UM PEDIDO A DEUS.
Ana Zélia
Senhor! Cansei de ser humana, cansei.
Como tua filha me permite Te pedir algo.
Transforma-me em VAGALUME que brilha na noite escura, clareando sem ter pilhas, usando uma energia que vem não sei de onde.
Ou me transforma em algo que tendo valor, só se usa uma vez. O FÓSFORO.
Um simples palito de fósforo. Esquenta a cabeça uma só vez e pronto.
Já quis ser ÁGUIA e voar nos céus da vida, atingir os píncaros da glória, ir até o infinito...
Transforme-me em um cavalo, poderia ser alado ou não. Sua maior glória é a Liberdade de ser, de ir, de correr nos campos livres, livres.
Ah! Senhor! Quem sabe uma COBRA. Uma Cascavel que vive escondida, mas sua picada é mortal.
Eu não quero ser RAPOSA. É um animal malicioso, isto os humanos possuem demais.
Não gosto de MACACOS, parece gente em tudo.
Posso ser uma CIGARRA, conheço quase todo o Brasil com minha voz. Parei. Morri como elas.
Uma GAIVOTA, a brancura se suas penas invejam o homem que a mata por maldade.
Oh! Senhor! Posso ser um PAVÃO que é belo por si. Só não misterioso. Não gosto de mistérios.
Ah! Um ESCORPIÃO. Vive entocado, bem escondidinho, não se arrisca a sair da toca. Mas pobre de quem se atreva a enfiar suas mãos no seu cantinho. A picada dá trabalho. É tão audaz que ao pressentir a morte, prefere inocular em seu próprio corpo, o veneno mortal. É a grandeza da morte, diante da vida. É a grandeza de ser livre. O veneno do ESCORPIÃO NÃO É NA CABEÇA, MAS NA CAUDA.
Não me transforme em RATO. Eles só dançam quando os gatos estão ausentes. São falsos e medrosos.
Nem em GATO. São manhosos, preguiçosos, bobos.
Nem em CACHORRO, uns são violentos demais, outros babacas demais. Só ladram.
Não queria ser um PÁSSARO. São presas fáceis aos homens que por sua beleza, canto, os prendem em gaiolas. Eu morreria. Adoro a liberdade.
Cansei Senhor! Cansei!
Perdoa! Hoje eu me sinto um nada.
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Manaus, 19.10.1989 (Ana Zélia)
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