A enorme cesta aos ombros,
o rosto suarento,
as palmas no portão.
Era o louceiro!
Da enorme cesta
pulavam para os nossos olhos
roupas cheirando à loja,
utensílios e vasilhas a preços convidativos.;
até brinquedos ainda virgens no plástico.
Era o louceiro!
Nós - as crianças - rodeávamos a cesta mágica.
Pouco ou um quase-nada podíamos comprar,
mas a alegria alumiava nosso rosto
quando, às palmas,
acorríamos para fora
e, eufóricos, gritávamos:
- Mãe, é o louceiro!
Cada peça exposta,
cada preço regateado,
cada compra feita ou frustrada,
perderam-se na memória.
Porém algo ficou...
Era o louceiro!
- Pode levar, dona.
- Se não servir, semana que vem eu troco.
- Pode pagar depois.
A voz baixa e a presteza
com que recolocava a cesta aos ombros
para bater à porta do vizinho
nos fazem sorrir em lembrança ainda hoje.
Era o louceiro! |