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Contos-->Último dia -- 10/09/2001 - 19:09 (Adrienne kátia Savazoni Morelato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Bem, ele poderia ser o cara mais normal de todos; belas mulheres ao seu redor, família estruturada e bem de vida, uma porção de amigos, universitário num país de analfabetos... Poderia ser um jovem feliz. Mas não era. E por que não era? Talvez pelo seu carro, um gol cinza, Ter quebrado no centro da cidade. E isso seria motivo? Para nós não, mas para ele...Acho que não é por isso. Talvez o nosso amigo (amigo?) não seja feliz porque repetiu de ano na faculdade por 0,2. Isso é fácil resolver, estuda pacas mais um ano e passa.
O fato concreto e revisado é que, nosso jovem não era feliz, não se sentia feliz. Quem olhava aquele seu jeito desengonçado e alegre com todos, mal podia imaginar detrás do seus sorrisos o quanto se contorcia em tristeza. “ O mundo é podre” concluía. “E eu mais podre ainda”. Não tinha matado, nem roubado, nem estuprado alguém, entretanto, o nosso amigo, se achava um ser perverso, uma alma demoníaca e uma personalidade esquizofrênica. Fazer o que , quando nos resta entrar em seu corpo, em sua mente e vivemos juntos seus devaneios.
Droga! Tenho que ir para a faculdade, não! Vou dormir mais um pouco...hoje é prova! Droga, droga, droga... Não sei se estudei , é hoje... Tudo está se tornando um saco. Todo dia a mesma rotina. “ Filho seu café está esfriando” “tá bom mãe”, “vem logo, se não vai chegar atrasado à aula” “ tá bom mãe, tô indo”. Ele atravessa os quartos e a sala se perguntando para quê uma casa tão grande. Ah1 Já esquecia, ele se trocou como de costume com toda pressa e nem fez questão e nem fez questão da roupa passada. “ Olha, filho, tá qui seu leitinho, tem pão, tem bolacha, tem fruta, come porque saco vazio não pára em pé.” “ Oh! Não vai de camiseta amassada, não, tira agora, eu vou passar!” “ Eh... meu Deus, essa velha enchendo a paciência, ela me trata como um bebê, não agüento mais. Só falta colocar comida na minha boca. “ Não via comer? Quer que eu ponha na sua boca?” Não falei? “ Não mãe, não estou com muita fome”.
O que mais incomodava nosso amigo é que, ele nunca poderia dizer o que pensava realmente, ser franco, pois, aprendeu que nunca teria direito de magoar os outros. Então, só lhe restava o fingimento e se deixar cair nas contradições. Ninguém nesse mundo é tão certo de si mesmo a ponto de nunca Ter cometido uma incoerência. Apenas ele se sentia o mais incerto de todos.
Prova ! Calma, calma, o mundo não está perdido só eu que estou. “ Bom dia!” “ Bom dia”. E o que tem de bom? De texto dizer bom dia quando não quero dar. Por que meu dia tem que ser bom? E será que daquela mulher também tem de ser ? o meu dia não precisa ser maravilhoso, pois, não sou nenhum homem especial. Sou uma pessoa falsa. Tudo em mim é falso, até meu sorriso de bom dia. E quem será o eu verdadeiro? Um eu bem podre que não consegue enxergar a beleza de um bom dia. Eu sou uma máscara para os outros e uma tortura para mim. Aí vem aquela menina de novo! Está gostando de mim, eu sei, mas não dá... ela é muito boazinha para um pó com eu. Com certeza, só vê a máscara, já que, se enxerga e se por detrás, veria o quanto sou asqueroso e sem nenhum atrativo. Coitada! E eu nem consigo machuca-la de uma vez, para que se afaste em definitivo. Tão doce que não sei se rude Acabo sendo legal com ela. Aumentado suas esperanças . Desse jeito sinto me mais mal, falso e pó ainda. Não que a menina não seja atraente, mas já tenho minha mina e ela não traio. Apesar de já Ter traído e foi com essa menina. Não deu para controlar quando ela me pediu um beijo...
Passava se os dias, e nosso amigo se torturava cada vez mais com seus pensamentos. Quem sabe chegando no abismo profundo de seu ego, não descobriria a verdade? E talvez a verdade fosse mais aterrorizante do que se imaginava. Não demorou para começar a desejar a morte. A morte seria a única coisa o qual o dignificaria, e sua última salvação. A morte! A idéia de morrer, de seu organismo agonizar e parar completamente, de deitar na caixa dura e fria, de descer e ficar para sempre num buraco enterrado, das pessoas chorando a última vez em seu redor, da lápide com seu nome escrito, dos cravos secando, sua pessoa esquecida entre os tempos. Essas coisas enfeitiçavam como um obsessivo. Só a morte era capaz de devolver a harmonia das coisas, as quais, o seu ser presente roubava a todo momento. Ninguém tinha obrigação e paciência de agüentai-lo. Essa morte deveria ser lenta e dolorosa, para o sofrimento purificasse a sua alma.
Que tal revolver? Não, acho revolver muito rápido até adoraria saber a sensação do cano frio roçando minha fronte e da bala estourada na cabeça. Uma faca? Imagino um punhal atravessando com tudo meu abdome, lavando o chão com o estouro de meus órgãos internos. Pular de um prédio? E ver todas as pessoas gritando” não, pelo amor de Deus”. Um acidente? Atravessar a rua com os olhos vendados ou correr até não poder mais com meu carro. Já basta eu morrer, não preciso levar ninguém comigo. Veneno? O problema é que, veneno dá trabalho aos outros, contudo, seria até legal meus olhos se revirando, minha baba escorrendo o ladrilho do banheiro e minha língua inteira pra fora..
E pensa e repensa, em fim escolhe o método da salvação. O dia seria no seu aniversário no mês que vem. Até lá poderia planejar tudo com cuidado. Chegou o dia. Antes de executar seus planos iria se despedir das pessoas . Faria do seu último dia o único que vale-se a pena. Acordou de manhã para ir à faculdade e achou graça no jeito mandão e carinhoso da sua mãe “ Filho, parabéns, 25 anos ! Já é um homem” “ toma seu café, vai esfriar”. Lembrou-se de cumprimentar seu irmão, cujo viviam brigados. “ Oh, meu irmão, que tal se fizermos as pazes? E choraram como crianças. Depois na rua, andando vagarosamente, percebeu como era linda sua cidade e se estranhou de que, percorrido 3 quarteirões ninguém lhe disse bom dia. No 5°, finalmente a senhora “ bom dia” e ele; “ muito bom, muito bom dia!”. Se todos os dias fossem assim valeria a pena viver.
Na aula e em toda faculdade curtiu os amigos como nunca havia antes, se alegrando de verdade. E para sua surpresa, um passarinho pousou em seu ombro, leve sorriso. Não demorou muito, aquela menina se aproximou com um pequeno cartão de aniversário “ Parabéns”, “ obrigado”. “ Sabe, eu nunca te disse o quanto você é especial, não merece um pó como eu... perdoe se um dia a te magoei, mas não a mereço”. Os dois se abraçaram por um longo tempo e nosso amigo se sentiu um pouco especial.
Ao fim da tarde, chegou para sua mina e beijou a feliz. Não foi querendo transa - la logo de cara, o que a assustou; “ como é , hoje não?” “ Quero apenas ficar do teu lado, vamos ver o pôr- do- sol!” E partiram para o muro olhar o céu. A mulher espantadíssima decidiu aproveitar aqueles momentos. “ Comprei esse livro para você, é sobre o romantismo... feliz aniversário” “ obrigado, amorzinho”. Se despediu da mulher, da cidade, das pessoas e pegou um ônibus e foi ao encontro da morte. Morreria num lugar cheio de mato, árvores e animais silvestres. A meia noite, entre um dia e outro, o seu fim e a redenção de tudo. Seria afogamento naquele riozinho. Aproximou-se das águas com o coração pulsando forte, nada o afastaria de seu objetivo. Observou bem o lugar, para guardar o que seria a sua última visão, mesmo não enxergando muito. Tocou as águas frias do riacho e a terra úmida do encalço de seus pés, para sentir pela última vez o tato de seus dedos. Respirou fundo para cheirar aquele ambiente fresco e aromático, seria seu último cheiro. Trazia no bolso um gomo de laranja, levou o na boca, sentiu sua acidez a corroer seus lábios e sua língua, era sua última degustação.
Como nada o afastaria de seu objetivo, colocou seus pés na água, a salvação estaria próxima! Afundou seu corpo, porém a sua alma se elevaria! As águas começaram a entrar em suas narinas e seus ouvido. De repente, lembrou-se do dia feliz que tivera e perguntou porque estaria se matando. Começou a se debater, a lutar, tentava gritar e o desespero crescia cada vez mais, enquanto diminuía, diminuía, diminuía... suas esperanças.
No dia seguinte, seu rosto era manchete nos jornais da região, aquela menina e sua mina choravam viúvas, os seus amigos o proclamavam como herói, sua mãe e seu irmão em estado de choque, quase não ficaram no velório, a professora que o repetiu, dizia que se pudesse; voltava atrás e dava lhe um dez, o resto de sua família e vizinhos lamentavam a perda de um menino tão bom. Enquanto, uma velhinha dizia “ tadinho, que tragédia” “ Sempre tão alegre, nunca verei mais um bom dia tão feliz e cheio de vida como ele me dava”.
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