TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (21)
Anna Jarvis era americana do norte e nasceu no século dezenove, no estado da Virgínia. Depois da morte de sua mãe, caíra num estado depressivo e algumas amigas, para ajudá-la a superar o ocorrido, resolveram efetuar uma confraternização, visando à perpetuação da data.
Mas Anna queria muito mais. Ela estava pugnando ferrenhamente, para que a data fosse estendida a todas as mães e tal esforço iria durar três anos.
Enfim, no mês de abril de 1910, o governador da Virgínia ocidental, por decreto, resolveu introduzir a data no calendário estadual. Alguns anos mais tarde, a repercussão do episódio se alastrou tanto, que o próprio Woodrow Wilson, um presidente conservador, incorporou a data, o dia das mães, ao calendário nacional.
De fato, Anna erigira um memorial à sua mãe, dando início à campanha para que o dia fosse comemorado por todas as mães americanas.
Coincidentemente, a ocorrência se deu num dia 12 de maio, dois anos depois da morte de Ann Maria Reeves Jarvis, que viria eternizar as comemorações ao redor do mundo, especialmente no mundo ocidental capitalista cristão.
Aproveitando o ensejo, certo arcebispo do Rio de Janeiro autorizou a inserção dessa data no calendário católico brasileiro. Afinal, uma decisão constantinista aqui e acolá, sempre será bem-vinda, concorda?
Mas foi exatamente por esse motivo mercantilista, que sua própria inspiradora, Anna Jarvis, não se satisfez, já que na década de vinte, a comercialização tomou conta do feriado.
Vai ver a nobre e visionária senhorita, teria esquecido de que os Estados Unidos, o proto-inventor do capitalismo universal, jamais se privaria de transformar Tio Sam em um grande propulsor do PIB maternal.
Por isso, revoltada por terem tornado uma ideia inocente e quase transcendental em moeda de troca, miss Anna foi escafeder-se em um xilindró.
Ela reivindicava direitos autorais sobre o segundo domingo do mês de maio, chegando inclusive a perturbar a paz municipal e para tanto ser incriminada.
Por se tratar de uma mulher aquinhoada, torrou com sua irmã Ellsinore a fortuna familiar, fazendo campanha contrária à comercialização do feriado, fundando inclusive uma Associação Internacional para o dia das mães.
Desgraçadamente morreram na pobreza, provavelmente porque ambas se esqueceram, de que não se pode lutar contra um inimigo desses sem que antes se dê conta de que é melhor juntar-se a ele.
A par do não menos original propósito de que o maior aliado das invenções é o deus dinheiro, todo o ocidente acatou a belíssima iniciativa, que até hoje não é fixada apenas como uma mera comemoração, mas como um belo $inal de incremento na receita dos lojistas.
Como toda tradição implica necessariamente uma contradição, miss Anna Jarvis, nossa emérita e providencial idealizadora, jamais cometeu o casamento ou teve filhos, só para não fazer jus à sua primorosa descoberta.
E por falar nisso, nobre leitor(a) corra, avie que ainda há tempo de adquirir seu cibernético presente, em módicas prestações mensais e com um jurinho, ó... do tamanho inversamente proporcional ao amor de sua querida mãezinha.
p.s. - conta-se que desde os gregos antigos, a primeira comemoração do dia das mães, teria sido efetuada pelos deuses à mãe RHEA, entidade primordial da mitologia.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe, 11.05.2012
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