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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (56) -- 02/02/2013 - 11:53 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (56)

"Nunca ouvi falar de uma guerra
que tivesse começado num salão de
baile". Bertrand Russell


Quando um homem confere importància recíproca tanto a um poema de Shelley, quanto à matemática, ele terá atingido sua completa maturidade intelectual. Refiro-me ao filósofo e matemático galês Bertrand Arthur William Russell (1872/1970), para mim, o mais influente filósofo do século vinte. Essa frase acima foi dita durante a entrega do prêmio Nobel de literatura, no discurso que proferiu. Oponente do idealismo reinante no final do século dezenove, ele restabelece a tradição empirista desde os tempos de David Hume, filósofo inglês. "Seu método de construção lógica visava detalhar a complexa relação que os objetos abstratos ou teóricos têm com a experiência sensorial, legitimando assim o lugar da experiência como base adequada para todo o conhecimento". Parece um tanto complicado, não? Nem tanto. Essa análise enciclopédica de certo modo, distancia o leitor comum do especializado. Aprecio Bertrand Russell não somente por esse viés, mas por causa de sua clareza ao expor um pensamento durável, sustentável. Um mergulho na filosofia central de Aristóteles, conferirá certa legitimidade à frase, na medida em que acreditamos desde o grego de Estagira, que "nada vai ao intelecto sem antes passar pelo sentidos".
A vasta obra de Russell, que aos noventa anos ainda estava lúcido e comprometido com seu tempo, dá-nos uma ideia de quanto foi útil e quantas encrencas político-intelectuais enfrentou, pagando com sua prisão durante a primeira guerra mundial. Acusado por muitos de excessivamente racionalista, isso seria o mínimo, haja vista ninguém o poder acusar de apático e ausente da crítica acirrada aos grandes conflitos do seu tempo, incluindo as duas grandes guerras mundiais. Assombroso saber que Russell durante muitos anos de sua longa vida, escrevia diariamente cerca de três mil palavras, sobre os mais diversos assuntos, incluindo moral. De sua extensa produção li várias vezes "Porque não sou cristão", "O casamento e a moral" e "A conquista da felicidade", que muitos imaginam ser um tratado de autoajuda. Que fosse, ora! No primeiro, ele consegue desmistificar as falsas virtudes contidas no seio das religiões; no segundo, pontifica com luminosidade, qual o papel do homem e da mulher, numa relação interdependente chamada matrimónio e no terceiro, com sua íntima exemplificação, "pensei apenas em reunir alguns comentários inspirados, segundo acredito, pelo senso comum", diz ele no prefácio da 3ª edição da "Conquista..," Ediouro, 2002.
Possuidor de um talento extremo na compreensão holística da filosofia e da matemática e seu lugar na realidade, Russell foi um crítico ferrenho do comunismo, embora não odioso, mas alguém que utiliza o poder de argumentação para provar e às vezes comprovar o quanto uma teoria pode se tornar danosa em sua aparência contrária. Eu que fui durante muito tempo um apreciador de Trotsky e por ele talvez pusesse a mão no fogo, tempos depois me dei conta de que poderia estar enganado. Mas estamos todos de acordo em que a derrocada do socialismo real se deu com o peso ignóbil do poder burocrático. Dono de uma erudição rara, Russell esteve durante cinco anos na China e, se não aprendeu o mandarim, teria compreendido e nos ofertado com uma lição pormenorizada do confucionismo, matéria que dominou muito bem. Felizmente, sua obra-prima é "História da filosofia ocidental", da qual ainda não tive oportunidade de obter os cinco volumes, provavelmente esgotados. Aluno de Alfred North Whitehead, escreveu com o mestre os "Principia mathematica", tratado complexo e profundo das origens, princípios e aplicação da matemática no mundo conhecido. Essa é uma obra para especialistas. Criou nos anos sessenta o "Tribunal dos crimes de guerra no Vietnam", em parceria com seu amigo o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre, de quem discordava em muitos aspectos.
A contribuição de Russell se instala principalmente no que tange à busca perene da paz mundial e como atingi-la, num período de eterna transição. Humanista, estaria ele hoje (pre)ocupado com o estancamento das vaidades do poder e suas consequências na harmonia das nações. Tanto que sobre o tema escreveu dois ensaios intitulados "Tem futuro o homem?" e "O poder"- uma nova análise social - no qual constrói um conjunto de cenários do que viria ocorrer nos anos seguintes. Se Karl Marx errou quando se supós profeta, Russell acertou quando previu a queda do stalinismo e o fim hegemónico do açodamento das ditaduras no mundo. Escreveu um livro de contos "Satã nos subúrbios" que não teve quase nenhuma repercussão entre os leitores. Isso é o de somenos a julgar pela importància de seu ecletismo e sua visão mais que tridimensional das agruras peculiares à condição humana.
Nesta data, há quarenta e três anos, amanheceu morto, supostamente de uma gripe que contraíra, no mesmo ano em que morria também, em Londres, por outros motivos, Jimi Hendrix, exímio guitarrista e filósofo de uma determinada rebeldia.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
02.02.2013
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