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cronicas-->O gato da radiologia -- 01/05/2001 - 18:11 (Claudia Sanzone) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aquelas respostas certeiras e no momento oportuno garantem a saída vitoriosa de uma situação constrangedora. A famosa presença de espírito é um dom incomum e, convenhamos, invejável. Quantas vezes nos lamentamos porque a réplica ideal para aquele comentário mordaz só veio muito tempo depois? Quando vem, claro. Mas, com o tempo, todo mundo vai adquirindo uma certa habilidade para escapar de circunstàncias delicadas com êxito total ou parcial.

Quando eu estava prestes a concluir o curso de graduação, frequentava quase diariamente o hospital de pequenos animais da universidade. Aprendi muito ali. Como estudava em tempo integral, vez por outra matava aula para ir até lá. Nas tardes de segunda-feira, por exemplo, havia uma aula de Higiene e Saúde Pública que durava quatro horas. Virei freguesa, escapulia constantemente dela. Não o fazia exatamente porque era longa demais, mas porque as aulas práticas dessa disciplina eram, digamos, meio embaraçosas. Sinceramente, eu não me sentia à vontade quando, nas vistorias pelo instituto de veterinária, o professor (rigoroso e detalhista) entrava com uma turma de pelo menos uns trinta alunos nas salas de outros professores para inspecioná-las. "Observem a mão deste funcionário." Suspendia o punho e sacudia a mão do "escolhido" enquanto falava, tal qual a mãe que arrasta um filho da pelada de rua para o banho. "Vejam estas unhas sujas! Vocês fazem idéia de quantas bactérias podem se esconder debaixo destas unhas repletas de detritos?" Chato era ter que encarar, mais tarde, o funcionário gente fina pelos corredores do instituto.

Um dia a tal da inspeção seria no próprio hospital. E eu estava lá, empolgada com um caso clínico raro e fugida da aula que acabou, por ironia e pela lei de Murphy, indo ao meu encontro. "Bonito, hein? Matando minha aula." Cadê que me ocorreu uma resposta oportuna? Só uns dias depois é que pensei numa solução para aquela minha falta de expediente. Poderia ter dito perfeitamente "Vim na frente de todos, professor."

Certas pessoas realmente tiram de letra algumas situações delicadas. Ainda no hospital-escola, durante o atendimento de um jovem pastor alemão, fiquei admirada com a "performance" de uma senhora. Muito simpática e falante, a proprietária do Rambo notou que ele mancava das patas traseiras. Ao chegar para o atendimento, percebemos que havia algo de errado com as articulações dos membros posteriores do cão. Nessa ocasião eu fazia estágio supervisionado e minha orientadora recomendou que tirássemos umas radiografias do Rambo. Dissemos à dona do cachorro que alguém todo de branco e com o estetoscópio pendurado ao redor pescoço (ou seja, um estagiário) levaria o Rambo para a sala de raios x. Não sei quanto aos acadêmicos de medicina, mas os de veterinária (e eu me incluía nessa) adoram usar estetoscópios como echarpe. "Imagina! Pode deixar, eu mesma vou levá-lo. Faço questão!" Estranhamos um pouco a recusa da cliente, mas não insistimos.

Cerca de duas horas mais tarde, retornava, suspirosa, a "mãe" do Rambo com as radiografias nas mãos. "Ai... Já tinham dito pra mim que aquele senhor da radiologia era simpático. Nossa, além de simpático o homem é um gato! Foi muito atencioso comigo, precisavam ver! Batemos um papo tão agradável..." Com um certo embaraço tentamos, em vão, mudar de assunto. Mas ela insistia. "E você, não acha que ele é um `pão´?" Dirigindo, no caso, a pergunta para a orientadora. "Acho, sempre achei. Aliás, continuo achando mesmo depois de quinze anos de casamento."

Creio que o pensamento naquele instante fora unànime: "como é que a dona do Rambo vai se sair dessa?". O comentário certeiro veio em seguida. "Vocês são casados, então? Que tolice a minha! Os dois, tão atenciosos e simpáticos, combinam perfeitamente! Ele só podia ser seu marido, claro."

Taí o resultado de quem tem presença de espírito: uma saída providencial, amigável e classuda.
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