Usina de Letras
Usina de Letras
133 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62231 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22537)

Discursos (3239)

Ensaios - (10367)

Erótico (13570)

Frases (50629)

Humor (20031)

Infantil (5434)

Infanto Juvenil (4768)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140805)

Redação (3306)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6190)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (33) -- 02/10/2012 - 18:32 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (33)

No início da primavera brasileira, o país amarga comovido a morte de duas personagens: uma ligada à arte do espetáculo midiático e outra vinculada ao campo das letras. No caso da apresentadora oitentona, Hebe, asseguro-lhes que a grande maioria conheceu dentro de casa, por motivos óbvios e de cuja idolatria não se pode negar. Quanto a Autran Dourado, também oitentão, a fama não faz tanto jus, isso derivado do fato de que ainda não somos a pátria da literatura, mas do futebol e do samba, região onde vicejam as maiores celebridades.

Quando jovem, certa vez, numa biblioteca, conheci uma obra, "Sombra e exílio", título que me havia sido sugerido por um excelente professor de francês, a me ver interessado por literatura brasileira. Waldomiro Autran Dourado, esse escritor de Patos de Minas, em que pese a utilização de uma linguagem local, explorava em sua literatura a vicissitude humana, a solidão e a loucura, aspectos que não negam sua influência de Goethe e Stendhal.
"A barca dos homens", livro traduzido para muitos idiomas, só pude ler um pouco depois, durante minha passagem pelo Salesiano, por coincidência, também estimulado pelo profissionalíssimo professor Sá Barreto, que lecionava matemática e demonstrava um vasto conhecimento. Tanto Hebe, a artista da televisão, quanto Autran Dourado, um autor de estilo, deixam marcas e influências, cada um a seu modo. Esse benquerer devotado a ela pelo seu variado público, destoa porém de um episódio que se deu em São Paulo, durante um festival de música, do qual participei. Outro grande vulto da televisão, ator e compositor emérito, Mário Lago, leria, como leu, o texto que eu escrevera, longo e talvez bucólico, sobre uma melodia para dois violões, de autoria de dois amigos comuns.

Mário, sempre solícito e receptivo, me assustara um pouco logo que fomos apresentados, quando fui tratá-lo por "senhor", rebatendo na hora que "senhor" era a puta-que-o-pariu, sem qualquer cerimónia. Ficamos amistosos e recebi-o uma vez no Recife. Depois que localizei o poetinha bem ladeado por uma buchudinha botelha de Old Parr, um 12 anos muito apreciado pelo velho meu pai, Mário gritou dum lado: "Vinícius, a Hebe te mandou lembranças"! O irreverente vate não titubeou, respondendo alto e bom som: "Hebe é uma estulta". Ao que o Mário caiu na gargalhada incontinenti. Tudo leva a crer que o parceiro de Toquinho, que estava no palco passando o violão, não estivesse muito a fim da recomendação da velha senhora. A julgar pela penetração artística de ambos, o autor de Garota de Ipanema, perderia feio, posto ser a loira oxigenada, muito mais amada, idolatrada, salve, salve! Mas tenhamos certeza de que a falecida jamais imaginara que estava sendo apreciada dessa forma.
À parte fazer-se justiça aos longos e seguidos anos de sucesso junto ao público, não posso negar que jamais fui prosélito da Sra. Camargo, talvez porque suas escolhas musicais estejam bem distantes do meu modesto cultivo.
A primavera brasileira e o outono londrino também tomaram conhecimento da morte de Eric Hobsbawm, pensador marxista contemporàneo sobre quem uma vez aqui discorri en passant. Dele, preservo além de alguns livros, sua admiração pelo jazz em geral e por Billy Holiday em especial, a quem certa chance dedicara uma obra de efeito sociológico. Hobsbawm é o macróbio maior dessas perdas sazonais e, se estamos falando em fama, sucesso e muito tempo na mídia, não se inscreva o feio Mr. Hobsbawm que numa entrevista durante a "flip", no lançamento de um de suas obras, respondeu ao entrevistador: "Sabe, estou louco pra me ver livre desse papel de Mick Jagger". Ele estivera autografando por muito tempo e só agira assim uma única vez quando foi entrevistado na revista CULT, cujo número guardo como reverente recordação de alguém que não dependera diretamente da mídia e sobrevivera muito bem a noventa e cinco primaveras.
___________________________________________________________
p.s.- erratum: no texto de número 32, citei "Ação penal 270"; leia-se por correção: "Ação penal 470".
___________________________________________________________
WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE 02.10.2012
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui