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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (47) -- 23/12/2012 - 09:30 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (47)

JOSÉ URSICINO DA SILVA é um nome do qual pouco se ouve falar, embora o fato não empane sua importància. Poucos o conhecem através da certidão de nascimento. Esse cidadão que hoje completa 77 anos bem orquestrados, começou cedo o ofício. Nascido em Goiana, Pernambuco, o maestro DUDA me merece a maior gratidão, a mais subida honra, como dizem certos oradores. Ele tinha apenas 28 anos quando, já famoso e pleno de talento musical, foi à minha casa avisar de modo humilde e amistoso, que eu havia ganhado um concurso nacional de música popular. O ano era 1963, mês de novembro e eu mal emigrara da adolescência. O certame era tão obscuro que até hoje, nem a generosidade beatífica do bispo Macedo, dono da Record, ousa comentar. Curioso é que não há mesmo, de fato e de direito, nenhum registro de que nesse ano, houvera existido uma "Composição de ouro ABC". Pois o amigo DUDA, espontànea e solidariamente fora o primeiro a me informar da vitória. Do evento participaram Lupicínio Rodrigues e Capiba.
Eu já conhecia o DUDA da TV Jornal do Comercio, onde cantei várias vezes sob a batuta de outros regentes. Nessa época, salvo falha memorial, ele formara uma orquestra para tocar nos bailes de formatura e similares. Arranjador emérito, tem dedicado toda sua vida à música, um terreno a$$az movediço, em se tratando de planeta Brasil. Leia-se "direitos autorais", por oportuno.

Apesar da grande efervescência musical naqueles anos sessenta/setenta, o músico neste país é ainda tratado nos dias atuais como um mero animador de festas, com raríssimas exceções. A menos que decida sair do palco nativo. Claro que há exemplos meritórios de alguns que foram fazer sucesso em outras paragens. O fato de ser artista não confere de modo mediato a nenhum, a honra e glória de que são merecedores. Não se mencione aqui o artista-relàmpago desses que meteoricamente vêm e se vão. Não é rigorosamente o caso de DUDA que coincidentemente carrega consigo um apelido castelhano que significa dúvida. Ele já foi inclusive escolhido o arranjador do século vinte, honraria conferida faz poucos anos. Tal prêmio só é dado aos cobrões americanos, como soeu ocorrer. Curioso é que ele nem liga, embora goste e fique feliz. Mais comendas apareçam e ele se tornará inarredável de sua simplicidade aliada a uma franqueza incomum. Tive a honra de cantar várias vezes sob sua pequena orquestra "familiar", que ele comandava num bar em Olinda, próximo à Avenida Fagundes Varela. O bar estava sempre lotado, não graças ao cantor, mas por causa do condutor que regia filhos e netos. Sua generosidade é imensa e ele é o eterno incentivador desses rapazes a exemplo do maestro Spock, a quem conheci no início da carreira na banda da Cidade do Recife. Um amigo músico comum, SENÓ, escreveu a maior homenagem que qualquer artista gostaria de receber. Essa pérola musical é um frevo chamado "Duda no frevo", tão executado nos carnavais quanto "Vassourinhas". Creio que DUDA é merecedor, haja vista ser uma peça de cunho extremamente modernista, de desenho inusitado pelos tons "tronchos", como se denominam os acordes escritos em sétimas e nonas. De SENÓ ainda guardo nos meus arquivos, várias partituras, criações que ele me cedeu bem antes de morrer em Campinas, São Paulo. Eram muito amigos, ele um trombonista e Duda um exímio saxofonista, que fizeram por merecer suas trajetórias, cada um em seu curso. Como adendo, diga-se que SENÓ foi arranjador da banda "Paralamas do sucesso".

Daqui do meu modesto refúgio lítero-musical, curvo-me e reverencio o brilhante DUDA, quase longevo, sábio e simples, neste fervente dezembro. O detalhe que encerra estas linhas é tão singelo quanto o artista a que me refiro: DUDA não escreve o arranjo numa grade convencional como faz a maioria. Ele simplesmente sai rabiscando instrumento por instrumento, quanticamente, num ritmo que não admite erro nem correções. Coisa de gênio. Só espero que essa cidade do Recife, um dia cognominada de cidade cruel, possa continuar reverenciando e preservando seus vultos, a exemplo de José Ursicino da Silva, que não é meu parente, mas alguém de quem me lisonjearia ser irmão.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
23.12.2012


(Alguns dos meus amigos, incluindo meu próprio filho Rodrigo, sugerem que eu utilize esses textos num blog. Reativarei um velho instrumento para ver no que dá)
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