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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (62) -- 21/02/2013 - 07:25 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (62)


Mark Elliot e Suyin Han não são nomes que lhe possam parecer familiares. Contudo, num período em sua vida você os conheceu, vivenciou tais personagens, chorou por eles. Tudo isso ocorreu faz anos e você, hoje madura e sessentona, deve começar a revirar o arquivo implacável da memória. Quem sabe seu parceiro também compartilhou aquelas quase duas horas de atenção, empatia e torcida. Refiro-me exclusivamente às mulheres, porque sua sensibilidade mantém uma sintonia fina, delicada e altamente participativa. Nós homens, aparentemente mais "frios", não levamos muito a sério certos eventos lacrimejantes, embora, às escondidas, enchamos os olhos de lágrimas sem muita cerimonia. Essas duas figuras, um homem e uma mulher, não existiram senão ficticiamente. Elas são os caracteres principais de um velho filme dos anos cinquenta. Minha curiosidade de plantão, sempre me leva a Portugal, quando me refiro a cinema, um dos meus cinco principais hobbies. "A colina da saudade" é o título desse filme, lá em Lisboa. Não imagine porém que eu o tenha visto em terras lusitanas. Nessa época, com uns quatorze anos, eu mal viajava de bonde. O título do filme na terrinha brasileira é "Suplício de uma saudade", o que também não condiz com o título em inglês "Love is a many splendored thing", trilha musical escrita pelo competente Alfred Newman.
Claro que a crítica internacional não contemplou o filme entre os cem melhores de todos os tempos. Entretanto, ele constitui uma das maiores bilheterias mundiais. Trata-se de uma usina de lágrimas, um "kitsch" algo traduzido como brega. Sua memória, caríssima leitora, deve estar juntando os bits disponíveis que lhe fornecem um bloco de imagens. Daí você inicia o percurso sinótico dando conta de que se trata de uma historinha água com açúcar, mas emocionante. A médica eurasiana Han está dando sua vida à arte da cura, depois de enviuvar de um general chinês. Tudo se passa durante a revolução chinesa. O universal clima de guerra, proporciona a fuga em massa de refugiados à Hong Kong, ainda uma pequena colónia da Coroa britànica. A esculápia residente, filha oriental-ocidental mantém alguns hábitos chineses, excetuando-se a adesão à doutrina comunista. Entre idas e vindas a eventos nos lugares elegantes da cidade, ela conhece um americano jornalista, correspondente de guerra. Refém de traumas anteriores de um casamento com um general chinês, a doutora Han faz questão de demonstrar sua indisposição para uma nova relação matrimonial. Seu principal objetivo é curar males alheios, para os quais se oferece corpo e alma, deixando para trás a incógnita que o amor tanto sugere.
Mister Elliot, charmoso e cortejador, inicia sua "predação" à caça, o que não é nada mais justo, em se tratando de um roteiro desse porte. Depois de alguns jantares, uma natação propícia ao outro lado da baía e tentativas mil, a resistente médica joga a toalha e se entrega finalmente. Com a recusa da família dela, tradicionalista e preconceituosa, o casal começa a maior batalha que se resume em dois capítulos: a consecução do divórcio do bonitão William Holden, aliás Mark Elliot e a conquista final da não menos charmosa Jennifer Jones. O espectador, ainda que mergulhado na magia que o cinema sabe oferecer, não se preocupa com a direção de arte, aquela onde reside a tarefa de tornar os atores convincentes. Se essa obra se tornou um filme de época, repisado durante todos esses anos, eu me vi provocado a repetir a dose, num desses dias na tevê por assinatura. A narrativa é pouco empolgante, o timing é instável e a atmosfera é dessas que não me consegue envolver. Com o perdão de você, amável leitora, que gostou tanto de assistir a uma homilia de amor que só existe na ficção cinematográfica. Lembremo-nos que Mrs. Jones, ganhadora de um Oscar com "The song of Bernadette", viria repetir outras doses de suco de laranja azeda, incluindo "Suave é a noite", um xarope indigesto. Numa sala de projeção do subúrbio, o cine Éden em Campo Grande, Recife, as moçoilas (e alguns rapazes também) saíam de lá com os olhos rubros e o coração vazio. Por quê? Simples. Com a recusa do divórcio, Elliot voltara do encontro com a mulher original, bastante desesperançado. Sem contar com a também adesão familiar da médica, querendo vê-la casada com um chinês, por razões óbvias.
Invadida por uma paixão lancinante, ela agora decide, já demitida do seu emprego como médica residente, enfrentar a barra e entregar-se a algo que lhe fora impossível antes.
E, contrariando a plateia lacrimosa e torcedora do melhor, o correspondente de guerra vai exercer a profissão no conflito entre as duas Coreias. Depois de uma troca de correspondência febril e pontual, ela resolve escrever em mandarim, um longo texto sobre sua decisão. O corte para o campo de batalha, se superpõe no momento em que o pote de tinta vermelha cai no chão, com o choro da criança, paciente curada da doutora Han. A pieguice atinge seu clímax, quando, ao sabê-lo morto, a bela morena de olhos amendoados, corre à colina a fim de curtir seu instante final de saudade. E para não dizer que fiquei alheio e insensível a esse final infeliz, preferi ouvir Nat "King" Cole, cantando a melodia-título do filme. Apenas porque o coral que entoa o pano final é brega demais, quase um suplício auricular.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
20.02.2013
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