O Globo - 21/01/2013
EDITORIAL
VENEZUELA PERSEGUE O FRACASSO COM EFICIÊNCIA
Haja o que houver em Havana, convertida em centro do poder venezuelano, quem for
cumprir o mandato para o qual foi reeleito Hugo Chávez terá um projeto de governo e
poder à sua espera em Caracas. Ele também está na internet, no site
www.chavez.org.ve , em que pode ser encontrado o "Programa da Pátria" para 2013-
2019, período da gestão já iniciada numa mirabolante decisão sancionada pela
Suprema Corte chavista sem que o presidente tomasse posse.
Repleto de chavões clássicos do palavrório supostamente revolucionário latinoamericano,
o programa traz metas de toda ordem. Não é apenas uma peça de
proselitismo. E aponta para 2019 como prazo final para a instituição do "socialismo do
século XXI". E nele não há mesmo espaço para a iniciativa privada. É incrível, mas,
depois da autopulverização soviética e da consequente falência do Leste da Europa,
dos delírios da Coreia do Norte, da pauperização cubana, o chavismo trabalha para
cometer os mesmo erros.
Reportagem publicada segunda-feira pelo GLOBO relata alguns passos dados com
sucesso no projeto de destroçamento da empresa privada. Um deles, a Lei Orgânica do
Trabalho, baixada por decreto em maio do ano passado, na prática tornou estáveis
todos os empregados. Aumenta o absenteísmo, cai a produtividade, e assim inviabilizase
qualquer empresa que precisa do lucro para reinvestir e sobreviver. Numa grande
indústria de alimentos, Monaca, 40% dos funcionários já não aparecem para trabalhar,
noticiou o jornal "El Universal".
A folha de funcionários públicos dobrou desde 1999, quando Chávez chegou ao poder
pelo voto. E todos tendem a ser servidores, pois a empresa privada será extinta, é
evidente. (Como prevê, no jargão engajado, o "Programa da Pátria"). Ao seguir na
desmontagem do setor privado, Chávez amplia o emprego informal. Mas quem se
encontra na informalidade recebe do governo uma espécie de "bolsa" - um incentivo a
não se buscar emprego formal.
Chavista considera responsabilidade fiscal algo burguês, neoliberal. Pois o déficit fiscal
venezuelano, a depender da fonte, varia de 25% a 30% do PIB (!) A conta só fecha, por
enquanto, devido ao petróleo. Mesmo assim, por ainda estar na faixa dos US$ 100 o
barril - US$ 80 a mais que na posse do caudilho.
Há muitas interrogações à frente da Venezuela. Não se sabe, por exemplo, se os
efeitos colaterais do projeto de desmontagem da empresa privada serão suportáveis. É
conhecida a crise de desabastecimento no país, cada vez mais dependente da
importação de bens de consumo, e com uma enorme diferença entre o câmbio oficial e
o "negro" (4 para 14). Não se pode ser otimista. Enquanto o chavismo desmonta o
sistema capitalista, parece não conseguir substituí-lo pelo socialismo, que já fracassou
na História. E, mesmo que tenha sucesso na troca de regimes, o desastre será
inevitável. Pois já ocorreu. |