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Cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (68) -- 08/03/2013 - 18:19 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (68)


É sobremodo improvável que o chavismo desapareça do cenário venezuelano num curto prazo. Há quase sempre no fundo do personalismo político, a emocionalidade para perpetuar seus representantes. Mormente quando se sabe que o povo, em geral, necessita cada vez mais de heróis. A marcha histórica está pontuada de casos que revelam essa afirmação. Raros são aqueles em que personagens emblemáticos não se tornam heróis mortos, mártires e "imortais". Isso sem mencionar o Egito antigo onde a praxe era mumificar seus dirigentes, reis supremos e quase deuses. Hugo Chávez, um revolucionário ao menos para si mesmo, tentara há quatorze anos, buscar o sabor agridoce do poder. E o fizera através dum golpe de Estado em 2002, quaisquer que tenham sido as razões subjacentes. Mas à história não compete ocultar fatos, ainda que seus protagonistas muitas vezes pretendam. Quase sempre imbuído do espírito bolivariano, pretendeu ser uma espécie de Simon Bolívar, o libertador. Ressalte-se que na hispano-américa, incluindo o Brasil, os libertadores são em número de 13. Mas não imagine o leitor que isso se trate de alguma espécie de kabalismo. Não. É apenas uma mera coincidência. Neste continente sul-americano, eles os libertários são tão dignos de nota, que existe uma homenagem anual no futebol, denominada Taça Libertadores da América, envolvendo clubes de expressão continental.
De fato, o libertário que encabeça a lista é o já citado soldado e estadista Bolívar (1783-1830), que morrera muito jovem já no início do século dezenove. A seu lado no panteão se encontra outro, San Martin (1778-1850), também reverenciado e idolatrado uma vez que delegou ao primeiro, a conquista de terras sul-americanas das mãos dos espanhóis. Nessa curta mas expressiva lista, estão dois brasileiros, se é que podemos denominar Pedro I um produto nacional. Sabe-se evidentemente que ele era português e também morrera moço demais num lugar muito aprazível em Portugal, chamado Queluz. O nativo propriamente dito é José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838) um importante intelectual e mentor junto a Dom Pedro I(1798-1835) da independência brasileira. Cada país tem a história republicana que constrói peculiarmente. No caso da Venezuela, um país tropical ao norte do continente sul-americano, à regra não foge. País que sobrevive essencialmente do petróleo, não houve por se edificar no setor industrial, ainda que tentasse. A única indústria, sofrível, de que se tem conta é a denominada indústria limpa, o turismo, que a trancos e barrancos tenta sobreviver sem grande influência no PIB nacional. Há que se mencionar, com efeito, que a principal fatia do setor secundário é o populismo político.
Ao longo dos séculos de estadismo e/ou de república, a indústria do populismo se reveste como uma suposta panaceia para a sustentabilidade de alguns países. Menor a estabilidade da cidadania, tanto maior será a enrolação demagógica, os programas assistencialistas e a política de pão e circo. Na Venezuela do mar das caraíbas, esse fenómeno é potencialmente utilizado de modo que possa embromar o povo como um todo. Pode-se também admitir que, numa paráfrase, embromação popular por algum tempo ou, radicalmente, por muito tempo afora. E é isso que foi e ainda está sendo efetivado nas políticas públicas da economia venezuelana. Um carisma pessoal de fato envolve as massas e a própria classe média esclarecida, para a qual o emprego e a renda se garantem com ou sem a "beatitude" do governante. Talvez algum leitor reflita que há um exagero nessa linha de argumentação, mas não acredito. Afinal, o custo direto da educação no ensinar a pescar seria bem menos elástico e a longo prazo, do que ofertar o peixe a curto prazo e na medida da inanição. Se alguém leu algum dia com rigor científico Celso Furtado, dar-se-á razão, embora para alguns o mestre paraibano esteja ultrapassado. O comandante Hugo Chávez, a pessoa urbana, o "libertador", o pai e o marido, não se há porque refutar ou exigir mais do que possam ter realizado. Não é esse o foco desta análise. Sua retórica meio extravagante, sem demonstrar uma diretriz racionalista, não o impediu de se tornar líder/governante/mártir. E a bancarrota institucional que legou aos pósteros talvez não seja o foco da questão nacional. Com a poeira alta, a própria estabilidade republicana se põe em jogo, fragmentada como está. A constituição foi levada na chacota, fruto dessa sanha carismática produzida ao longo desses onze anos de chavismo. Quem deveria assumir o poder com a morte do líder, não assume de fato ou de direito. Quem assume factualmente não tem sequer a mínima capacitação de dizer algo ao povo. E o chamam Maduro, quem sabe por ironia.
Resumindo, o que permanece como retrato de uma época, em toda essa barafunda republicano-democrática são as palavras do enjoado Rei Juan Carlos, da Espanha, com a famosa frase: "Por qué no te callas?". Ironicamente, alguns anos depois do incidente no Encontro ibero-americano, a indagação real faz algum sentido, pois se concretiza no silêncio eterno de um histriónico revolucionário latino-americano.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
08.03.2013


Em tempo: meu abraço de solidariedade às mulheres, em seu dia internacional.
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