Décima terceira sobrinha
Aroldo Arão de Medeiros
A sobrinha sobre quem farei alguns comentários considera-se a primeira entre os primos. Ela não esquece a primeira bicicleta, o primeiro sutiã, o primeiro namorado, a primeira vez que beijou.
Sem a primeira não há a segunda. Assim é a segunda chance que se dá a alguém. Se não passar no vestibular, existe a possibilidade de ser chamado posteriormente na desistência de alguém. Para mim, entretanto, a segunda oportunidade anda se esvaindo entre os dedos. Tenho quase a certeza de que estou na segunda infància, pois fico com vontade de soltar pipa, brincar de pião e assistir desenho animado com os olhos bem abertos para não perder detalhes. Parece mesmo que estou na idade da inocência, que vai dos três aos sete anos.
Bem diferente de minha parenta que está na flor da idade. No meu caso, sou um pássaro de porte avantajado, coloração preta de nome condor. Com dor nas pernas, com dor nas costas, com dor no peito e assim por diante. Estou na terceira idade com dor, aliás, com certeza.
Nas quartas-feiras me revigoro ao encontrar os amigos para jogar futebol e dominó. Os que não gostam de colocar as pedrinhas sobre a mesa falam que é jogo de velho. Afirmo que não, pois dentre os quase trinta participantes, ainda existem cinco com menos de sessenta anos. A filha do meu irmão, nas quartas-feiras procura algo diferente dos fins de semana. E sempre encontra uma quarta-feira sertaneja com ou sem o namorado.
Não me considero um cara de primeira categoria, mas para chegar à quinta categoria falta muito chão. Teria que andar na contramão e poderia até chegar aos quintos dos infernos. Já sobre a bela, no final desta explanação vou fixar no papel (ou no computador) a que categoria ela pertence.
Os supersticiosos acreditam que toda sexta-feira dia treze é dia de azar. Ainda mais se cair em agosto, considerado o mês dos trinta e um dias de desgosto. Para não fugir à regra da maioria, nesses dias me previno. Saio a pé para não sofrer acidente, mas não vou muito longe para não ser atropelado. A urucubaca está grande para quem não se cuida e crê nessas coisas, como eu.
No sétimo dia Deus descansou. Aproveitamos esse dia e fazemos todo tipo de festa: futebol, quermesse, baile, boate, passeios, etc. A pequerrucha, (pequerrucha de tamanho, bem entendido) só quer balada no sétimo dia da semana. Vez ou outra vai ao shopping e se atualiza visitando a sétima arte, com ou sem seu gato.
Para alguns brasileiros a oitava maravilha do mundo são as Cataratas do Iguaçu. Já estive visitando e sou obrigado a concordar. A beldade diz que se ela fosse guia turística levando o pessoal para conhecer as cataratas, ninguém diria que é a oitava maravilha, pois ela tomaria esse lugar, fácil, fácil.
O nono mandamento da Igreja Católica é: Não cobiçar a mulher do próximo. O brasileiro, craque na esperteza, diz que não devemos cobiçar a mulher do próximo quando este estiver muito próximo. A elegante jovem fala que é cobiçada por muitos homens todos os dias. Faço que acredito para não perder a amiga.
A décima praga do Egito, segundo a tradição judaico-cristã, enviada por Deus pelas mãos de Moisés sobre o Faraó e seu povo, foi a morte dos primogênitos. Sorte minha e da personagem, caso fosse novamente lançada essa praga, pois não deixaríamos a vidinha terrena, uma vez que não fomos os primeiros a sermos gerados em nossa família.
A Décima Primeira Dinastia consistiu de sete reis que governaram por um total de 143 anos. Entretanto há controvérsias. Manetho diz que constavam de 16 reis, que reinaram por 43 anos. Segundo a baixinha sobre quem escrevo, essa dinastia é governada por uma rainha que nunca perderá a força e que será insubstituível, mesmo após sua morte: ela mesma!
Para podermos tratar melhor da incumbência de falar sobre a bela e a fera, ela e eu, consideraremos que o décimo segundo apóstolo era Judas. Como não sou traidor e ela não é Judas não nos enforcaremos e seremos felizes até quando for chegada nossa hora.
Certo dia estava com o computador ligado e o MSN aberto. Minha sobrinha me deu um aló. Respondi e ela, no afã de me agradar, escreveu:
- O senhor é o melhor tio que tenho.
Respondi assim:
- Tu és a décima terceira sobrinha que mais gosto.
Esperei alguns segundos até ela se recuperar do baque e só então teclei:
- É brincadeirinha...
Parei para pensar quantos sobrinhos eu tinha e constatei que eram quatorze, ou seja, ela só era melhor que um. Coitada.
Mas tudo não passa de zombaria, divertimento desse velho tio. Quero deixar claro que ela é a sobrinha que mais gosto, de verdade. Além de alegre, bonita, artista, simpática, ela gosta de mim.
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