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Cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (42) -- 07/12/2012 - 15:32 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (42)

A maçonaria tem por hábito tratar a divindade como o "Grande Arquiteto". No subúrbio, durante minha juventude, presenciei uma vez num discurso, um homem a quem via raramente, dizer o epíteto de forma respeitosa. Era um cinquentão funcionário público e gozava de algum prestígio na comunidade, inclusive porque desembarcava sempre de um Aero-Willis novinho, carro da moda naqueles dias. Se não me trai a memória, tratava-se de uma espécie de benemérito de um clube provinciano, a reunir nos sábados, jovens casais para um relabucho. Ficava sempre intrigado, mas dessa vez tomei coragem e perguntei-lhe ingênua mas curiosamente: - O grande arquiteto que o senhor citou no discurso é Oscar Niemeyer? Arrodeado pelos bajuladores de plantão o homem desdenhosamente me falou resoluto: - Não, meu rapaz! É Deus! - Baixei minha bola e saí meio encabulado. Já estudava desenho na Escola industrial, hoje ETEPAM e me interessava pela coisa da arte em geral e pela música em particular.
Minha maior vontade era viajar e conhecer Brasília, a capital federal, onde o projetista arquiteto, com quem o homem do discurso certamente não se importava, havia imaginado e realizado maravilhas curvilíneas e um tanto revolucionárias para a época. Demoraria alguns anos pra eu ver meu sonho se concretizar. Durante minha permanência no sindicalismo e a passagem pela CNPL, entidade de profissionais liberais, pude conhecer de perto e em detalhes, a obra grandiloquente de Oscar Niemeyer, tanto quanto o Concerto nº 5, para piano e orquestra do gênio de Bonn. Nos fins de semana, muitas vezes saí em busca da amplitude do espaço, da melodia das curvas, da percepção do quase infinito.

Extasiei-me tantas vezes, inclusive no próprio Teatro de Brasília, possuidor de acústica singela e absolutamente plausível, no qual, do fundo, se poderia ouvir a velhinha quase surda, sorridente podendo ouvir o sussurro do ator principal. A catedral da cidade, com seus "dedos" de concreto segurando quem sabe uma espécie de hóstia, cujo átrio iluminado, levava pela nave do templo, a luz intensa do dia, parida pela imaginação criativa do grande arquiteto (com letra minúscula, para o maçom não se sentir ofendido). Einstein, a quem o Dr.Oscar citara num belo "Poema da curva", dissera certa vez que "imagination is more important than knowledge". A imaginação é mais importante do que o conhecimento. E o arquiteto sabia muito bem o que estava dizendo. A longevidade com a qual conviveu tão bem, sedimentara mente/alma, de modo que a fonte, inesgotável, jorrasse mais e mais arte; pudesse ele cruzar a barreira do tempo-espaço, como na lei da relatividade einsteiniana. Com um simples lápis preto, com a mão tão livre como sua verve, ele pincelara o mundo de fantásticas formas arqueadas, porque redondo é o sistema planetário, a própria terra e o universo. O legado artístico não é somente físico mas atemporal.

O ecletismo da criação rabiscado na prancheta é primeiramente vislumbrado pela contemplação da natureza, nas montanhas, nas escarpas e na sensualidade feminina, mormente para quem, felizmente, nasceu entre mar e montanha. Antes de ser exilado voluntariamente na França, onde construiu tantas obras quanto amizades, o longevo Oscar passara por alguns momentos tipo saia justa. Um deles, li na entrevista a "O pasquim". Ao ser perguntado por um "sábio" inquiridor fascista durante o golpe de Estado, como é que tinha ganho tanto dinheiro, ele que se dizia comunista? Com a cigarrilha na mão quase queimando o dedo, o arquiteto carioca respondeu: "Dando o c...".
Se esta nação brasileira, tão avessa a preservar sua história e sua memória, der um salto de qualidade e passar de geração a geração a esperança que Oscar Niemeyer nutria pelo país, sua obra e tantas outras de igual relevància, se eternizarão. E mais concreta será a solidariedade pela qual tanto pugnava, na expressão simples e imensamente harmoniosa a tornar o cotidiano menos retilineamente cruel.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE 07.12.2012
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