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Cronicas-->NO CAFÉ COM CHARLES DARWIN -- 06/06/2012 - 16:28 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

NO CAFÉ COM CHARLES DARWIN
Crônica urbana
João Ferreira
Porto, 06 de junho de 2012

Numa cidade tranquila como o Porto sabe muito bem aproveitar os afagos do clima de primavera, bem presentes numa época destas. Portugal está agradabilíssimo. Aproveito e páro um pouco na mesa de um café na Avenida dos Aliados. Ao lado, está instalada a 82.a Feira do Livro do Porto. A Avenida, também chamada da Liberdade, ganhou outra feição e outro movimento e eu sinto a atmosfera. No espaço central da Avenida estão montados com muita classe os vários boxes e contêineres que apresentam e comercializam os produtos bibliográficos das editoras portuguesas.É um evento seleto para pessoas com interesse na cultura. Percebe-se por isso a atitude das pessoas quando passam. As que têm alguma intenção de parar junto aos boxes por curiosidade ou por interesse e aqueloutras que são estranhas ao evento.
No que a mim toca, descobri que tinha comigo uma oportunidade única de me colocar ao corrente e de me atualizar sobre o livro português. Vivo longe, em Brasília, e oportunidades como estas são raras. Frequentei já algumas bienais de S. Paulo e Feiras do Livro em Brasília. Mas com outro espírito. Digamos que a maior parte das vezes eu ia para uma bienal como quem se dirigia a uma livraria múltipla, com a intenção imediata de ver para comprar. É certo que sempre somos alguém que ultrapassa o próprio evento na sua imediatidade. Todos gostamos de descobrir coisas, de encontrar novidades, surpresas. Mas  feira, em rigor, é feira. É o visitante, por fora, que tem de dar mais coisas à feira. Isso acontece quando vai com um espírito cultural aberto, sem pressas e sem esquemas rígidos. Pode acontecer, dessa maneira, que para ele e para a feira, as coisas criem outras dimensões que podem ser úteis à cultura do livro e das pessoas. Neste momento, por exemplo, estou visitando a feira dos Aliados por mero prazer, à conta de um tempo livre que tenho. Exatamente nesta condição e para dar um tom diferente à minha rotina, resolvi moderar minhas tendências habituais, depois de visitar alguns estandes em que o interesse central convergia para textos de literatura portuguesa e para as áreas de crítica e de teoria literária. De momento seria salutar dar um pouco de liberdade â cobiça de meus olhos. Dentro da dinâmica dessa cobiça havia a indicação clara de que se haviam fixado em alguns títulos da coleção "Grandes Clássicos da Literatura Universal". E como sói acontecer, depois de os olhos terem percorrido vários títulos, houve um que ganhou a corrida. Foi "A Origem das Espécies" de Charles Darwin. Haveria que respeitar. Comprei. E por que não? É um volume clássico que revolucionou a mente da civilização mundial. Depois de Darwin, a ciência mudou. Henri Bergson(1859-1941) e Leonardo Coimbra(1883-1936) foram importantes leitores de A Origem das Espécies. Os dados da ciência foram apresentados ali. Bergson e Leonardo Coimbra queriam saber ainda quem gerou a vida e como se explicam os vários graus de consciência que estão presentes na matéria vegetal e animal que está sujeita à evolução. O debate continua. Por isso é importante ler e reler, complementar, pesquisar e interrogar, e prosseguir no estudo das teses da Darwin. São 590 páginas, bem repartidas entre Introdução e capítulos, com a tradução de Joaquim Dá Mesquita Paul, Médico e Professor. Eu que tantas vezes citei e folheei "A Origem das Espécies"(1859)quando tinha de explicar o naturalismo realista de O Primo Basílio de Eça de Queirós, tenho mais uma vez a obra completa em mãos e disponho do tempo necessário para fazer mais uma leitura, talvez mais atenta e mais completa. Trata-se de uma edição muito boa, vernacular. Eu estou ao ar livre, comodamente sentado a uma mesa da Ateneia Confeitaria, livre para fazer esta leitura. O volume abre com uma apresentação e introdução. Depois seguem-se 14 capítulos que desenvolvem a tese darwiniana da origem das espécies. O último capítulo é dedicado a recapitulações e conclusões, terminando com um glossário ou índice remissivo de termos. O ponto alto do livro está no capítulo IV onde se trata da base da tese do livro sobre "A seleção natural ou a persistência do mais apto" (pp.105-161): "Dei o nome de seleção natural ou de persistência do mais apto à conservação das diferenças e das variações individuais favoráveis e à eliminação das variações nocivas. As variações insignificantes, isto é, que não são nem úteis nem nocivas ao indivíduo, não são certamente afectadas pela seleção natural e permanecem no estado de elementos varáveis, como as que podemos observar em certas espécies polimorfas, ou terminando por se fixar, graças à natureza do organismo e às das condições da existência"(cap.IV, pág.107).
Pensando bem, vou ter muito texto para reler ainda. Com ele crescerá minha imaginação para trabalhar com textos literários de Eça de Queiroz, Machado de Assis e de outros escritores. A conclusão é: leitura é jogo dinâmico. Os signos literários sempre nos pojetam para mundos desconhecidos. Por vezes vamos neles embalados. Outras vezes resistimos e ficamos em terra. Nossa condição nos aconselha a variar. Umas vezes é bom sermos embarcados pela imaginação e pela fantasia até ao alto, aos mundos transcendentais. Mas outras vezes temos de pagar o tributo aqui em baixo, de pés no chão. De uma forma ou de outra, somos humanos. Voando ou andando a passo, estamos cumprindo condições existenciais que condicionam nosso ser. Porto, 06 de junho de 2012. João Ferreira/Jan Muá.

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