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Cronicas-->A VIDA SÓ É DURA PARA QUEM É MOLE -- 02/06/2012 - 20:42 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A VIDA SÓ É DURA PARA QUEM É MOLE
João Ferreira
Vila Pouca de Aguiar, 2 de junho de 2012

O Senhor Zé da Terra estava todo pimpão pronto para tomar um café no andar superior da Rodoviária de Vila Pouca de Aguiar.Muito firme e já de olhos na colherinha com que ia mexer o café disparou o verbo voltado para a dona do bar:
-Minha senhora, diz-se por aí que a vida é dura. Quanto a mim, ela só é dura para quem é mole. No meu caso, por exemplo, não é dura porque eu luto e aceito a vida como ela é e como ela vem...
Zé da Terra disparou a sentença e deixou no ar mil interrogações. Várias pessoas ouviram mas ninguém piou. Eu fui à minha vida, vim para a rua remoendo a frase e agora me apeteceu escrever esta crônica depois que visitei na tarde de hoje as aldeias transmontanas de Raiz do Monte e Campo de Jales no concelho de Vila Pouca de Aguiar. Estive na casa do empesário e empreiteiro Domingos de Raiz do Monte. Uma pessoa muito interessante e cheia de iniciativa. Uma pessoa que começou a trabalhar aos doze anos como ajudante de pedreiro já como arrimo de família e que depois foi para Lisboa como pedreiro e ladrilheiro emigrando mais tarde para a Suiça, de onde veio três anos depois. Tive oportunidade de ver o trabalho do Domingos hoje e pude conhecer sua iniciativa empresarial na aldeia transmontana onde vive com a família, especialmente seu trabalho com granito em oficina própria, talhando granitos para túmulo, cuidando de suas propriedades rurais e dos terrenos que tem para depósito de máquinas e material. Domingos construíu, organizou e foi Presidente durante 14 anos da Associação local onde formou um rancho folclórico.Poderíamos enumerar outras várias iniciativas. Domingos tem uma família: é ele e a mulher e três filhos homens, o mais velho com dezenove anos, frequentando a Universidade de Vila Real e os outros dois estudando. A mulher complementa as tarefas familiares e empresariais. A aldeia fica em lugar bastante alto, no meio da serra, onde os invernos trazem geada ou neve e tornam a vida mais sacrificada. Inicialmente, ele era pedreiro especializado, mas com o tempo virou empreiteiro e mestre de obras, com equipe de trabalho formada. Ele me diz que na aldeia se vive bem. Não se sente a crise. O dia a dia é o trabalho e as pessoas têm sua economia própria. A maneira prática de não passar necessidade é programar os gastos, comprando as coisas nas boas oportunidades e guardando os produtos na arca ou frigorífico. Há bastantes propriedades aqui, todos têm casa e uma terrinha, há hortaliças, frutas, alguma culturas, animais. E vive-se bem. Mata-se uma vitela, um cabrito, um porco, compra-se carne para guardar no frigorífico. Não há miséria, em rigor. A pobreza sustenta-se do trabalho. As casas vão se modernizando com chauffage e tecnologia básica. A aldeia tem estação de tratamento de saneamento básico, energia e água encanada, mercados ambulantes e supermercados bem próximos. Só não há banco nem posto de gasolina. Mas isso tem a 11 km em Vila Pouca de Aguiar. É terra com vários emigrantes na Alemanha, Suíça e França, que constroem e trazem dinheiro para a terra. Ali ao lado de Raiz do Monte está Campo de Jales. É uma terra com minas de ouro paradas há vinte anos e prontas para reabrir a atividade agora. Os romanos já exploravam o ouro por aqui há cerca de dois mil anos. Em Campos, ao lado de Raiz do Monte, há restaurantes junto à estrada, oferecendo alternativas aos moradores e aos turistas, assim como supermercados. Há moradias boas, muitas delas mansões e muita tranquilidade. Pode se viver tranquilamente aqui, não há estranhos. As pessoas nem se precpupam em fechar com chave suas casas. Por vezes deixam o carro com a chave na ignição. Uma vida pura, uma vida dura, de trabalho, confiança, tranquilidade e paz. Vida de aldeãos que se conhecem. As crianças e os jovens vão para as escolas de Vila Pouca. Uma carrinha os busca e os traz. Têm almoço e merenda dados pela escola pública. Vão e voltam em horários próprios e os pais sabem os horários para os preparar para a escola e para os receber. Em Campo de Sales há um famoso escultor de peças em madeira, que tem vários ateliers e centenas de peças que mereceriam uma exposição pública, pela variedade e valor. Seu nome é Otávio e as formas engenhosas e populares de suas produções deveriam merecer uma atenção especial da secretaria de cultura da região. Vale a pena visitar. Depois de tudo, lembrando o Senhor da Terra que encontrei na Rodoviária de Vila Pouca, poderia repetir também que "A vida só é dura para quem é mole". Para pessoas que entendem, se organizam e aceitam tocar a vida como deve ser tocada, a vida é apenas vida. Domingos e Filomena, de Raiz do Monte têm uma vida de trabalho e de confiança em si próprios. São criativos e desenvolveram uma rotina de trabalho e investimento criando um belo e enorme patrimônio. Têm um casarão com o conforto de uma casa rica como a de um ricaço da Schwarzwald na Alemanha com aquecimento em toda a casa. E têm um largo patrimônio todo na base do trabalho. Vida que é vida pode ser assim uma linda epopeia. De trabalho e confiança, como a de Domingos e Filomena. Vida que é vida não tem moleza...
João Ferreira
Vila Pouca de Aguiar, 2 de junho de 2012

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