(...seguram as pétalas da amizade)
Já não sou cúmplice do silêncio,
sinto-me mais o seu carrasco,
a porta do ruído, o vórtive sujo
da incomunicação. Não sou asa
nem olhar, nem aromas. O dedo
insidioso da sombra desenhou
tatuagens de medo, silhuetas
de falsos fantasmas, garras
inexistentes a fazer-me cair
nas pegadas que não ouso dar.
Deixei de respirar luz, este pó
incoerente da solidão arde-me
em nuvens de fogo manso,
turva os lagos do olhar, queima
as pétalas dos dedos dóceis.
Um vento sorridente tarda
em eclodir... talvez seja
a pele demasiado entporpecida
que nem sente a brisa
da intimidade, talvez que
os dedos lodosos do medo
tenham atolado a alma,
a luminusidade oca
da imaturidade tenha ruído
face à sombra premente
dos passos necessários.
Queria sentar-me num rio.
Aquele que nunca teve margens.
E era ponte e vida em flor.
Mais que água. Mais que ar. |