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cronicas-->A IMAGEM REFLETIDA NO ESPELHO. -- 10/12/2008 - 15:53 (Ana Zélia da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A IMAGEM REFLETIDA NO ESPELHO.
Ana Zélia

Olho o espelho te vejo ontem.
Linda. Olhos faiscantes.
Mulher, amante.
O amor foi tanto que fugiste tão cedo para o casamento, sete filhos.
Mulher pra toda obra, do corte de madeira que abastecia as caieiras
De onde saia o carvão consumido em abundància em décadas passadas.
Na canoa, teu balcão onde vendias o peixe, o carvão, o milho verde...
Na banca da esquina, o tacacá gostoso que só tu sabias fazer,
o mungunzá de milho branco, o filhós, bolo de macaxeira, guloseimas
que enchiam a boca de qualquer um.

Ah! E o açaí? Primavas na limpeza, nos panelões de alumínio tinhas que
ver teu rosto refletido como um espelho de cristal.
Era o teu nome mais forte que o vinho que fazias.
Cozinheira de mão-cheia preparava os pratos mais deliciosos, da tartaruga
ao tambaqui assado na brasa.
Que delícia!
A lavadeira de roupas alvas quaradas no capim verde do saudoso extinto Igarapé da Pancada.

Filha de nordestinos, retirantes da grande seca em busca do Eldorado perdido.
Épocas negras onde a mulher era impedida de aprender a ler e escrever.
Assim não poderia mandar bilhetinhos escritos às escondidas aos namorados afoitos.
Aos 60 (sessenta) anos no MOBRAL dera o primeiro passo, desvendando o segredo da escrita.
JUVENTUDE É PASSAGEM DE TEMPO.

Logo, logo sentiria na pele a ingratidão dos filhos, tinhas perdido o marido de
Forma cruel e imprevista, um louco no volante o matou quando completava a última etapa de sua vida, vendia peixe na feira.

Cansada, quase cega, te negaram tudo, até o único cantinho que tinhas.
Sem lar, leito, ninguém.
Pedias em preces a São Francisco, os três, das Chagas, de Canindé e de Assis; pedias a São José; ao sagrado Coração de Jesus e de Maria, irmandade a que pertencias.

Com os poderes dados por Deus curavas dor de cabeça, dor de garganta, cobreiro, quebranto, espinhela caída, bastava uma tosse comprida e entravas pedindo a São Brás, São Bento.
Chegaste aos noventa e dois, apesar de teu clamor constante. A morte só te levou quando já declinava a estação final da vida.
Num leito de UTI por quase trinta dias, saudosa de casa quis sair, não podia, foi definhando e numa madrugada fria, Deus a levou; morreu como um passarinho, sem teto, sem ninho...

Meu Deus! Uma imagem refletida no espelho toca minha alma, amanhã serei eu.
Quando a velhice chega, nos negam tudo: O lar que construímos com tanto esforço; atiram-nos nos asilos onde cada um conta seu drama à espera de um produtor; daria uma excelente novela das oito.
Tiram-lhes as jóias, as aposentadorias ou as míseras pensões; já houve governantes que os tachou de "vagabundos"; os servidores do estado tornam-se os vilões dos rombos da Previdência.
Todo dia uma história e com isto abreviam a vida dos corações cansados, sofridos, sem forças, abrigo...
As revoltas com tanta injustiça rasgam-se os títulos que já não servem pra nada, os políticos só pensam neles e a imagem de tantos idosos continuará refletida nos espelhos.
Até quando?
Até quando?
Até quando???
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
POEMA PUBLICADO NA REVISTA BRASILIA Número 96 (Fevereiro/Março de 2004)
Nota da redação Advogada e escritora Ana Zélia da Silva, exerce a literatura com marcante objetivo social.
Poema dedicado à minha mãe Raimunda Mesquita de Souza, falecida em 13/09/2002.
Poema concorrente no talento da Maturidade, Banco Real/2003.
Este é o retrato fiel do que vem acontecendo com tantos idosos, primeiro porque com o tempo se acostumarão em suas casas, leitos e de repente tudo muda, eles não querem ir pra casa de filhos. Morrem de saudades de tudo, de todos. Seremos os próximos se não educarmos nossos jovens desde cedo em como lidar os idosos. Tarefa difícil, perdemos as forças e aos outros é fácil bater, matar, passar adiante como mercadoria sem valor. Reflitamos. Ana Zélia
















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