O ESTADO DE DINHEIRO
A Declaração Universal dos Direitos do Homem e a Constituição da República garantem, como fundamento inalienável, que todos os homens são iguais em dignidade e direitos. Ora isso não passa duma treta, pois, na sociedade que está a ser criada, o Estado é o Dinheiro. Isto é, estamos num Estado de Dinheiro e não num Estado de Direito nem de direitos. Quem tem dinheiro tem tudo, pois tudo compra até os direitos, vive no meio dos poderosos, tem relações, acessos e move influências.
Não há direito nenhum quando uns têm direito a clínicas privadas sem lista de espera e outros morrem antes de serem consultados e operados! Uns, têm bons advogados influentes, conhecedores das teias da lei e meios para recorrer a todas as instâncias, outros, apenas principiantes e estagiários! Uns cumprem prisão no domicílio com polícia à porta, outros na cadeia! Uns têm boas vivendas para viver confortavelmente e outros, as barracas ou os portais das casas para dormirem! Uns pagam os impostos quando querem e quanto querem ou simplesmente não pagam, a outros sacam-lhos antecipadamente do salário, mesmo antes de o receberem. Nem o vêem!
Tudo isto, porque uns têm dinheiro e outros não e para ter direito a habitação condigna, conforto, luz, água, saúde, Justiça, Segurança, qualidade de vida, pópós e télélés, é preciso ter dinheiro. Quem não o tem, passa uma vida de privações e dependências, sempre em bichas e à espera de tudo que nunca chega como os seis do Totoloto ou o Euromilhões, embora tenha os direitos todos direitinhos, consignados na Constituição da República! Se, na realidade, o dinheiro é que dá todos os direitos, porque raio é que a Constituição não dá antes dinheiro aos cidadãos, em vez de direitos que não se cumprem e que, sem dinheiro para os fazer cumprir, não servem para nada?
Poderia ficar por aqui mas não quero que digam que estou a demagogiar o que, hoje em dia, é coisa fácil. Diz-se para aí que todos nascemos iguais o que não passa de outra grande balela porque, na realidade, não nascemos iguais nem parecidos. Uns nascem ricos ou menos ricos e outros nascem pobres ou menos pobres e aí começam as grandes diferenças. Depois há uns que são mais espertos e outros mais burros; uns com mais sorte e outros com menos sorte; uns com mais saúde e outros mais doentes; uns mais trabalhadores e outros mais malandros; uns mais poupados e outros mais estroinas e por aí fora. As diferenças são acentuadas e vão influenciar inexoravelmente o futuro de cada um, isto é uns vão ter mais dinheiro, outros menos e outros nenhum. E, ainda por cima, numa sociedade em que o dinheiro, o vil metal, as coroas, a massa, a maçaroca, os cifrões, o cacau, os cabedais, o bago, o taco, o caroço, os carcanhóis, a guita, o guitame, a grana, o pilim ou o que se quiser chamar, é o rei e senhor e para o conseguir, é o vale tudo, é a selva, é o salve-se quem puder, só pode ser um Estado de Dinheiro que já se sente e de que maneira!
23/12/01
Reinaldo Beça
(reibessa@hotmail.com)
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