Lançando seu mais recente CD, Só Tenho Tempo Para ser Feliz, o músico, compositor e intérprete Toquinho brindou o público paulistano com um show inesquecível no DirecTV Music Hall no último final de semana (18/19/20 de Julho).
Um espetáculo precioso. Na abertura, uma jogada de mestre. Os experientes músicos apresentaram-se como se estivessem no término da apresentação solando com virtuosismo. Uma troca de protocolo inteligente. Os momentos a seguir foram ainda mais brilhantes.
Lembrei dos shows do Palace (atual DirecTV Music Hall) e peguei carona nas asas das canções apaixonadas dos tempos de Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Antonio Maria, Baden Powell e tantos outros. Toquinho apresentou duas belíssimas canções de seu novo CD, petrificou a platéia com o talento de seus malabarismos inacreditáveis ao violão e contou histórias engraçadas da parceria com Vinicius. Parecia, porém, ter como objetivo central conduzir seu público, com emoção, ao êxtase da lembrança de cantar com ele o que nossa MPB não tem como esquecer.
Em determinado momento, o dono da festa chamou ao palco sua convidada especial: a cantora, violonista e percussionista Badi Assad. Sensacional. O mestre de cerimônias sem cerimônia alguma deixou bem claro, assim, que o que deve imperar sempre é a qualidade do que está sendo apresentado. Que diferentes gerações podem conviver lado a lado aprendendo umas com as outras.
Estamos acostumados a ouvir da crítica especializada que alguns artistas pecam por não reciclar suas composições ou não experimentar novas tendências. Não ouvi ou li nada a este respeito sobre o novo trabalho de Toquinho. Ele mantém o estilo de sempre. Antes que digam, declaro... Reciclar para que? Para que dêem ainda menos valor à nossa cultura, à história da nossa música popular brasileira? O público deste artista em específico curte a música popular genuína, quer ouvir exatamente o que faz e tem em mente. Não quer remix do que já é belo e irretocável.
Recentemente alguém do meio não gostou de um de meus comentários a este respeito e interrompeu o contato que mantínhamos com freqüência regular. Eu apenas disse que no Brasil não existe memória cultural. Incontáveis artistas excelentes com carreiras maravilhosas são obrigados a deixar de gravar, vendem menos shows e terminam por abandonar suas trajetórias prematuramente, esquecidos pela mídia e, conseqüentemente, pelo público. Creio que Toquinho concorda comigo, pois teceu um comentário parecido durante o show em São Paulo.
O que eu disse está errado?
Estou convicto de que é a mais pura verdade. Temos espaço para todos os gêneros novos ou não. Nossos músicos não são devidamente reconhecidos em seu próprio país e isto é fato.
O cantor que não quis mais papo disse: “Eu não estou preocupado com este tipo de coisas. Quero seguir meu caminho e pronto”. Assim é fácil! Lavamos as mãos e tocamos o barco? Para quem trabalha com cultura e ama a música brasileira, sobretudo, é doloroso ouvir de um jovem de vinte anos de idade... - Quem é Toquinho???
Vou dizer. Antonio Pecci Filho, o Toquinho, está completando 38 anos de carreira. Tem 80 discos gravados, mais de 300 composições e 4 mil shows por todo o mundo. Foi fiel parceiro de Vinicius de Moraes e, acompanhando o amigo, nos deixou verdadeiros clássicos. Com a perda do mestre e companheiro de estrada o músico prosseguiu sozinho com álbuns notáveis de personalidade marcante. Um mais belo que o outro.
Este jovem em questão deve estar pensando neste exato momento...Tô nem aí! Tô nem aí!
Tudo bem. Fazer o que? Será que corrigiremos este desvio de caráter coletivo cultural?
Visite www.toquinho.com.br . Tenha tempo para ser feliz e compre o CD.
Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista.