Querida Sal
Faz tempo, não?
E agora deparo-me aqui, com a notícia de tua morte.
E te escrevo. Não por tristeza. Mas para consolar alguns amigos comuns que, certamente, não sabiam de tuas idéias - tão simples - sobre a morte.
Esta vilã que, quando menos se espera, chega assim... Sem meias palavras e... Vupt! lá se vai mais uma pessoa querida...
Mas tu, Sal. Tu não eras dessas pessoas que lamentam a morte, ao contrário, tu sempre a bendizias.
Eu sei... Quantas e tantas vezes me disseste:
- Mila, eu já vivi tudo o que tinha pra viver... E, por vezes, quando acordo, abro os olhos
e constato que ainda estou viva... Fico "puta-da-vida"!
Assim era Sal... Falava-me da morte, como quem fala de uma amiga íntima que está para chegar e demora um pouco mais.
Quando o Rei Arthur morreu (seu cachorrinho), Sal me disse:
- Ainda bem que foi primeiro do que eu. Já imaginaste, Mila, se eu fosse antes, o que seria deste meu amigo leal?
Por isso, Sal... Embora saudosa, não estou triste.
Sei que foste ao encontro do Rei Arthur e de outros amores que se foram antes... E sei que onde estás agora, a POESIA sobeja...
Até!
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