Usina de Letras
Usina de Letras
179 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62152 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50554)

Humor (20023)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140785)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6176)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Crocrodrilando no pantanal -- 28/09/2012 - 09:58 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Crocrodrilando no pantanal

Aroldo Arão de Medeiros

Participei de uma excursão ao Pantanal. Estávamos em quarenta pessoas ávidas de curiosidade sobre a floresta até então desconhecida por todos nós, exceção feita à guia turística. Dentre os trinta e nove participantes da aventura havia quatro crianças e os outros estavam na segunda e terceira idade, praticamente meio a meio.
Discorrerei sobre tudo o que percebi, gostei, me decepcionei, na natureza, gastronomia, aves, peixes, répteis, mamíferos e insetos.
Quanto ao que diz respeito às atividades sociais e às fofocas sobre as pessoas que participaram desse evento, transcreverei o que me passou o colunista social Bipolar, figura brincalhona e super-observadora.
Antes de nos instalarmos no Hotel SESC Porto Cercado, localizado em uma região privilegiada por belezas naturais, o pantanal mato-grossense, visitamos a Chapada dos Guimarães. A única decepção foi a grande caminhada para conseguir ver o Véu de Noiva, que provavelmente havia desmanchado o casório, pois a cascata era muito pequena e virou chacota do pessoal.
O Hotel situava-se a quarenta quilómetros da civilização, Poconé. No dia seguinte, metade da turma passeou de bonde. No caminho o condutor parava para que pudéssemos apreciar uma ave, um rio coberto totalmente de água-pé ou quaisquer coisas que chamassem nossa atenção. O chamado Bonde Ecológico nos levou até o Parque SESC Baía das Pedras. Nesse complexo havia um restaurante, área de repouso e convivência, banheiros, cozinha e bar, churrasqueira e refeitório. Tudo isso sem mencionar o serviço de cavalaria: 20 baias limpíssimas, enfermaria, baia de pequenas cirurgias, curral, área de banho, escritório, recepção, sala de arreio, sala de ração e piquetes diversos. Aproveitamos também para um pequeno passeio a pé, onde pudemos apreciar o campo de pouso e entrar no hangar para oito naves de pequeno porte. Dirigimo-nos para a beira do rio e o chefe do grupo proferia, em altos brados, o nome Chico. Depois de várias vezes ser chamado o seu nome, eis que surge vindo em nossa direção o já famoso jacaré e mais dois companheiros que vieram buscar seu almoço gratuito, e sem necessidade de fazer esforço, jogado pelo comandante.
Ao cair da tarde subimos, ou descemos, sei lá, entende, o rio para conhecer alguns animais exóticos, aqueles que praticamente só se vê na televisão. Pássaros grandes e médios eram fotografados pelos turistas. Fotografei um que empresta seu nome a um restaurante na capital de Santa Catarina, Martin Pescador. A parte de trás do corpo, cabeça e asas é azul-turquesa. A barriga e um par de áreas sob os olhos são de cor laranja, enquanto que as áreas da garganta, ouvidos e narinas são brancas. Ave de beleza incomparável. A mais bela das que já contemplei. Eram araras, garças, jaburus e colhereiros, ora pousados em árvores ou voando a uma distància razoável do barco em que divertíamos.
No dia posterior fizemos o passeio no Corixo. Os corixos são pequenos rios que se formam em épocas de chuva e deságuam em outros rios maiores. Nessa manhã ficamos ainda mais próximos dos jacarés. Existiam alguns enormes que não nos assustavam porque acreditávamos no comandante da embarcação de que os jacarés pantaneiros, diferente daqueles da Amazónia, não são agressivos.
Na área do Parque SESC eram fornecidas comidas aos pássaros e esses conviviam conosco sem nos importunar e sem assustarem-se com nossa presença. Centenas de cardeais-do-nordeste, canários-do-campo, sabiás-gongá, bem-te-vis, tesourinhas e beija-flores desfilavam suas cores e seus cantos. O que mais chamava a atenção era o cardeal-do-nordeste, também conhecido como galo-de-campina ou simplesmente cardeal. Tudo porque eles não possuem o topete vermelho tão comum e chamativo no cardeal conhecido no sul.
Pudemos também ver de perto as ariranhas ou lontras-gigantes. Pegamos jacaré na mão. Não adianta mentir, mas o filhote não media mais que quarenta centímetros.
A culinária pantaneira e mato-grossense é de um sabor especial. Tomamos sopa de piranha (Viagra do pantanal), comemos jacaré no espeto e à milanesa. Ainda degustamos lambari, pirarucu, dourado, pacu, pintado e piraputanga. Deu pena comer os lambaris, porque eram muito pequenos, parecendo que haviam matado os filhotes. Ledo engano, eles não crescem mais que quinze centímetros. Foi-nos servida também uma mistura de peixes de água doce que, por não assimilarmos o nome proferido, alcunhamos de paella pantaneira.
A melhor sobremesa da minha vida foi o arroz-doce, isto porque não provei o furrundu, doce feito à base de mamão verde e rapadura, que dizem não haver algo mais saboroso.
Como disse certa vez Raul Seixas: "Eu perdi o meu medo, o meu medo, o meu medo da chuva, pois a chuva voltando pra terra traz coisas do ar". No pantanal eles se acostumaram com a falta dela, e também perderam o medo. Sabem as datas certas que as chuvas chegam e vão embora. O que desagrada um pouco é o calor. O termómetro digital, pendurado na parede, indicava sempre trinta e nove graus. Desconfiamos que estivesse estragado, mas quase no último dia deu uma refrescada. O instrumento de medição de temperatura baixou para trinta e oito.
No Centro de Interpretação Ambiental, CIA, havia uma construção que continha em seu interior várias cubas de plásticos, ligadas por tubos transparentes, e em seus interiores formigas cortavam vegetais, transportavam o material para os ninhos, cultivavam fungos dos quais se alimentavam e depositavam o lixo, reproduzindo a perfeita dinàmica social desses insetos. Conhecido como Formigueiro era uma aula de completa de mirmecologia (estudo acerca das formigas).
Além do Formigueiro, havia o Borboletário. Num ambiente cheio de flores as borboletas nasciam, cresciam e procriavam. O que espantou a todos era a comida que era servida às borboletas, banana, acreditem se quiserem.
Agora vamos às fofocas relatadas pelo Bipolar. Esse crítico satírico de jornal contou-me que um dos colunáveis, isto se simples músicos saíssem nas colunas sociais, comprou uma Viola-de-Cocho. O instrumento musical recebeu este nome por ser confeccionado em tronco de madeira inteiriço, esculpido no formato de uma viola e escavado na parte que corresponde à caixa de ressonància. É feito da mesma maneira como se faz um cocho, objeto lavrado em um tronco maciço de árvore e usado para colocar alimentos para animais na zona rural. A Viola-de-Cocho foi reconhecida como património nacional, registrada no livro dos saberes do património imaterial brasileiro em dezembro de 2004. Esse multi-instrumentista aprenderá a usá-la e fará grandes apresentações junto aos amigos.
Havia duas irmãs que eram muito alegres. Ambas viúvas e a mais velha se sobressaía por seu comportamento festeiro. Se minha mãe fosse viva, diria que ela é assanhada, cu de fogo, rabo aceso. Eu digo que ela é tudo isso, não literalmente falando, pelo amor de Deus. Com ela sempre se está sorrindo, pois para essa mulher a tristeza pediu passagem e foi embora. Nas animações comandadas pelo recreacionista, ela era a que mais aparecia. A irmã, às vezes, saía de perto para não passar vexame.
Já duas outras eram bem diferentes. Cabelos e vestidos compridos as identificavam como mui religiosas, daquelas que cumprem exatamente o recomendado pelo pastor. Com o sol forte, as duas tiveram vontade de tomar banho de piscina. Não titubearam, e entraram de vestido para se refrescar.
Duas figuras que chamaram a atenção de todos foram dois senhores com quase noventa anos de idade. Gêmeos univitelinos estavam acompanhados de um dos filhos, sexagenário. Os meninos, assim eram chamados os idosos, sadios, eram os primeiros na saída para a caminhada e também os primeiros a chegarem. Ao ser perguntado pelo filho e sobrinho, se haviam se cansado, ambos respondiam: nem um pouquinho. Já o acompanhante dos dois reclamava o tempo todo de dores nas pernas.
Eles eram obrigados a tirar fotos com todas as mulheres. Umas apenas curiosas, outra para mostrar para os filhos também gêmeos, e algumas, viúvas como eles, com interesse.
Uma família formada por três casais e quatro crianças também se fizerem presentes. Em conjunto combinavam os passeios e o que fazer na manhã ou tarde livre.
Nem tudo são rosas quando alguém não quer que seja. Uma mulher, conhecida como depressiva, andava pelos cantos fumando e mexendo no celular. Pouco falava com as pessoas e deixou mais de uma a falar sozinha quando alguém lhe perguntou algo. Pelo menos fotografou bastante e se esforçava para sorrir, nem sempre conseguindo, quando fazia pose para ser fotografada.
Assim como dois homens que não se desgrudavam, os gêmeos, assim também acontecia com dois amigos. Era uma amizade colorida, pintada com as sete cores do arco-íris.
Tudo o que é bom um dia acaba. O meu informante disse que ouviu da irmã mais nova da festeira:
- É uma pena, mas vamos ter que voltar para o borralho.
Nunca pensei em escutar tal palavra. Tive que pesquisar, e descobri que borralho são as cinzas quentes que ficam no fogão de lenha, depois de apagado o fogo... Essa mulher mora em apartamento, mas por certo se lembrou dos idos tempos em que morava no sítio e a cozinha tinha um fogão à lenha.
Antes de chegarmos ao aeroporto, a orientadora, descendente de japoneses bela e simpática, falou ao público dentro do ónibus:
- Bom dia. Quero que gravem meu nome, Tatiana, mas podem me chamar de Tati. Esperamos ter feito um passeio excelente, para servir de boa recordação, para vocês, seus filhos, netos e amigos. Se tiverem algumas dúvidas perguntem, não se omitam. Tentaremos explicar da melhor maneira possível o que for do nosso alcance. Depois de cinco dias vou colher informações através de um formulário, para avaliar como foi nosso trabalho. Escrevam a verdade, mesmo que sejam críticas, pois para nós será bom para podermos melhorar. Não ajam com falsidade para nos agradar. Espero não sentir que estão usando de crocrodrilagem, crocrodrilando, crocrodrilando, crocrodrilando. Não quero ver vocês jacarezando.


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 16Exibido 232 vezesFale com o autor