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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (26) -- 10/07/2012 - 15:07 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (26)
Há muitos anos tenho uma quedinha, uma admiração pela Helen Mirren. É uma veterana atriz inglesa, escolada e com muitos quilómetros rodados. Seguramente deverá ter cursado a Escola Inglesa de atores, a exemplo de John Guilgud, Lawrence Olivier, Anthony Hopkins e Peter O´Toole, só para citar algumas feras da representação artística britànica.
No caso de Helen (gostaram da intimidade?), impressiona-me sua máscara possível e reciclante para cada protagonista que desempenha, desde a caracterização da rameira Cisónia, no épico de Gore Vidal, "Calígula", onde ela é sodomizada pelo não menos pervertido Imperador homónimo, na Roma pagã. Ambos, ela e Malcolm MacDowell, no papel do maníaco, eram ainda incipientes na arte de representar.

Para compensar, ela compós uma interpretação primorosa vivendo a Rainha Elizabeth recentemente, quase arrancando um Oscar, se minha memória-etarite não me falha. Se você leitora ou leitor apreciam a sétima arte, veja na tevê a cabo, o filme "Garotas do calendário", uma produção eco solidária, com um script tão bem elaborado e desenvolvido, quanto a interpretação magistral das mulheres que o personificam. Nele se pode aprender também a diferença entre naked e nude, considerando que o segundo se refere à nudez artística não convencional.
Com um talvez atenuante: as mulheres são todas acima dos 60 anos de idade, o que torna a trama bem mais instigante e promissora. Mas não esperem conferir pornografia, porque, por melhor que fosse, não é o caso. Por uma boa causa, qualquer mulher madura, bonita ou não, despir-se-ia à grande. O fundamental é que torne o mundo menos acre e violento, contraponteado pela solidariedade, que é a única virtude que justifica plenamente a existência humana, ao menos para mim.

A propósito de Helen Mirren a atriz, coube-me ver recentemente um documentário sobre Glauber Rocha, o enfant-terrible do cinema de autor dos anos sessenta, artista implacável e cronista de um tempo tortuoso. A bordo, desfilam os componentes de sua família, a mãe, a irmã e, como não deveria faltar, a hoje macróbia Helena Ignez. Tempos esses em que um jovem desenhista da SUDENE, se extasiava com aquele ícone quase greco-romano. Em detalhes: Glauber fora visitar o órgão de desenvolvimento e levara a tiracolo, sua bela e porcelànica mulher.
Nós, simples mortais funcionários públicos, paramos todos em suas pranchetas, para admirar a beleza de Helena, quase uma deusa, de pele rósea e olhos brilhantes e curiosos.
Duvido que na noite daquela tarde encantada, alguns desses desenhistas e o restante do público, não tenham cometido algum deslize sensorial. Duvido também que algum desses jovens e viçosos rapazes não se tenha obnubilado em sua fértil imaginação, despindo a atriz-esposa, a sentir seu almíscar perfume, que pude sentir tão de perto. E não paro de imaginar que não nos tenhamos sido assaltados pelo deus Onam, em toda sua magnànima generosidade.
Como o tempo se nos é implacável. Como a gravidade newtoniana é comprovada quando pude visualizar de pertinho, os seios túmidos quase ocultos no vestido de seda, curto e bem cortado, sobre aquele modelo escultural de tez indescritível.

Na tela, uma Helena não mais troiano-baiana, mas uma macróbia, à la mode. É muito provável que, mais jovem do que a outra Helena, a Mirren, salvo erro ótico, aparentasse ser mais velha e alquebrada e de cuja beleza física, se preservara tão-somente um ar de atriz protegida pelo marido criativo, morto precocemente aos quarenta e dois anos de idade. As Helenas, todas, que me perdoem, mas a velhice é crucial e inevitável. Conheci outras Helenas, que também foram jovens, sedosas e desejáveis. Dignas de nosso melhor esforço.
Flagrante nisso tudo é que a filha de Glauber, retratada no filme, não parecia ter sido tão consumida pelo deus-tempo. Que pese nunca tê-la visto, pude observar quase microscopicamente, um viço, certo ar de jovialidade, posto que esta não resida na aparência, mas na atmosfera que emana de dentro para fora.

Todos envelhecemos com ou sem dignidade. Com ou sem medo. O sentimento machista latino, porém, espera debalde que a beleza física se preserve e se perenize para seu gáudio. Qual o que! Como recompensa, resta o ar óbvio de se saber que na memória, nalgum arquivo recóndito, repousa a imagem anterior, propiciada por um tempo antanho, que não retorna e, se retornasse, seria uma farsa, apenas num falso replay, em preto-e-branco e esmaecido, como num filme mudo.

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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
10.07.2012


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