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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (17) -- 25/04/2012 - 16:56 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (17)

Estou seguro de que uma generosa dose de música uma vez por semana, deve ser saudável tanto quanto caminhar uma hora por dia. A propósito da assertiva, perplexos que ficamos com a educação básica dos nossos dias, estranho tristemente que se haja eliminado a disciplina música, dos currículos escolares.

Houve um tempo em que, mesmo sem declinar talento ou não, as crianças podiam ter acesso ao mundo maravilhoso da música, erudita ou popular. O privilégio que tenho de haver estudado em escola pública, deveria se ampliar para todos, indiscriminadamente, com a mesma importància da matemática (que a maioria diz detestar) e português (que a mesma maioria não aprende porque não lê).

Na escola pública, até os anos sessenta, se podia estudar latim ou grego e se podia optar por ser membro de uma banda de música, no meu caso específico. Talvez à sua falta, atualmente, a desculpa que mais se ouve, em relação a tais assuntos é sempre: falta de paciência para ler, preguiça mental para aprender símbolos ou, no caso da música, confundir gosto com ignorància musical.

Curiosamente, no papel de assíduo degustador de boas doses semanais da invenção de Orfeu, resolvi traçar um paralelo entre o frevo "Último dia" de Levino Ferreira da Silva (1890-1970) e a "Quinta sinfonia" de Ludwig van Beethoven (1770-1827).

Se não sabe o ínclito leitor, ambas as peças estão em tom menor e começam coincidentemente com quatro notas musicais, sendo que no caso de Levino, as notas sobem a escala e no de Beethoven, as notas descem a escala. Aqui não se trata de presunçosamente querer fazer uma crítica tecno-musical a ambas as obras, longe de mim, mas apenas comentar o lado sombrio das duas, respectivamente.

O tom menor é triste, dramático, trágico. Como? Um frevo saltitante, em compasso binário? Isso mesmo, caríssimo leitor. Contraditoriamente, a alegria do compasso não condiz necessariamente com a tristeza do leit-motiv, no dizer germànico.

Pessoalmente, sinto o frevo de rua de Levino, como uma obra de beleza ímpar, beirando a perfeição e talvez constitua sua obra-prima, para alguns estudiosos do tema. A densidade inicial da peça persegue o mesmo tónus até o último acorde. À fermata intermediária, como se estivesse bradando seu queixume, seu lamento, segue-se um pianíssimo, com o desenho fantástico dos metais e cordas. Jamais ouvi igual num projeto de frevo de rua.

O mestre de Bonn, taciturno, sisudo, abusado e genial, não deixa por menos. Tocada e repetida ad nauseam, talvez alguns especialistas expressem ser a Quinta, uma espécie de náufrago relutante, dês que se tornou popular, até, para alguns, uma obra popularesca. No que eu não concordo nem com um revólver na cabeça. Beethoven é a grande "consumação do século", no dizer de Otto Maria Carpeaux, crítico de arte, naturalizado brasileiro.

Levino Ferreira nasceu em Bom Jardim, Pernambuco. Na Escola Industrial Governador Agamenon Magalhães, no bairro da Encruzilhada, zona norte do Recife, onde estudei o antigo ginásio, ouvíamos falar muito do maestro. Além de termos executado suas obras, incluindo "Último dia". Dessa modesta banda de música, saíram grandes nomes da música pernambucana, incluindo Naná Vasconcelos, a quem eu tomava a lição de solfejo e ele, preguiçosa mas simpaticamente, aceitava. Deu no que deu, não é?

O amor pela música, que nem uma doença contagiosa, me fez tornar-me um compositor popular, nem dos piores, nem dos melhores. Mas juro que afirmo isso, não para publicar currículo ou lisonja, mas para incentivar a rapaziada de hoje a estudar música básica e ilustrar os ouvidos de fora e de dentro, como falava o maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959), nosso grande nome nacional.

Não será de mau alvitre incentivar algum desses pacientes leitores a estimularem filhos, sobrinhos e netos a se viciarem na minha droga predileta. Mas cuidado, tomem-na em doses homeopáticas e em baixo volume, porque, apesar de não ter nenhuma contraindicação, pode causar algum mal ao ouvido interno e incomodar o vizinho externo.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe, 25.04.2012
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