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Cartas-->A carta de um professor -- 18/04/2006 - 09:29 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A carta de um professor

Por Reinaldo Azevedo
Editor de "Primeira Leitura"

Escrevi na sexta-feira um artigo em que reproduzia trechos de um debate de que participei (o texto está disponível). Num dado momento, a minha oponente insistia na tese de que o tucano Geraldo Alckmin pertenceria aos quadros do Opus Dei, um grupo católico que é uma prelazia papal. É mentira. Não pertence. E, se pertencesse, escrevi, não seria crime nenhum. Recebi um e-mail de um sujeito chamado Daniel Ferreira Gonçalves, que se diz professor. Como ele não me pediu sigilo, divulgo seu endereço para mensagens de solidariedade (dan.fg@uol.com.br). Ele vai precisar. Leiam o que escreve o distinto:



“Ao ‘jornalista’ Reinaldo Azevedo,
Tive o desprazer de receber seu artigo de 14/04 sobre o tema ‘Opus Dei e Alckmin’.
Sua descrição de como “venceu” o debate com a jornalista não-identificada é uma das coisas mais engraçadas que li nos últimos dias. Engraçada não por sua suposta (suposta por você mesmo) picardia, acidez ironia. Engraçada sim pois você se utiliza de uma argumentação sofista (procure em algum dicionário de filosofia o significado dessa palavra, pois você não deve saber). Manipulando os fatos, você dava a entender que um presidente vinculado à Opus Dei não poderia influir, seguindo os preceitos da prelazia, nos mais diversos assuntos. Não sei se rio da sua ingenuidade infantil ou da sua argumentação simplista.
Então por que George Bush, um protestante fundamentalista, influiu em diversos assuntos seguindo sua orientação religiosa? Isso não poderia se repetir no Brasil? Veja só, se a jornalista utilizasse o exemplo de seu próprio ídolo máximo você ficaria sem ter o que dizer né?
Quanto à sua opinião sobre o MST sequer me darei ao trabalho e comentar. É melhor não extender muito o papo com loucos.

Atenciosamente,
Daniel Ferreira Gonçalves
Professor - São Paulo/SP”

Adorei o seu burocrático “atenciosamente”. Ele poderia ser atencioso não comigo, mas com a inculta e bela. Alguém que se diz professor e escreve “extender” se autodefine. Está tão preocupado em ter idéias, mesmo as que vão acima, que não se ocupa nem da ortografia. Se ele fosse torneiro mecânico, isso não teria a menor importância. Como é professor, a coisa é grave “neçti paíz” (lê-se “neste país”).

A educação no Brasil é uma miséria por várias razões — e a maior delas, à diferença do que pensa a esquerda, não é falta de verba. O principal problema é o analfabetismo dos professores. Que só vai aumentar com a implementação do sistema de cotas e do ProUni. Num caso, vamos nos conformar com o rebaixamento inevitável da qualidade; no outro, algumas faculdades privadas que não se distinguem de um açougue vão vomitar semiletrados com diploma, usando, para tanto, dinheiro público.

É a revolução na educação prometida por Lula. Conseguiram destruir o Provão (que havia sido instituído pelo ministro Paulo Renato), que funcionava, e encher os cofres das mantenedoras de verdadeiras cabeças-de-porco. As vagas que elas não preencheriam nem que saíssem laçando candidatos serão, agora, regiamente pagas com dinheiro dos desdentados. O tal Daniel deve gostar desse governo. Eles se merecem.

O sujeito se sente todo insultadinho ao ler um artigo e, malcriado, sentindo-se superior, comportando-se como um tio que pudesse dar pito, me manda essa batatada, tomando o cuidado de se dizer “professor”, como se isso lhe conferisse alguma condição especialmente interessante. Como se isso pudesse despertar em mim alguma coisa parecida com reverência ou sei lá o quê. Saia da minha aba! Professor é Roberto Romano, se é que você me entende. Professor é Bolívar Lamounier. Professor é José Arthur Giannotti. Professor é Marcos Lisboa. Cada um deles sabe como foi ou é tratado neste site e nesta revista. E o curioso é que nenhum deles jamais se identificou em e-mail como “professor” — mas também não escreveu “extender”.

Afirmei no artigo que ele contesta que sou tolerante com idiotas, crianças e animais domésticos. Por que não seria com um “professor”? Ele escreve que teve o “desprazer” de receber o meu texto. Não fui eu que mandei, garanto. Escolha melhor os seus amigos, cara. Quem manda ter entre eles gente que me lê? Poderia ser a sua salvação. Mas você não quer ser salvo, como se lê.

Há uma coisa no pobre que é pior do que a ortografia: a pontuação. Mas isso é o de menos. Pernóstico — afinal, ele é “professor” —, usa termos como “picardia” e “sofista” — deve ter avisado a sua patota de que iria me mandar um e-mail. No mínimo, ele fez com cópia para alguns de seus aluninhos, provando quanto é combativo. Posso vê-lo daqui, com os olhos de minha “picardia”, dando soquinhos com a mão direita na palma da esquerda: “Falei mesmo! Aquele direitista nojento teve o que merecia!”. Ah, a valentia escrava! E ainda pede que eu vá consultar num dicionário de filosofia o significado da palavra “sofista”, com o que parece expressar, então, o seu rigor intelectual. Justo ele, incapaz de consultar um dicionário de ortografia...

Não há rigorosamente um miserável sofisma no trecho que reproduzi do debate. Ademais, o “professor” ignora o fato concreto: Alckmin não é do (e não “da”) Opus Dei. Se fosse, argumentei, não haveria nisso nenhuma ilegalidade. Ou haveria? Quanto à referência a Bush, nada mais faz do que reproduzir a bobajada politicamente correta sobre a influência que a direita religiosa teria nos atos do presidente americano. Acreditar que a política externa de Bush pode ser creditada à sua religião também é analfabetismo: este político. Em tempo, “fessô”: em Bush, só lamento a moderação...

Aposto o mindinho que o indigitado é professor de filosofia ou coisa parecida. É uma tragédia. Temo pelo estrago que possa fazer na cabeça dos alunos. E como ele prova que, se Alckmin pertencesse ao Opus Dei, isso seria relevantíssimo em seu eventual governo? Ora, com o exemplo de Bush. É mais um daqueles casos já clássicos em esquerdistas, crianças e idiotas (animais de estimação, creio, ainda não) de “paralaxe cognitiva” (segundo definição de Olavão, meu amigo, o professor, de fato!, Olavo de Carvalho): impedido de provar determinada tese segundo a sua natureza e seus próprios termos, apela-se a um desvio, a um exemplo, a algo absolutamente fora do contexto, para justificar não a tese, mas a opinião de seu autor. E o esforço, ademais, é inútil: Alckmin não é do Opus Dei.

Sobre os sem-terra, releiam o que escreve: “Quanto à sua opinião sobre o MST sequer me darei ao trabalho e comentar. É melhor não extender muito o papo com loucos”. Em primeiro lugar, “professor”, reveja o uso do “sequer”. Falta um “nem” aí. E, rá, rá, rá, acho formidável quando alguém julga ter tanta razão que, a exemplo de Saddam Hussein, Adolf Hitler ou Josef Stálin (para citar facínoras de peso e que não tinham a língua presa), nem se dão “ao trabalho de comentar”. Problema seu. Já disse que dou atenção a idiotas, crianças e animais de estimação. E, em certos casos, a “professores”.

Aprenda uma coisa, Daniel: ninguém é tão imbecil que não possa nem ser contestado.

[reinaldo@primeiraleitura.com.br]
Publicado em 17 de abril de 2006.

http://www.primeiraleitura.com.br/auto/entenda.php?id=7377




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