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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (37) -- 16/11/2012 - 10:32 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (37)

Através do noticiário, tomo conhecimento de que a frase "deus seja louvado", tende a desaparecer do canto inferior esquerdo das cédulas nacionais. Não me importo o mínimo se sai ou não. O intrigante, de fato, é que em Pindorama, em todos, ou em quase todos os escritórios públicos, há nas paredes uma imagem semidespida do Cristo, o líder ocidental. A carta magna exige que o Estado seja laico e, no mais das vezes, soberano. Na parede do próprio STF, onde se reúne (julga, condena e arenga às vezes), o cream de la cream do conhecimento jurídico, também está crucificado e laivado de chagas. Voltando à nota nacional, o que melhor se a caracteriza, na minha sensibilidade, é portar a fauna brasileira, de modo bastante convincente. É por isso que das vezes que a ela, a cédula, me refiro, chamo de garoupa, onça pintada, arara, mico-leão dourado etc., variando conforme seu valor. (Não se esqueça o leitor que sua excelência a presidente(a) Dilma, retirou incontinenti o grande crucifixo da parede do gabinete donde comanda o país).

A ideia de extrair a frase deve ser de algum parlamentar sem muita imaginação ou, quem sabe, no fundo subsista alguma que venha ser materializada depois da frase desaparecer. O dólar, potente e onisciente, também ostenta outra frase "in god we trust": em deus confiamos. Deletada ou não, o dinheiro, de mão em mão, jamais deixará de ser uma fonte de doenças, bactérias mil e outras quizombas, mas contraditoriamente, compra tudo, ou quase. Ademais, duvido que alguém já tenha se dado conta da frase, senão da ausência intermitente da espécie completa, com seu odor característico quando se a sacamos do caixa eletrónico, novinha em folha. Por oportuno, diga-se que a maioria do trabalhador tem a honra de receber, injustamente: seis garoupas, um mico-leão dourado e uma tartaruga marinha, sem os descontos, no fim de cada mês.

A propósito da defecção da frase, me lembro bem que a certa altura da Constituinte, quase em sua conclusão, José Genoíno, hoje banido e condenado da vida pública por ter mijado fora do caco, sugeriu que se retirasse do preàmbulo da Carta constitucional de 1988, a frase "...promulgamos sob a proteção de Deus...". Não sei ao certo se tal atitude teria gerado tanta discussão, mas estou seguro de que o parlamentar Roberto Freire, hoje cidadão paulista, em busca de uma presidência remota, discordou de forma contrária, argumentando inteligentemente, "isso seria desrespeitar o sentimento do povo brasileiro, essencialmente religioso". No que concordei de pronto. Aliás, por mais que se ouça falar nessa laicização tão pouco explorada, a opinião pública sempre espera contrita que alguma divindade continue protegendo o Brasil, onde se presencia a fúria dos elementos, em grau pequeno, com um terremotozinho ali e um furacãozito acolá, sem maiores consequências, a despeito das fortes chuvas de verão.

A agenda dos políticos, ao menos teoricamente, deveria estar abarrotada de afazeres mais pontuais que não estivessem a mercê de frases que por si sós, nada ou muito pouco representem na busca do bem-estar e da felicidade do brasileiro, pouco educado e doente por excelência, porque mal alimentado, quando não desnutrido. Frases são muitas, a começar pela predileta do glorioso exército brasileiro: "Aqui se aprende a defender a pátria", ou essas tantas que encontramos nos vidros dos automóveis, hilárias e inócuas. Mas o amável leitor não se surpreenda se um dia aparecer algum engraçadinho, com um ar respeitoso e santo, querendo propor a revogação da segunda lei da termodinàmica.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe, 16.11.2012

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