com as flores no seu melhor estado. Quando chegar, mande-a para o chalé, e vá até a cidade, e, por favor, não deixe que ela descubra ou que desconfie de nada.

__ Pode deixar, maninho. O que eu não faço por você? Se isso vai ajuda-lo a ser feliz, vocês podem contar comigo e olha ela vem vindo...Preciso desligar. Nós já vamos sair daqui e dentro de umas duas horas estaremos ai, tchau!

__ Suzana, vamos acho que só falta nós duas! Podemos ir?

__ claro! Já fiz tudo que tinha para fazer aqui...



Embarcadas procuraram se sentar próximas à janela, para continuar a conversa que começara lá fora e Suzana sorridente como sempre, segurava a mão de Celina. Ali se desfazia tudo que aconteceu entre elas no passado não muito distante assim.







Assim que chegaram a Penedo, cumprindo o plano, Suzana disse ter que ir a cidade, para mandar um fax para o seu chefe.



__ Logo estarei de volta! Preciso enviar essas anotações, eu pensei que estivesse na minha mesa. A essa altura todo o escritório deve estar sendo revirado de ponta a cabeça.

__ Tem certeza de que não quer que eu a acompanhe?

__Tenho!

__ Bem, eu vou para o chalé e vou tentar relaxar um pouco, apesar da viagem ter sido boa, não me acostumo com esses vôos. - Celina estava meio tensa - E quanto ao que me disse, pense bem, esse cara ama você de verdade. Não desperdice essa chance de ser feliz.

__ Você está certa! Falarei com ele daqui e vamos ver como vai ser. Obrigada!



Celina abriu a porta e quase desmaiou de susto ao ouvir a voz de Belizário.



__ O que? - Quase sem cor no corpo e quase sem voz também, Celina quis saber do que se tratava aquela surpresa.

__ Vejo que você já está refeita do susto! Armei tudo isso para que você não tivesse tempo para pensar e gostaria de saber se você aceita ser minha esposa? - Na mão direita que estava esticada em direção a Celina se encontrava uma caixa aberta com uma aliança dentro.

__ Você está me propondo em casamento ou querendo me matar do coração?

__ Casar com você! - Inestimável e profundo silencio brotou.

__ Aceito! - Os dois se abraçaram e se beijaram num beijo tenro e prazeroso.

__ Vamos sair para comemorar! Vou leva-la para almoçar num restaurante lindo.





O restaurante ficava no meio de uma plantação de rosas, totalmente com vista para os roseirais.



__ Cheguei a imaginar que você fosse me pedir em casamento algum dia, mas, devo admitir que você me surpreendeu e isto tudo está tão mágico e natural...E a Suzana?

__ Ela sabia de tudo, ela é a minha cúmplice! Ela deve estar voltando no mesmo vôo que trouxe vocês.





__ Suzana veio aqui só para me trazer?

__ Sim! Agora vamos almoçar, que o plano para lhe fazer feliz está apenas começando. Depois do almoço, vamos passear pelo ‘Caminho das Flores’ e depois retornaremos ao chalé onde jantaremos a luz de velas...

__ E quando termina esse sonho?

__ Não termina começa a partir de agora e será para sempre!

__ Então vamos começar a vive-lo! - A felicidade chegou ao encontro dos dois e se alojou em seus corações.

__ Não pensei que eu pudesse viver esse momento, e acho que até relutei um pouco, mas, você foi me conquistando e agora eu não tenho como fugir. - O amor brotou com tal ímpeto.

__ E nem eu a deixarei que faca isso! Que se entregue ao seu cativeiro pessoal.

__ Vem aqui e me beije, meu amor. - Disse Celina o puxando pela camisa.



Na manha seguinte antes de deixar aquele lugar belíssimo, eles foram comprar alguns suvenires. Belizário comprou uns livros de escritores locais, desses que não vão a lugar nenhum.



__ Vou levar esses livros para você os ler e analisa-los. - Belizário gostava de vê-la trabalhar. Celina ficava tão entretida em seu poder de criação.



Suzana já em sua casa lembrava da conversa que tivera com Celina e das coisas que ela lhe falou e pensava em que esse era o momento para se envolver com alguém. Desde de que havia se apaixonado por Giovani, Suzana jamais teve qualquer tipo de relacionamento com outro homem, senão o de trabalho.

Deitada em sua cama adormeceu tranqüila, aproveitando o silencio que fazia quando estava sozinha. Belizário era totalmente inquieto, e quando estava em casa ele tinha que estar fazendo algum tipo de barulho.





Já se passava das quatro da tarde, quando o seu celular despertando-a do seu sono.



__ Hein! Tem certeza do que está me falando?...Era o vôo deles? - O pavor nos olhos de Suzana era real demais para que aquela conversa pudesse ser apenas um pesadelo. Ela desligou o telefone e ligou para Delano, o seu amigo inseparável.





__ Tente se acalmar! Logo estarei aí e vamos ver o que podemos fazer. - Sempre atencioso e prestativo. Delano sabia que este era um momento difícil para Suzana, que desde que seus pais foram morar em outro estado, ela só tinha o irmão.

__ Por favor, venha depressa! - A voz dela estava perdida entre soluços e um som fraco que as palavras saiam tremulas.



Delano chegou a casa de Suzana e lhe revelou o que ouviu no radio.



__ Infelizmente a noticia do acidente chegou as rádios, e foi do jeito que você me disse ao telefone. - Falou com naturalidade, mas com muito pesar na voz.



Celina fez um longo silencio e sentou-se atordoada e começou a falar pausadamente.



__ Ele arrumou tudo para leva-la ao ‘Campo das Flores’, para pedi-la em casamento, pois, ele sabia que ela tinha uma enorme vontade de conhecer Penedo... - Deu uma longa pausa e depois prosseguiu - Eles estavam felizes e certos do que queriam e fizeram a coisa certa, não fizeram?

__ Claro que fizeram! Nós não somos donos de nosso destino e não nos cabe discutir se é certo ou errado. No final, é Deus que sabe de tudo...

__ Claro!

__ A sua mãe e o seu pai estão vindo. Deixa que eu vou busca-los no aeroporto e os trago até aqui.

__ desculpe-me por estar pedindo que você faca tudo é que...

__ Não faca isso...Deixe me de alguma forma...Ajuda-la.

__ Você é um bom amigo e eu sempre soube que podia contar com você.- Suzana estava como se dopada, apesar de ser forte, não se sentia forte desde de que recebera a noticia da queda do helicóptero com o seu irmão e a sua cunhada. -



Abraçada a Delano e chorando muito, Suzana não conseguia mais ter ou seguir uma linha de raciocínio. Logo ela que possuía uma criatividade contagiante em qualquer situação.

Delano sentou-se ao lado dela, olhando para o rosto cansado, de olhos devastados. Ela não tinha que lutar contra as lágrimas, a emoção a esgotara.



__ Não acredito! Não acredito! - Disse Suzana num crescendo





Capitulo 11



Delano se encolheu ao lado dela e ao ouvi-la pronunciando essas palavras seus olhos ficaram cheios de lagrimas, enquanto lutava com as emoções das perguntas que queria fazer.



__ O que vai acontecer depois que formos a Penedo? - Delano olhou para ela enquanto percorria os cabelos dela com a sua mão.

__ Não tenho certeza. Eu imaginava que Bel e Celina fossem se casar, se nada acontecesse nesse tempo. De certa forma, essa viagem seria um teste. E você vai continuar por lá? - Indagou Suzana perscrutando-lhe o rosto.

__ Voltarei com você e depois que tiver a certeza de que ficará bem com os seus pais, aí eu penso em voltar e ficar. - A amizade deles era estranha, platônica, no entanto havia sempre a leve impressão de algo mais. - eu sei que eu errei em ter-lhe contado o que aconteceu enquanto estive lá da outra vez.





Delano sabia que a façanha que cometera influenciava negativamente no que Suzana pensava a seu respeito, Delano sentia isso e mesmo naquela hora.



__ Não tem importância! - Ela sorriu - Não vou contar aos jornais!

__ Acho que foi só uma loucura - Fechou os olhos e suspirou - Mas, Meu Deus! Foi horrível! Quando falei com você naquele dia pensei que eu fosse ser apedrejado.



Suzana se lembrou de como se sentiu traída e não disse nada sobre o assunto, e ela não se achava no direito de cobrar nada de Delano, e mesmo em ter ficado com muito ciúme, ela sabia que ele tinha o direito de dormir com quem ele quisesse.



A vida voltou ao normal e nove semanas passaram voando. Suzana mal tinha tempo para ligar para Delano e ultimamente sentia-se relutante em ligar para o amigo. Estava começando a parecer que não suportava ficara abrindo a alma para ele. Delano por sua vez parecia importar-se e nem percebia que ligava duas mil vezes por dia, nesses últimos dias. Contudo, Suzana não se sentia bem em atende-lo, além disso, nas varias vezes que ele ligou ela não estava em casa.





Suzana conscientemente fugia e ela sabia que o amor para ela estava acabado, era um sonho que chegara ao fim, às vezes parecendo ser mais um pesadelo. Porem, agora todas as coisas estavam vivas como num parto e tudo parecia muito indistinto.





Ao chegar em casa em mais um fim de dia de trabalho, Suzana se deparou com Delano a sua espera na porta de sua casa.



__ Como você não responde aos meus telefonemas, eu resolvi acabar com essa agonia e vim vê-la. - Desta vez havia algo triste entre ambos que nenhum deles sabia identificar.

__ Delano está havendo algum problema?

__ Não! Menina, mas, acabei de perceber que as nossas vidas estão muitas desligadas e solitárias.

__ Você também vive assim e não se incomodava.

__ Eu não estava sozinho todo o tempo, na maioria das vezes eu estava com você. - Como sempre a voz dele tinha um toque de ternura.

__ Eu também não estou, não o tempo todo. - Era a primeira vez que confirmava uma coisa daquela. Delano olhou para ela, surpreso. Ele sabia tanto da vida dela que não hesitou em perguntar:

__ Está saindo com alguém? - De certa forma sempre imaginava que ela estivesse só. De repente, foi um choque dar-se conta de que não estava sabendo de tudo.

__ Não é bem assim...De vez em quando...

__ É serio? - Delano não tinha certeza do porque, mas, aquilo o incomodava, o que era ridículo, disse com os seus botões. Por que Suzana não podia ter alguém em sua vida? Afinal de contas, eles eram apenas amigos.

__ Poderia ser serio se eu quisesse, mas não quero nada serio e duradouro. Isso não é para mim e acho que nunca foi e nunca será. - Disse amarga e expressiva.

__ Por que não pode ter isso em sua vida? - Os olhos de Delano eram só inocência, e ele se virou para ela admirando-se de como ela era cega por não perceber que ele a amava.

__ Tenho um caminhão de razoes! Agora o que lhe interessa é apenas os meus desencontros e você vêm falar em tempo, quando tempo é o que não temos mais.

Sobrevivemos a uma era de incerteza sem deixar marcas em nossos corações.

E se hoje estamos libertos e foi mais do que fugir da escuridão...E de olhos bem abertos conseguimos escapar do abismo, onde os nossos corpos caíam em destruição e sei que foi por vontade de ficar assim sempre juntos e se atravessamos tanta distância, acho que o que temos agora não é suficiente para nos aproximar. Do que tínhamos no começo e o que sentimos não consegue

nos fazer lembrar de nada do que ficou para trás...

Só existe esse medo que nos afugenta cada vez mais e é na tua cama que eu gostaria de estar agora. E não me sentindo tão sozinho assim. Você me diz que nós ganhamos essa batalha. Mas sei que a guerra ainda nem começou. E qualquer um pode ver que é de mim que vem a derrota. Nunca lutamos juntos de verdade por nada, era sempre você ou eu em separado e nunca juntos como agora que se quer esperar...

__ Você precisa acreditar...

__ Assim como eu acreditei uma vez ou como o meu irmão acreditou também. - A voz dela soava bastante triste.

__ Nem sempre, mas, boa parte do tempo. Não se pode alcançar sempre a parte boa de tudo, mas quem espera sempre alcança.



Suzana havia desistido do amor depois da morte do seu irmão, porque decepcionada em sua vida amorosa, e por ter se apaixonado pelo homem errado. Colocou na cabeça que nunca o encontraria de novo e imaginava ser difícil para qualquer homem suporta-la em sua amargura.



Despediram-se e Delano foi embora. Enquanto se dirigia até o seu quarto, Suzana ficou pensando no que haviam conversado e se perguntou por que estava se sentindo, de repente, tão triste por causa de Delano. Por que a voz dele estava tão triste e tão meiga? Começou a ficar inquieta e sentia que Delano estava sempre presente em sua vida, e ficara imaginando se teria conhecido um homem que lhe agradasse tanto quanto ele. Mas, essa não seria uma hora apropriada para tratar de um assunto como esse.











Os dias de Setembro eram gloriosos, e ela se sentia reanimada, era como se os vapores de energia retornassem em sua vida. E veio a vontade de procurar Delano e ela não queria mais esperar e foi busca-lo no escritório onde ele trabalhava.



__ Delano vim aqui lhe fazer uma pergunta, que não sai da minha cabeça desde a nossa ultima conversa.

__ Parece ser interessante, fazer com que você tenha se abalado até aqui, faca-a!

__ tenho sentido que por todo esse tempo, venho conversando com pessoas que não me ouvem e sei que com você...Você me escutava e que você simplesmente se faz presente. De vez em quando, fico me perguntando se daria certo - Suspirou baixinho - E tenho que admitir que há ocasiões em que não tenho certeza se podemos dar certo...

__ Mas, pode ser muito difícil conviver com essa duvida...Talvez valha a pena tentarmos.

__ No momento, acho que vale! E é isso que quero tentar com você Delano...

__ Imaginei que havia uma esperança...Tive uma espécie de pressentimento. Há algum tempo venho sentindo que já não é só amizade que existe entre nós e devo admitir, que tive medo que você soubesse disso. Suzana tem sido difícil olha-la e não poder toca-la do jeito que eu gostaria... Só imaginava que esse dia pudesse chegar logo.

__ Delano? - O sorriso em sua face afugentava todas aquelas lembranças terríveis e todo sofrimento e solidão, com que Suzana vinha vivendo por todo esse tempo.

__ Como se sente a esse respeito?

__ Pareço estar contente e muito satisfeita. Mas, não tenho vontade de explicar nada, pelo menos até estar certa...

__ Certa de que? - Delano se apavorara ao pensar na resposta a essa pergunta.

__ Certa se você vai me aceitar. Afinal, a nossa amizade cresceu muita nos últimos seis meses. - Suzana tinha a voz suave e alegre.

__ Isso é assim tão ruim?

__ Você sabe como eu sou chata!

__ Está certo, eu desisto! - Delano tomou-lhe à frente e a encarou com um sorriso sonhador.

__ Bem...Olha...Achei que você me entenderia...

__ Achei que quisesse que eu não a entendesse!

__ Você me conhece bem demais, Delano.

__ Eu tento, pelo menos!

__ O que o faz ser assim?

__ Tento não ser chato, mas, sendo sincero, e é tarde demais para mudar...

__ É mesmo?

__ Depende do momento! Não sabe o quanto isso é importante para mim. - Fitou-a nos olhos de modo gentil.

__ Preciso de tempo para pensar, Delano. - De repente Suzana ficou muito quieta e havia uma magoa incomensurável. Ela não queria admitir que o homem que estava há anos ao seu lado poderia ser o homem que lhe desse o amor, que tanto lhe escapou e que finalmente a convencera a aceita-lo.

__ Sobre o que pensar?

__ Em me comprometer... - Antes de ter tido tempo para recusar, Delano abraçou e lhe beijou a boca.



Furiosa e satisfeita, mas, encoberta pela emoção de carinho, Suzana parecia concordar e aceitou aquele beijo como deposição de suas armas.



__ Sabe, não consigo acreditar que nós estejamos fazendo isso...

__ Suzana! Não transforme esse beijo numa grande crise. Esse é apenas um dos muitos que virão...

__ Mas, esse é o mais importante justo por ser o primeiro.

__ Quando é que você fez esses planos?- Finalmente Suzana pareceu encabulada.

__ Há uns dois dias. - Suzana fitou-o por um longo minuto.

__ E não me disse nada?

__ Não sei se isso torna tudo melhor ou pior. - Mexia nos cabelos de Delano que parecia estar tenso com tudo que estava acontecendo.

__ Seja como for. Tinha que ser assim...

__ Você esta se sentindo bem?

__ Vou acabar com esse humor...Venha aqui que eu vou despenteá-la.





Suzana sabia que de agora em diante tudo seria diferente, ela abrira as portas, e essas portas seriam impossíveis de serem fechadas e não tinha certeza se se lembrava de como faze-lo.



__ Jamais aprendi o que eu queria aprender...Vamos para casa?

__ Não precisa fazer isso...

__ Preciso sim! Eu preciso perder o medo e preciso que você me ajude. - Chorou enquanto o abraçava e aos poucos foi se acalmando.

__ Não posso deixa-la sozinha nisso...





De certa forma acontecia o mesmo com Delano, ela sabia que ele também sentia a falta dela e se os dois não decidissem ficar juntos, tudo poderia tomar um outro rumo, o mesmo que os afastara por tanto tempo.





__ Vamos para a minha casa. - Ordenou Suzana.

__ Isso não basta, Suzana. Não posso viver assim. Depois do que vai acontecer...Eu nunca mais vou querer ou poder me separar de você.

__ O que quer dizer com isso? Que não quer ficar comigo?

__ De modo algum! Pelo contrario! Quero ficar com você para sempre...

__ Ótimo! - Seus olhos se encontraram e se mantiveram presos acima de suas nuvens e mil pensamentos ficara por dizer.

__ Vamos poder cantar musicas no reveillon? - Perguntou Suzana.

__ Vamos! - Mesmo consentido aquilo lhe soou um pedido engraçado - Deve ser divertido ouvi-la cantar canções comemorativas.



Ao chegar na porta da casa, Delano passou-lhe à frente e apressado ao abrir o portão para ela disse sorrindo: ‘Bem-vinda de volta a sua casa!’



__ E agora nós nunca mais vamos nos separar!

__ Tem certeza de que devo entrar, Suzana?

__ Claro, e só não sei se deve sair...

__ Tudo bem, você me convenceu. Às vezes fico sem graça quando você fala assim.

__ Tudo bem, eu fico muda...

__ Prometa-me não ficar muda e lhe prometo não ficar também.

__ Prometido! Entre de uma vez!



Já no meio da noite Suzana levantou-se da cama, e não querendo fazer barulho saiu e foi sentar-se no sofá. A casa estava às escuras, exceto pelas luzes que se acendiam automaticamente, todas as noites para sugerir que estivesse habitada.

Parecia que de repente deu-se conta de até onde se aventurava a ir e com o coração batendo forte, voltou ao quarto e fitou-o deitado em sua cama e ela se encantou com a beleza dele. Enquanto o observava ali imóvel, sentiu-se subitamente culpada por estar se sentindo tão feliz e sobre os seus confusos sentimentos com relação a Giovani.

Quieta, deitou-se na cama ao lado de Delano, e por alguns segundos tentou dormir, mas não conseguiu e mexendo de um lado para outro o acordou.



__ Como está se sentindo? - Disse Delano sonolento.

__ Absolutamente maravilhosa! - Suzana ficou momentaneamente entristecida - foi tão difícil deixar tudo ir embora...

__ Sim, eu sei que deve ter sido. - Os olhos dele não se desviavam dos olhos dela.



Ela de repente se perguntou se estaria errada. Sentia-se como uma perfeita idiota, por ter falado aquilo, e se ele entendesse de forma errada e tivesse falsamente concordado. Os olhos dela hesitaram por um momento, e então ela levantou-se e vestindo uma minúscula camisola, ergueu-se de pé na cama como se fosse uma espécie de troféu.

__ O que é isto? O que está fazendo aí de pé?

__ E eu sei lá...Pareço uma idiota...

__ Uma idiota de camisola tão pequena...Daqui posso ver todo o seu esplendor. - Delano correu a mão pela coxa dela.





Suzana voltou a se sentar na cama e enterrou as mãos no rosto. Ficou calada durante algum tempo e depois olhou Delano nos olhos.





__ Está certo, fiquei meio maluca. Isso me acontece às vezes.

__ Essa nossa profissão deixa a gente um pouco doido depois de um certo tempo.

__ Aparentemente! - Ela ficou com os olhos marejados de lágrimas.

__ Você deve estar se perguntando, se tudo isso lhe parece direito. Sofrera perdas, mas, nunca passara por coisas dessas. - Delano parou diante dos olhos de Suzana, com os olhos faiscando, e ela fez uma expressão triste.

__ Desculpe-me Delano...Não tive a intenção. - Começou a soluçar e não conseguiu falar mais. Deitou-se de bruços na cama enquanto soluçava.





Delano começou a lhe alisar as costas e os cabelos. Suzana não queria que aquilo acontecesse, mas, já não tinha forcas e nem tampouco vontade de tê-lo. Ele começou a chorar também. Depois a virou gentilmente de frente para si. Suzana sentia como se todos os seus ossos estivessem derretidos ali na cama. Não tinha forcas para lutar e quase desejava estar morta, mas, os olhos dela diziam o contrario.





__ Eu a amo muito, porra! Isso não quer dizer nada. Esse é o dia certo para seguir em frente e não deixar que a tua vida seja jogada fora, precisamos sair e ver e não alimentar o que temos de medo. Para fazer da nossa força a coragem que nos sobra. Esse é o dia certo para nos livrar da solidão e dos temores de todas traições

e se não soubemos decidir antes e ficamos sem ter para onde ir. Mas então que agora seja em frente porque é para lá que devemos seguir e se ninguém nos mostra a direção vamos confiar um pouco mais em nós e acreditar no que podemos fazer. Esse é o dia certo para abrir os olhos e voltar a ser feliz

Apanhe as lágrimas e seque-as com teu perdão, não se desespere e sempre preste atenção. Embora às vezes achamos que não vamos conseguir, basta deixar que tudo que nos magoa se vá.

Esse é o dia certo para afastar o medo e tentar enxergar um pouco nessa escuridão e depois de tudo ver que a vida é longa quando se está feliz.Então vamos abandonar as pequenas coisas e deixar com que o que existe de bom entre em nossos pensamentos e espíritos E... Vamos ser felizes. - Enxugou as lagrimas dos olhos dela.









__ Isso nunca mais vai acontecer, juro. - Enquanto as lagrimas lhe escorriam pelo rosto, ela não disse mais nada. Delano deitou a cabeça em suas coxas esguias.



Suzana sentiu-se dominada de repente, por uma terrível sensação de solidão, muda, insondável. E já não tinha mais certeza se era isso o que queria. Percebeu subitamente que não queria que delano compartilhasse de sua vida e especialmente agora que se sentia tão abalada e muito mais fraca em seus sentimentos.



__ Suzana, faremos o seguinte: começaremos como iniciantes e apenas vamos concretizar qualquer decisão quando estivermos completamente seguros. Sei que você não sabe o que quer nesse momento. Mas, se desistirmos agora, jamais chegaremos a um final feliz. - Suzana sacudiu a cabeça negativamente e segurou-lhe a mão.

__ Não vamos fazer isso ainda! Por favor, Delano vamos nos dar uma chance, apesar de mim. Você sabe que eu sempre fugi de qualquer relacionamento e lhe imploro, não me deixe estragar esse, seja paciente comigo! - Era como se uma criança suplicasse para ter de volta o seu brinquedo - Preciso de você ao meu lado.

__ Tudo bem, vamos superar tudo isso. - Ele sorria timidamente.

__ Vai se casar comigo então? - Sua expressa suave não se alterava e Suzana permanecia entre a duvida em seus conflitos e a vontade de acabar com esses sentimentos que a castigava e a tornara vazia e solitária.

__ Vou!

__ Está certo! Deixarei que volte para cá amanha e depois e depois. Não agüentaria ficar sozinha sem você.

__ Nem eu! - Replicou Delano jogando-se sem seus braços.

__ Verdade! Se eu tiver sorte, farei você ficar apaixonado, mesmo antes de você voltar amanha.

__ Como? - Olhava para ela com os olhos arregalados e felizes e parecia ter a metade dos seus trinta anos.







Suzana riu da expressão facial dele e fazia algum tempo que ela sabia que ele era assim divertido e bem-humorado, quando se tratava dela.

Dali em diante, eles passaram cada minuto disponível. A amizade deles se dava numa variedade de níveis e ela nunca tivera um amigo como ele antes. Talvez porque nunca tivesse sido a mulher que era agora. Fortalecera-se ao longo dos últimos meses, estava mias forte do que sonhara estar.



__ Que bom ter conhecido você, Delano! - Com a voz macia e rouca disse o que queria dizer. Delano assentiu devagar com um aceno, sentindo tudo o que ela sentia, a paz e a compreensão que fluíam entre eles. Rodeou-lhe os ombros com o braço e a fez sentir a mesma forca serena que lhe parecera bem gostosa. Gostava do peso do braço dele, do toque de sua mão, do seu cheiro. Ele exalava uma mistura de colônia e loção pós-barba, tinha um cheiro que combinava com a sua aparência, a de um homem forte e atraente.



Delano olhou-a naquele momento e notou que uma lagrima deslizava por sua face. Aquilo o deixou nostálgico e puxou-a mais para junto de si.



__ Está triste, amor? - A voz era profunda e meiga ao mesmo tempo.

__ Não...Estou feliz...Aqui desse jeito...Apenas pensei em meu irmão, que sempre tentou ser feliz e quando pela primeira vez na vida pude vê-lo realmente feliz, Deus o chamou. - Suzana ergueu os olhos - Sei que não devo pensar dessa forma, mas, estou viva e é como se eu estivesse semimorta por muito tempo. - Era difícil para ela dizer aquelas palavras, mas, precisava faze-lo - Eu achava que devia estar morta, só fiquei viva por causa do meu trabalho, mas, agora eu estou vivendo por mim mesma.





Capitulo 12





Delano ficou em silencio por um tempo que parecia interminável, sentia a mudez das coisas, e com o rosto muito próximo do dela, observando-a, depois falou:



__ Você tem direito a uma vida própria. Já pagou o seu tributo. - Beijou-a suavemente nos lábios, e foi como se uma flecha a tivesse varado. O toque dele atingiu-a no âmago e ela ficou sem fôlego quando os seus lábios se tocaram e ele a abraçou tomando o seu rosto entre as mãos e ficou olhado-a serenamente. - Suzana onde é que você estava a minha vida toda?



Delano beijou-a de novo e desta vez, ela passou o braço pelo pescoço dele e o apertou bem junto de si. Ela pensava em fica agarrada a ele pelo resto de suas vidas, sem jamais o largar, e ele abraçado a ela, a pedia em silencio que fizesse assim.

Dali a pouco as mãos dele começaram a passear lentamente pelo os ombros dela, depois desceram para os seios e finalmente entraram por baixo da blusa. Suzana soltou um gemido baixo e ele a apertou um pouco mais, sentindo a tesão crescente nela.



__ Não quero fazer nada que você não queira... _ Suzana sorriu sacudiu a cabeça e o beijou.



Ela o fitava enquanto tirava os grampos que lhe prendia os cabelos, desmanchava o coque, deixando que seus longos, negros cabelos lhe cobrissem os ombros e as costas abaixo.

Delano correu os dedos pelos ombros dela, tocou de novo o rosto e depois de retirar a sua blusa, tocou-lhe os seios e com as suas imensas mãos tentava cobrir-lhe os seios, que escapava pelos lados, e depois voltou com suavidade para as suas coxas e ela não pode deixar-se contorcer de prazer, quando ele beijou-lhe as pernas.



__ Suzana...- Ele sussurrava o nome dela.



Deitados no sofá, Suzana sentia todo o seu corpo latejar de prazer, então, ela levantou-se e segurou a mão dele e o conduziu até quarto.



__ Tem certeza?

__ Está tudo bem! - Murmurou enquanto se despia por inteira. Parada, miudinha, o corpo perfeito, a pele brilhando, os cabelos negros quase azuis.





Delano pegou-a no colo e a colocou na cama, e despiu-se lentamente, largou as roupas no chão e se deitou junto dela. Suzana virou Delano de barriga para cima, passou a roçar-lhe o corpo nu contra o dele. O toque de sua pele de cetim quase o desnorteou, e ânsia que sentia por ela não podia ser controlada. Mas, foi ela quem tomou o rosto dele entre as mãos e que o abraçou enquanto arqueava o corpo ele, quando lentamente como uma lembrança esquecida e renascida com forca total e deliciosa.

Suzana sentando vagarosamente em cima da cintura de Delano, e centímetro por centímetro, ele ia penetrando-a suavemente, e eles atingiram um clima que jamais atingira antes.

Finalmente saciados, ficaram deitados lado a lado, o pequeno corpo dela entrelaçado no dele, Suzana ia sussurando-lhe no ouvido que o amava.



__ Eu também, Suzana. Sabe Deus o quanto... - Enquanto falava ela ergueu os olhos para ele e com um sorriso sonolento, enroscou-se mais e fechou os olhos e adormeceu nos seus braços. Mulher de novo, a mulher que jamais fora, a mulher de Delano.



__ Hei! Acorda! - Era Delano com o café da manha.





Suzana espiou por cima do ombro ainda nu e com um sorriso, e espantada por ver que se sentia à vontade diante dele.



__ Hum! - Ela estava ligeiramente adormecida. - Delano sorriu olhando para as nádegas nuas de Suzana.

__ Tem uma bunda e tanto sabia?

__ Cale a boca e venha comer esses ovos comigo - Disse cobrindo-se com um ar de fúria.

__ Que ótimo inicio de romance!



Porem o romance entre eles apenas começava. Ainda deram um jeito de se amarem outra vez antes de saírem para o trabalho.



__ Não sei se vou ter forcas para trabalhar hoje, depois de tanto fazer amor. - Disse com uma voz rouca e feminina.

__ Ótimo, então fique em casa que eu cuido de você.

__ Aposto que sim! - Suzana riu alto fechando o zíper do seu vestido.

__ Você sabe mimar um homem...

__ Você é que está me mimando. Você me faz feliz como nunca fui e quero que saiba disso.

__ Vou me lembrar o dia todo e sempre. Quando eu vir para cá, eu vou passar no supermercado e lhe preparar um jantar...

__ Viu! Como é você que está me mimando. - Disse atirando um travesseiro contra o peito de Delano.

__ Com essa péssima mira, acho que terei que ficar mais perto de você...

__ Vem aqui, seu meninão...

__ E se eu não fizer o que manda...Vai atirar outro travesseiro?

__ E o que faria? Sairia correndo porta afora e nunca mais voltar?

__ Como se eu pudesse faze-lo. - Delano fitou-a com a fisionomia impassível por um longo segundo.

__ Isso certamente é um problema.- Suzana estava descontraída.

__ Quer dizer? A de não procurar você?

__ Sim!

__ Vamos seja realista, Suzana! Você não tem escolha eu sou seu! - Sem dizer nada ele rabiscou no papel: ‘Eu sou seu, Suzana’ e colou no peito.

__ Tem certeza de que é meu? - Rindo ela falou sem o menor constrangimento, e os olhos dela também brilhavam e se encheram de fagulhas.







__ Sabe de uma coisa! Você é mesmo muito maravilhosa. Quer que eu fique com você pela manha? - Suzana demorou a responder, quando falou a sua voz estava mais gentil.

__ Melhor não! À noite nós nos encontramos. - Ele sempre importava objetivo penoso e uma rotina quase insuportável.







Suzana trabalhava quase quinze horas por dia, era sempre paciente, interessada e cheia de calor. Havia negado esse calor somente a si própria, jamais permitira que alguém se aproximasse verdadeiramente dela. Houvera dor demais em sua vida pessoal, perda demais e agora os muros que a cercavam foram todos derrubados.





__ Quer saber, que se dane! - Disse jogando os sapatos um a um contra a parede.

__ Você pode interromper o seu trabalho agora?

__ Se for por uma boa causa...

__ Quer dizer que vamos matar o dia de serviço?

__ Não vou deixar vir à tona todas aquelas velhas coisas. - Seus olhos imensos, radiantes e azuis.

__ Não é da conta de ninguém o que aconteceu com a gente, mas, não teremos como manter tudo em segredo eternamente.

__ Para mim tanto faz saberem ou não...Só não quero a piedade de ninguém...

__ Não precisamos dela!

__ Delano, me ajude a abrir esse zíper antes que eu quebre os meus braços! - Suzana jogou-se nos braços de Delano e ele a apertou junto ao corpo, e ela lutando contra as lagrimas que brotavam com certa facilidade. Suzana estava se acostumando com a sua vida e os dias de solidão compartilhados no antigo quarto, parecia um sonho distante.



Sem perceber as horas passaram r levaram o dia embora e como se despertando tudo fosse parar naquele instante e ser assim para sempre.



__ Oi coração, como vai? - Suzana pronunciou as palavras, e ele abrindo os olhos, soltou um amplo sorriso e depois com grande espanto falou:

__ Que horas são? Meu Deus! Já é noite e nós dormimos aqui... - Afastou-se um pouco para que pudesse ver direito que horas era aquela.

__ Deixe-me acalma-lo! _ Suzana só precisou apertar o seu pequeno corpo de encontro ao dele enquanto o beijava.



Suzana levantou-se em seguida tomou-lhe a mão e de mãos dadas entraram na sala de jantar e ela se sentou com ele à mesa e comeram galinha frita com batatas fritas.



O tempo passou mais depressa que pôde e Suzana pensava em Delano o tempo todo. Cada telefonema, cada encontro com ele, tudo parecia ser gravado a ferro e fogo em sua mente, tudo ficava ali, desfilando o tempo todo, como um filme.

De vez em quando sorria ao se lembrar de alguma palavra, mas na maior parte do tempo, a sua fisionomia permanecia fechada. Não podia acreditar que aquilo tivesse acontecendo, não com ela... E pensar que estava telefonando para falar com a sua mãe sobre o seu casamento.





Tanta coisa já acontecera em sua vida, tanta tristeza e dor, tantos acontecimentos que lhe exigiram uma coragem ilimitada. Isso era merecedor que acontecesse com ela agora e tinha que terminar desse jeito.

Suzana sabia que isso era possível, sim, e o pensamento de que ela ou Delano pudesse morrer antes de chegar à hora do altar, o dia do casamento a fazia tremer.



__ Sim, mamãe! É verdade a sua garotinha vai se casar em breve, o mais rápido possível e você e o papai vão ficar aqui em casa, antes e depois do casamento. - Suzana podia ouvir os soluços profundos do outro lado da linha.



__ É espantoso, sabe? Às vezes acho que são pessoas como você é que fazem as coisas acontecerem ou que elas simplesmente mudem...

__ O que?

__ Minha filhinha...Você vai se casar e nós que estávamos tristes agora estamos felizes de novo...O seu pai está aqui pulando no sofá...





Os grandes olhos azuis de Suzana estavam voltados para o nada, quase que como um robô tentando imaginar como estava sendo aquela cena.



__ Que bom! Vocês merecem coisas boas da vida.

__ Você também, minha filha... - Suzana sentia-se feliz e realizada.





Suzana pensou de novo nisso enquanto Delano guiava o carro lentamente para o nordeste, onde eles ficariam em sua lua-de-mel e guiando assim levariam mais tempo do imaginavam.

Eles estavam maduros para o casamento e tinham o direito de serem felizes e seguiam enquanto cada um ficava imerso em seus próprios pensamentos. Ao chegarem no aeroporto, Suzana tinha a fisionomia fechada. Delano estacionou o carro na vaga e se dirigiu ao portão, ainda confuso com o comportamento de Suzana. Ele simplesmente a abraçou carinhosamente, como se a estivesse protegendo de um perigo.

Suzana ainda remoia intimamente os fatos acontecidos em sua vida. Sentiu o coração bater mais forte quando as pessoas começaram a subir no avião.

Em pleno o vôo, Suzana nervosa agarrava a mão de Delano, que simplesmente a olhava com carinho:

__ Tudo vai ficar bem entre nós dois, meu amor! Acredite-me! - Os olhares de ambos se encontraram e um sorriso aparecia suavemente no rosto de Suzana e nada mais lhe importava, nada exceto Delano.

__ Tudo vai ficar bem entre nós dois, sim, meu amor! - Repetia as palavras de Delano.



Fim

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