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Contos-->Maria Célia -- 07/09/2001 - 15:20 (Rosiris Guerra Inglese) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MARIA CÉLIA

Num instante, sem mais nem menos, o tempo voltou. Encontrei lá pelos idos de 1968, Maria Célia. Loirinha, olhos azuis, linda, 6 anos de idade. Era parente de uma vizinha, Dona Amélia, gente boa, família grande, morava num sobrado vizinho a casa dos meus pais.

Eu com 14 anos, uma garota paradoxal, seletiva nas amizades, preferindo um bom livro aos bailinhos que rolavam na casa dos colegas da mesma faixa etária - não que não os frequentasse, mas não era tão assídua quanto a maioria.

Maria Célia, tinha um carinho especial por mim, sempre que ia a casa da tia Amélia, fugia lá para casa, onde acabava por passar o dia. Era uma garota muito dinâmica, curiosa, raciocínio rápido, olhos vivos, mente ávida por aprendizado. Interessava-se por todos os meus livros, demonstrava claro interesse em saber o que havia neles. Ela ainda não sabia ler, naquela época não era muito comum as crianças irem para a escola antes dos 7 anos de idade.

Comecei gradativamente a ensinar algumas letras, algumas palavras para ela e notei que eram rapidamente assimiladas, ela se motivava com isso e a cada dia aprendia mais e mais.

Seus familiares notavam que algo estava se transformando na menina, seu comportamento estava mais ameno, não entendiam muito bem o porquê dela estar sempre com algum livro na mão, aberto, como se os estivesse lendo, pois pelo que sabiam ela não aprendera ainda a ler. Mas, o que mais os intrigava é que ela já não estava tão agressiva como sempre fora.

Contavam, eles, que Maria Célia, diferentemente da forma como eu a via, fora desde a mais tenra idade uma garota problemática, extremamente agressiva, a ponto deles já estarem desistindo de muda-la.

Pelo sim, pelo não, a garota continuava a frequentar a minha casa, cada vez mais, o tempo passando e ela já fazendo parte da família. Um dia queria me contar algo, não conseguia, por mais que tentasse, a ansiedade era muito grande e ela não dominava a escrita a ponto de poder colocar no papel o que havia em sua mente. Seu desespero era tamanho, que eu naqueles tempos, sem conhecimentos no campo da pedagogia, agi instintivamente, peguei sua mãozinha, coloquei no meu pescoço, na altura das cordas vocais e comecei a falar devarinho o seu nome, palavra por palavra

Ela parou, prestando atenção como sempre fazia, e pela primeira vez, falou, de uma forma meio confusa, mas falou e eu entendi perfeitamente "Maria Célia".

Entusiasmadas, eu e ela, começamos a praticar mais, eu falando devagar, ela com a mãozinha no meu pescoço. Em seguida, passamos a colocar a sua mão no seu próprio pescoço, a medida que ela ia repetindo as palavras.

Em sua casa, a família surpreendida começou a ouvir e entender, pela primeira vez, a menina que, surda-muda desde que nascera, nunca pronunciara uma só palavra que não fossem meros grunhidos.

A partir de então, descobriu-se que Maria Célia, era apenas surda, e por não ouvir não aprenderá a falar, por isso era muda.

De uma forma ou de outra, eu sem querer - talvez por inspiração - apliquei a metodologia correta e incentivei a família a buscar ajuda especializada. Ela foi então matriculada em uma escola especializada, aprendeu mais rapidamente a leitura labial - que já praticávamos e foi crescendo tornando-se cada vez mais ligada a mim.

O tempo passou, minha família mudou de endereço, a dela também, perdemos contato e nunca mais soube nada sobre ela. Ficou apenas um imenso carinho e a alegria de ter podido conviver com uma pessoinha tão especial.

Rosiris
07/09/01

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