Me sinto à vontade para criticar o companheiro presidente Luís Inácio Lula da Silva. Votei e fiz campanha para que o metalúrgico que vendeu mariolas no cais de Santos conquistasse a presidência da república no intuito de promover algumas reformas. Algumas, e diga-se de passagem, não muitas, já que o núcleo de conservadores enraizados nos poderes legislativo e judiciário não permitirá muitas ao longo dos quatro anos de mandato.
Mas o companheiro está fazendo coisas estranhas ultimamente.
Como disse certo jornalista, no início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não tem curso superior, professores corriam para tirar o diploma. "O que vale é o que está no corpo da lei e não nas disposições transitórias", disse a secretária de Educação Infantil e Fundamental, Maria José Feres. Enquanto a lei não for mudada, o curso normal é a exigência mínima até para professores que iniciarem a carreira a partir de janeiro de 2007.
Segundo o ministro Cristovam Buarque, quase 800 mil professores estavam angustiados com a ameaça de perder o emprego e muitos comprometiam quase todo o salário no afã de conseguir o diploma.
Claro, ninguém deseja ver educadores desesperados, mas ao contestar a LDB de 1996, que exige diploma de curso superior até o ano 2007, o governo de Lula ataca uma das boas iniciativas do governo FHC.
Fernando Henrique Cardoso, em seu discurso elitista, obrigou o Brasil a refletir e estimulava todos os professores a buscarem o curso superior. O ruim para os professores com curso normal foi se disciplinar em busca do diploma. O bom foi a abertura intelectual proporcionada pela experiência.
Cristovam Buarque disse que o ideal é o professor ter um curso superior, mas argumentou que não se pode desprezar a experiência. "Não dá para dizer que quem não tem ensino universitário não é bom professor." Cristovam reafirmou, porém, a meta de melhorar o nível dos docentes, por meio de formação continuada e de ensino a distância.
Independentemente da lei, o ministro disse esperar que todos os profissionais tenham diploma, "mas sem trazer angústia e sem sermos incentivadores da depredação do patrimônio dos professores."
Que me desculpe o ministro da educação, mas se não houver incentivo aos professores ninguém vai buscar cursos superiores. A medida ideal seria financiar os cursos e ampliar vagas nas universidades federais.
O fato de Lula ter chegado à presidência sem diploma é único nos tempos modernos do Brasil. Mas nem Lula é obrigado a se contentar com conhecimentos superficiais. Capital intelectual se constrói com estudos, não com retórica.