Mulher da vida! Mulher sem vida no palco da vida.
Vestida com roupas extravagantes.
Roupa de prostituta, pele de bandida. Mulher da vida!
Mulher sem vida! Ansiosa por carinho, amor, vida...
Ah! Mulher! A vida é um poço, nove meses mergulhada no líquido amniótico
e o resto da existência na luta para sair do lodo...
Mulher da vida! Prostituida! Excluída!...
Com máscara de palhaço, eles usam pomada minancora, usa colorau,
carvão para mudar a cor da pele e enfrentar o público.
Igualdade de papéis.
Fazer rir uma humanidade fria, calculista, sedenta de alegria,
como os circos da velha Roma.
As lágrimas se confundem com o riso pálido que não podes demonstrar.
O público te paga para que possam sorrir. Sorrir sempre.
Enganada, humilhada, pensativa, buscando a felicidade nas mesas de bar,
no rosto faminto dos excluídos iguais a ti.
Num álbum de família vê a foto colorida e pergunta.
Família? Será que a tive? Pobre mulher sem vida! Prostituida! Falida!
A foto te faz lembrar o riso daquelas pessoas num pedaço de papel
que um dia se uniram para a foto de família.
Não existem, são ninguém, folhas mortas, caídas no temporal da vida...
Hoje é teu dia. No palco é a maior, a melhor atriz.
Aplausos! Pergunta a ti mesma como fez Dina Sfat a grande atriz
que se foi para o lado dos mistérios: "PALMAS PRA QUE TE QUERO".
Se o hoje é triste e o amanhã não existe.
Mas hoje é o dia do artista. Pelo menos neste dia és feliz.
Palmas a todas as mulheres que representam seus papéis
no palco iluminado da vida.
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Manaus, 24.04.1995
Nota da autora- Como mulher, atriz, senti e sinto o drama de tantas mulheres
que enfrentam os cassinos, cabarés e ainda dizem que são "mulheres de vida fácil",
por muitos anos atravessei em Manaus a Itamaracá, antiga rua do meretrício,
como advogada fui chamada à s duas da manhã para atender uma pobre mulher que
depois de apanhar muito, tomou a faca do agressor e o feriu.
Alguém tinha meu cartão de visita, fui ao Distrito policial
e consegui que o delegado a liberasse.
Acompanhei-a até o prostíbulo e lá aguardei receber
Meus honorários.
Uma senhora de idade, pediu aos frequentadores
que tivessem respeito porque ali se encontrava a Dra. Ana Zélia
enquanto ela ia buscar o dinheiro.
Silêncio total naquelas pessoas que parecia obedecer
a um comando de mulher.
Fui paga corretamente e o motorista levou-me pra casa
sob os cuidados da mesma senhora.
Coisas da vida que a mente não apaga. Somos iguais. Ana Zélia
