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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (29) -- 21/08/2012 - 15:31 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (29)


"As aparências enganam" era o título de uma charge/quadrinho dos anos cinquenta na revista "O cruzeiro". Seu autor, Carlos Estêvão, sem se prover do brilhantismo millóriano, explorava, com ácido humor, o caráter dos personagens e suas idiossincrasias. Como informação adicional nostálgica, não crónica, aduzo ter sido o humorista, tio de minha primeira namorada, quando eu era um imberbe adolescente. Não constrangido, devo acrescer ainda que ela conseguiu trocar o articulista por um primo legítimo mais velho, cuja arrogància me afirmara face to face: "ela um dia será minha". Maktub. Não deu outra. Casaram-se, tiveram filhos, blá,blá,blá.
Para fazer jus ao título, seja lugar-comum, clichê, ou o que venha ser, observamos ao longo de nossa existência, quantas vezes nos equivocamos com relação a pessoas e quanto ao que elas representam na convivência. A genuinidade esperada com tanto rigor e ansiedade, se transforma numa homérica frustração, às vezes, muitas vezes, levada ao desconforto, ao desespero e ao estado depressivo temporário. Hão de ser muitas as manifestações de outrem que atrapalham e prejudicam um relacionamento, ora entre amigos, ora entre amantes.
Dentre essas se assentam a dissimulação, a covardia, a indiferença e, por (in)justa culminància, a nefasta e indesejável traição. Vi no filme "Malcolm X", negro americano contemporàneo de Luther King e um dos baluartes da luta contra a discriminação racial: "a traição é pior do que a morte", frase atribuída a/e pronunciada por seu pai. No cardápio social e nas colunas policiais, o ingrediente que se mais registra como principal motivação de certos crimes é o ácido sentimento proativo da traição.
Este se revela de várias formas, em diversos contextos e é saboreado por quem trai com a co-adjuvància quase sempre do primo-irmão, a vingança. Não há porque detalhar, visto que os noticiários televisivos estão repletos de casos, personagens e agentes passivos a encherem o horário nobre quase completamente, posto que dão audiência e lucro incessante. Convém no entanto pontificar a descendente recorrência dessa quebra de fidelidade desde tempos imemoriais. Num desses casos clássicos está a concretização do sonho da mulher de Júlio César, cujo conteúdo a fez alertar o marido, de que seria traído desde as calendas do mês de março.
Os comentários posteriores são, além de lugar-comum, o que mais se repetem: "Puxa! Ninguém diria que fulano agisse assim" ou, mais comumente: "Não havia quem dissesse". A mentira, como antítese da verdade é o maior adorno no ato de um desses sentimentos a demonstrar fiel e cabalmente, o quanto as aparências enganam. A ciência moderna já provou ad nauseam: "o que os olhos não veem o coração não sente"; trata-se de uma grande falácia, um terrível engodo. Ao contrário, os olhos são os primeiros parceiros traidores. Ademais, seu grande patrão e ordenador é o cérebro e este muitas vezes perpetra armadilhas as mais sutis e sofisticadas.
Daí a existência do que se denomina ilusão de ótica. Os neurocientistas estão ficando carecas de saber o quanto nosso cérebro é ele próprio, um grande traidor. Percebemos aquilo que nosso patrão - o cérebro - por mero capricho biofísico, quer a seu modo nos impingir. O maior exemplo disso está na histeria coletiva, uma espécie de contágio a quem são conduzidos os atores a algo que se não dão conta, inconscientemente. Esse fenómeno está presente num estádio de esportes coletivos ou num evento de grandes proporções. E o exemplo mais clássico dessa autossugestão é o fato de Goebells, o Duda Mendonça de Adolf Hitler, somente colocar seu líder ao microfone, no final de cada falação, diante de fatigados juventude e povo alemães, ouriçando-lhes os ànimos, depois do enfadonho discurso de oradores precedentes.
Não é à toa que os templos também estão repletos de fiéis, para quem a única e verdadeira via da felicidade é o relutante discurso do seu pregador, ainda que nem ele próprio se convença do que tem a dizer.
Uma frase que ouço repetidas vezes e sobre a qual atribuo certa incapacidade criativa dos roteiristas de cinema é uma que diz: "pensei que você fosse mais alto(a)". No meu papel de especialista em coisa nenhuma, ouso afirmar que se trata de uma forma ingênua de encheção de linguiça. O que muda, entretanto é o décor, a ambientação no qual a frase é pronunciada.
De um modo mais genérico, estamos todos sujeitos aos clichês, porque a vida não é somente composta de obras-primas ou de momentos plenos de serotonina, esplendoroso prazer. Vêm à baila imagens de uma reportagem recente, vista num desses noticiários que teimo em prestigiar, por absoluta rotina e teimosia cerebral. Aqueles que viajam com frequência, haverão de conferir comigo o quanto a frase que encabeça essas linhas tem sua razão de ser, ou não.
Durante muito tempo admirei sua voz e, por que não dizer, seus dotes físicos e o ar de mulher fatal. E isso já lá vão tantos anos. Na reportagem pude rever a figura humana, seu atual porte físico e, de modo recorrente, sua bela e sensualíssima voz. Ela tem um filho artista e, conforme declarou na matéria, completou sessenta anos de idade.
O contrato de locução se extinguiu e ouviremos sua voz informando os voos com chegadas e saídas nos principais aeroportos do Brasil, somente por mais alguns dias e através de gravações, não mais ao vivo.
Seu nome é Iris Letieri, uma personagem emblemática brasileira e uma prova quase que definitiva, de que nem sempre, salvas as exceções, as aparências enganam.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
21.08.2012
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