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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (63) -- 26/02/2013 - 20:37 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (63)


Nas horas de calmaria mental, quando não estou possuído de maus pensamentos, pergunto aos meus neurónios: o que inspira o ser humano na fascinante busca do poder? Que estimula tanto o apetite dele por algo que lhe poderá vir a ser frustrante ou ameaçador? Durante minha passagem regular de um mandato no Sindicato dos Administradores de Pernambuco-SINAEPE, senti esse peso. É um tipo de fardo diferente, onde supomos ser o personagem-chave, cuja luz de um holofote imaginário nos acompanha os passos. Sobretudo com o agravante de que, dado um impasse entre a "direita" que o comandava e a "esquerda" na qual eu estava inserido, fui eleito numa chapa única. Isso daria para me envergonhar até hoje. Mas saí incólume. Ponho esses termos bobbianos* entre aspas, apenas porque uma vez mencionei ser a profissão ainda hoje alicerçada sobre pilotis empresariais, onde o capital viceja e a maioria da estudantada quer ser dona do próprio nariz. É uma contradição, haja vista saber-se que encontramos mais administradores graduados e pós-graduados empregados públicos ou privados. Nessa época, 1987, o SINAEPE era ainda incipiente, porque idealizado meses antes, nos corredores de duas empresas estatais, ambas de capital misto. E eu fazia parte de uma delas. Ora, sabemos que a origem do sindicalismo reside na Carta del Lavoro, de inspiração fascista, contrapondo-se ao anarquismo europeu. Esse mesmo anarquismo é que forjou as grandes lutas do período nervoso dos anos trinta no Brasil: coluna Prestes, Ação integralista, Aliança Nacional Libertadora. Duvido muito que se faça sindicalismo nos dias correntes, levando em conta esses detalhes longínquos, senão na ànsia de alçar o poder propriamente dito.
Hoje o que vemos é um tipo de sindicalismo morno, dando a impressão de que a luta continua... mais ou menos. O modelo de sindicalismo moderadinho, reivindicativo e pautado nos acordos da Organização Internacional do Trabalho. Perdoem-me se perdi a familiaridade, mas o que tenho assistido como espectador é que, estando o PT no governo há tantos anos, as grandes centrais sindicais dão a impressão de que atingimos o ponto ótimo da negociação coletiva de trabalho e seus ditames pontuais. Sei que existe aqui e acolá, algum grupo mais acirradamente combativo, mas nem a rapaziada dos sem-isso e sem-aquilo, faz tanto barulho como há alguns anos. Com efeito, o que sempre acontece nos impasses trabalhistas durante o esgotamento das longas e excessivas pautas reivindicatórias é o bater do martelo através da Justiça do Trabalho. Isso se tornou trivial. Em minha época de assunção do poder sindical - porque nunca me considerei líder, mas dirigente - até agora, tenho observado um ar de leniência, ou, sem exagerar, certo peleguismo. Este impera em alguns setores onde a sede ao Poder é quase indessedentável. É só olhar ao redor que se sabe como é que anda a folha de pagamento público e a ascensão dos DAS, prática corriqueira em qualquer governo, inclusive nesse petista. De outro modo, prevalece paralelamente um princípio em todos os partidos: atingir o Poder sob qualquer método ou circunstància.
Perde-se a conta dos sindicalistas que alcançaram postos legislativos ou de diretorias na administração direta ou indireta. E ouvi muito naquela fase de cruzados e sarneyzismo que além do Poder central, o partido há que fazer mira no posto máximo, a presidência do país. Não estou ipso facto tentando empanar as grandes lutas sindicais dos anos pré-Collor, pré-Diretas-já. Sequer estou tentando ocultar o valor intrínseco do grande sindicalista Lula, um homem cuja origem todos sabem. Trinta ou mais anos depois, o que vemos é um tipo de líder insaciável, que, apesar dos prêmios que recebeu ao redor do mundo, demonstra um desejo frenético e incontrolável, que o faz supor estar querendo ser uma espécie de presidente adjunto. E eu que o imaginava apenas um consultor emérito.
Não questiono aqui a capacidade sistêmica de alguém que honra seu passado, mas a incapacidade de querer ver a Política praticada nos dias atuais, com sua própria luneta a vislumbrar outro tipo de horizonte, que não o real. E nem quero fazer ladainha do tipo, "o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente". Essa assertiva implicaria estar noutro contexto, ainda que seja cabalmente verdadeira. Durante a recente campanha eleitoral no município onde resido, Camaragibe, distribuí com alguns pré-candidatos, cópia do capítulo 18 da obra russelliana, "O Poder - uma análise social". Deveria ter insistido para que, suprapartidariamente, pudesse incutir nos partidos políticos, uma visão teórico-prática que um legislador municipal deve possuir. Só depois testemunhei que os principais fatores não domesticáveis, mas essenciais ao sentar na cadeira do poder, eram a infração da lei, o desrespeito à Constituição federal e a compra e venda de votos indiscriminadamente. Pobre poder para o qual se arvoram tantos para iludir a grande maioria; parca sensibilidade comunitária estrábica no reivindicar seus direitos inerentes. A menos de dois anos do magno pleito majoritário, as moscas pululam sobre a matéria agridoce do poder. Os comensais, de diferentes palatos partidários mas a mesma insaciabilidade, se preparam para o grande banquete, onde comem alguns em detrimento da grande maioria indefesa, subalterna e relativamente esfomeada.

*BOBBIO, Norberto -"Direita e esquerda" - Ed. UNESP, 1995.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
26.02.2013
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