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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (58) -- 06/02/2013 - 11:20 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (58)

Não sei se já observou, mas tudo indica que não se tem notícia até hoje, sobre um estudo comparado entre o filósofo prussiano Arthur Schopenhauer (1788/1860) e o poeta paraibano Augusto dos Anjos (1884/1914). Ao lado também de duvidar sobre que valor ou sentido se extraísse do fulcro dessa comparação. Pois eu imaginei que, considerando o traço pessimista de cada um, fosse esta a principal razão para se comparar um ao outro. Como se sabe, a distància temporal entre o bardo e o pensador é bem significante. Um nascera lá pelo século dezoito e o versejador no século seguinte. E, paciência, reunir ambos no mesmo século, seria amargura demais, embora a contemporaneidade auferisse algum lucro. Confesso do pouco que me cabe, não ser um entusiasta em quase nada do que teria professado o alemão e a recíproca é verdadeira quanto ao poeta Augusto. Desse nome, deveria se orgulhar demais seus pais; afinal, ter um filho que já nasce augusto deverá ter sido sinal de paz e harmonia familiar. Em contrapartida, o ranheto defensor de que "nada somos, senão pústula ou fracasso", não carrega no nome, nada que justifique seu modus pensandum. A poesia de Augusto, embora rica na métrica e no uso de palavras inauditas, traz em seu contexto a amargura, a desesperança e certa vocação para a morte. Morrera na flor dos trinta e quatro anos.
Escreveu apenas um único volume de poesia, intitulado "Eu e outras poesias". (De minha parte, creio, por rigor semàntico, não se dever utilizar o termo no plural). Seu estilo, para alguns considerado pré-modernista, mais correto seria situá-lo na escola simbolista, tendo denunciado em contrapartida, através de sua palavra, as injustiças sociais do seu tempo. O leitor interessado nele, há que estar munido necessariamente de um dicionário, haja vista sua pesquisa vocabular e sua visão metafórica e metafísica. "Sou uma sombra venho de outras eras/do cosmopolitismo, das moneras/pólipo de recónditas reentràncias". Nada fácil, não? Mas para Severino dos Ramos, meu ex-colega do curso profissionalizante (ETEPAM), era tarefa na qual tirava de letra, ora no entender, ora no declamar. Não sei exatamente o rumo que houvesse seguido, mas o Severino, com quem me dava bem, gostava, adorava talvez, o velho Her Arthur e sua mundividência. Por não admirar ou quem sabe, perceber a contento, não fui muito leitor nem do filósofo, nem do poeta, embora reconheça que têm sua códea na enorme pastelaria do pensamento humano.
Durante um bom tempo, quando estive absorto em minhas elucubrações de jovem, passei por Spinoza, Nietzsche e esbarrei necessariamente em Schopenhauer, por absoluta curiosidade e sede de conhecimento. Diga-se oportunamente que ele influenciou em certa medida, o velho Nietzsche, cuja visão de mundo se assemelha, de algum modo. Ainda que tenham tornado vulgarmente Schopenhauer, o filósofo do pessimismo, talvez por uma obra "As dores do mundo", ele foi o introdutor na metafísica alemã, da filosofia budista e do milenar pensamento indiano. "O mundo como vontade e representação" é a obra que estabelece seu rompimento com a filosofia de Immanuel KANT (1724/1804), filósofo alemão. Ainda que acreditasse no amor, Schopenhauer não demonstrava que este fosse um requisito para o alcance da felicidade. Com efeito, sua concepção de amor não correspondia a nenhum sistema de pensamento de sua época. O fato de acreditar que a suprema felicidade só é conseguida com a anulação da vontade, proporciona a mim que aprecio o budismo, uma dada correspondência na similitude da afirmação: "se queres reduzir o sofrimento, anula o desejo".
Infelizmente não tive acesso à poesia de Schopenhauer, afirmado anteriormente em relação à de Augusto dos Anjos; mesmo assim, sabe-se que como poeta, sua afinação com a realidade não foge a seu pensamento filosófico. Autor fecundo, produziu mais de vinte obras, entre opúsculos, ensaios sobre moral, sobre religião e ética. Por curiosidade e pertinácia, debrucei-me e li com muito rigor e interesse o livro "A arte de ter razão, ou como vencer um debate sem precisar ter razão". Meu antigo professor de português ficara muito feliz, quando, na manhã seguinte, no velho Colégio Salesiano, eu trazia no sovaco um pequeno livro, o filho único de Augusto dos Anjos. O sanguíneo professor Sá Barreto, catedrático e muito culto, me olhou a bordo do seu andar característico e disse baixinho: "Muito bem, rapaz". O que me deixou folgado e espaçoso. Mal sabia eu do trabalho que iria ter na biblioteca com o Aurélio aberto a desvendar seu vocabulário científico-poético. Ao começar esse texto, fui informado da morte do poeta de Buíque, Cícero Amorim Gallindo (CYL GALLINDO), velho companheiro da SUDENE e grande incentivador, cuja memória irá intermitentemente me ajudar ainda mais a separar a poesia do mero palavreado. O que reconheço, professo e confesso com imensa gratidão.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
06.02.2013
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