Encho o peito
De trabalho e respeito
Encosto a barriga no tanque
Lavo, passo, costuro, arremato
Arrumo cama, como quem ama
Faço faxina, tal qual Joaquina
Varro quintal, sem avental
Visto o capacete e piloto o fogão
Cozinho molho de tomate
Jogo água quente no macarrão
Ralo queijo e uns dedos
Colho Jasmim e irrigo o jardim
Cuido do que sobra de mim
E ainda pago bom preço
Pela espera aterrorizante
Repleta de segundos
E vazia de esperança
DE NOITE
Encho o prato
Esvazio o peito
E o resto da cachaça
Sem achar nenhuma graça
Recolho a ‘carcaça’ magrela
Que bambeia no parapeito
da pequena janela
Da minha casa amarela
Coloco o pijama
Dentre pernas bambas
Jogo a sombra na cama
Abro bem os olhos
Para ver se tudo é real
Ou falta de sono
Ou não passa de um sonho