Hoje é o dia do fim do mundo

 

Hoje é o dia em que o mundo irá acabar. Precisamente daqui a cinco horas a partir deste momento em que escrevo. Não acho muito justo que isso aconteça no fim do dia, depois de uma longa jornada de trabalho. Parece aquela estratégia besta de patrão sacana que espera o fim do expediente de sexta-feira para demitir o funcionário. Se é para demitir o serviçal ou acabar com o mundo, que se faça isso logo cedo, com todo mundo descansado. De qualquer modo, não adianta lamentar. O mundo vai acabar mesmo. Não tem choro, nem vela, sequer blusa amarela.

            Pelo que ouvi, de fonte segura, o fim virá após um terremoto sem precedentes. Abalo geral. Não gosto disso também. Sei que fim de mundo é sempre ruim, mas preferiria, se fosse o dono da profecia, que fosse de outra forma. Vi o filme de Lars Von Trier, Melancolia. Gosto da ideia de um planeta gigante se chocando contra a bolinha que é nosso cafofo. Tudo acabando em fogo, a namorada do Homem Aranha deprimida, cavalos enlouquecidos pois nunca mais terão feno para jantar.   Em super slow motion. Essa explosão é mais eficiente, limpa,  sustentável.  O terremoto é barulhento, faz muito sujeira ecologicamente incorreta e, tudo finito,  não haverá quem cuide da reciclagem. Definitivo: melhor Melancolia.

            Lamento que o fim seja hoje. O Corinthians não será pentacampeão brasileiro e não terá mais chance de ganhar a Libertadores. Por outro lado, para meus alunos será um alívio. Não vão precisar passar pela maratona de 180 questões e mais uma redação do ENEM. A prova do INEP, mais uma vez, não vai acontecer no dia previsto, o que prova que de fato esse formato de avaliação é o fim do mundo mesmo.  

            Opa! Tive um sentimento repentino de perda de tempo. Nem sei por que cargas d´água tsunâmica estou escrevendo este texto sobre o fim do mundo que logo mais acontecerá. Você nunca vai ler nada disso, já que o texto será publicado no domingo, dois dias depois do derradeiro suspiro de todos nós.  Este é, strictu sensu, meu último trabalho escrito e nunca será lido.   Pior: se for lido significa que o mundo acabou coisa nenhuma e todo esse trabalho foi, de um jeito ou de outro, um desperdício do meu tempo. E do seu, pior ainda.  

            Só não apago tudo e começo outro texto porque há um lado meu que acha que o mundo de fato precisa acabar, ao menos o mundo como se apresenta hoje. Por não encontrar um sentido na vida,  os humanos estão fazendo da falta de sentido a razão de existir.  Está tudo muito confuso, fora do lugar e uma sacudida seria bem-vinda.  Fica este texto mesmo na falta de outro melhor e, aconteça o que acontecer, foi uma honra escrever neste espaço por quase sete anos.  Obrigado pela paciência.  O fim está próximo. E chegou.

 

Jefferson Cassiano foi professor e publicitário. Ocupou a cadeira 31 da Academia Ribeirãopretana de Letras