Os bons comunicadores estão abandonando a arena de seus ofícios. Primeiro foi o Joelmir Beting e no último fim de semana, Décio Pignatari, semiólogo e criador da poesia concreta brasileira com a parceria dos irmãos Campos. Faz alguns anos venho assistindo ao noticiário da Band, talvez por não visualizar outras opções. Sinceramente, não há, do meu ponto-de-vista, noticiário na acepção da palavra, mas um misto de crónica policial diária com alguma informação digestiva, raramente de utilidade pública. Daí que as emissoras, as mais concorrentes entre si, douram a pílula do horário, com uma espécie de seriezinha semanal, tratando de assuntos que sob sua ótica, interessariam ao público das dezenove e trinta em diante. A meu juízo, talvez a maioria dos grupos televisivos esteja agindo exatamente da mesmíssima forma. Confesso gostar de ter assistido ao Beting, principalmente pelo humor que imprimia à análise económica em sua tradução, não raramente leitura para iniciados ou para os que dominam o economês, privilégio de alguns poucos.
Em suma, há na Band, a análise e sensibilidade do àncora Boechat que consegue, além de ler a notícia, comentá-la brevemente, de modo que forneça ao telespectador até mais do que ele possa exigir como formador de opinião. Isso sem contar com a simpatia brejeira da jovem apresentadora Ticiana, soteropolitana de talento. Não se exija demais de um tipo de televisão que é feita com ênfase no intervalo comercial, suporte indispensável para se chegar aos lares consumistas da classe média. E só vai para o ar se o anunciante detiver seus quatro minutos de fama e glória do merchandising. Afinal de contas, "uma coisa não se pode negar à televisão - ela não tem medo de insultar a inteligência do telespectador", segundo Millór. De minha parte, creio firmemente que a televisão praticada hoje não passa de uma eletrónica central de vendas a varejo e de entretenimento kitsch no dizer de Pignatari. As exceções são tão raras, que sequer lembradas. (Exceto se o exigente espectador assinar uma televisão a cabo para ver alguns bons filmes sem demasiados intervalos comerciais).
Deva-se abrir um adendo para a televisão pública que ainda engatinha em seu propósito, embora já tente há muito tempo fazer uma televisão de boa qualidade. O próprio Décio Pignatari, autor de diversos livros e dono de várias ideias, durante seus longos oitenta e cinco anos de vida produziu alguns textos para televisão.
Dele, foi minha leitura habitual durante o tempo em que me preparava para concurso de professor universitário, na área de comunicações administrativas. Umberto Eco andou também me azucrinando a cuca, durante meu propósito de perceber melhor qual é a da comunicação humana, da cibernética e da melhoria nas relações sociais. Não pude prescindir das mentes privilegiadas de David K. Berlo, Charles Redfield e de todo o pessoal maluco da teoria geral dos sistemas: Churchman, Bertallanfy, Wiener, etc.
Se consegui aprender, não sei. Mas sei que fiz de tudo até esta quadra da vida, pra não me trumbicar, a despeito dos percalços regulares já previstos no sistema pessoal de um homem comum. Só não percebi ainda qual é o objetivo do frequentador das redes sociais que, a partir de um perfil virtual desconhecido, consegue dá a impressão de que é amigo pessoal de todo mundo, numa rápida olhadela e sem o menor escrúpulo.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE, 04.12.2012