MINHA VIDA EM RETALHOS.
Ana Zélia
Num diário escrevi meu medo, temor, vida de uma mulher que sobreviveu ante a violência conjugal, familiar.

Violentada diuturnamente no corpo e na alma.
Escreverei por parte. 21.03.1992 (9h)

ANDAR NAS SOMBRAS!...
Procuro-te e não encontro
O mundo é grande apesar da distância entre nós ser diminuta.
Ouço tua voz e não te tenho não te encontro.
Carros cruzam com o meu, os olho e não te vejo.
São rostos diferentes.
A busca é como andar nas sombras!
Nunca serás meu, a não ser por segundos.
Ana (21.03.1992) 9h.

Pela primeira vez me destes o rosto para beijar e não entendi.
Beijaste-me o rosto pela segunda vez.
Estremeci. Falaste na baleia com quem dançaste a noite inteira.
Teus filhos. Pareces-me frágil, apesar da voz, do porte.
Não sei o que sentes ou sentistes por mim naquele instante quando me dizeste:
_Melhorou agora. Senti minha pele tremer, os pelos arrepiarem.
Senti algo estranho em meu olhar. Espero não me envolver,
nem me apaixonar por você. Não daria certo nunca, como não deu com os outros.
Homem casado é carga pesada.
Não sou carreta para transporte. Tenho medo, creia.
Medo de não me conter e te evitar.
Ana (21.03.1992)

Caminho a esmo a te buscar. Não te encontro em nenhum lugar.
Entre nós um desfiladeiro impede a subida ou a descida, tão próxima.
Tão distantes.
Emito um grito e o eco se perde não me escutas. Meu lamento te cansa, te enfada.
Relutas. És mais forte e foges.
Quem sabe não esteja em mim encarnado o diabo para atentar tanto.
SOU MULHER. Entrei em tua vida sem medida, fui entrando desprevenida.
Não sabia que seria tão gostoso estar um dia em teus braços,
sentir teu corpo, ouvir tua voz. Amar-TE.
Gostaria de perguntar.
_O que sentes por mim?
AMOR? Tenho dúvidas.
Não podes me amar.
Paixão? Talvez esta, por ser mais forte que a razão.
Sou Mulher. Mulher é ser sem coração, vive, reflete, com a ilusão.
Ama no real ou platonicamente, o importante é que sua mente
esteja longe entregue aos cuidados de alguém. Escolhi você.
Como?
Não! Você me escolheu. Me desejou, me quis.
Fui tua, fostes meu.
Por que não continuas?
Não é homem pra cansaço, teu corpo e potência são de aço.
Não quero ser imagem de Satanás, mas a sombra de teu Anjo de Guarda.
Ele vela te guia os passos. Tenho muito amor em mim, disponível a ti.
Sei que muitas te amam, mesmo assim entro na disputa como se fosse troféu.
Às vezes o levanto, outras, fico sem nada.
É a vida. Amo-te. (Ana)_ 21.03.1992 (9.30h)

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Nota da autora- Desde criança escrevi meus problemas, minha vida em folhas de papel,

este faz parte de uma agenda. Prometi digitalizar e publicar.

Não sou anjo, nem santa, sou mulher.

Ana Zélia (05 de MARÇO DE 2013)