CHORA AMAZONAS! CHORA MANAUS!
Ana Zélia
Fazer o quê?
Ainda temos o maior rio do mundo em volume de água.
Estamos quase na metade de maio e ameaças a enfrentar o Rio Negro e adentrar na cidade de Manaus.
Acredito em milagres, creio em Deus, vi aos dez anos de idade a grande enchente de 1953, quando toda a orla de Manaus foi invadida pelas águas.
Pontes intermináveis de madeiras davam passagem à população para chegar ao mercado, passando pela Drogaria Fink, Capitania dos portos, Alfàndega, "Café do Pina", tudo coberto pelas águas.
Era o Negro que empurrado pelo grande Solimões, beijava os pés da Virgem da Conceição, da Igreja Matriz que fica na entrada do porto de Manaus.
O que fizemos com nossos rios?
A saudosa Manaus de tantos igarapés foi sufocada pelo lixo, aterrada para a construção de moradias populares, apodrecida pelas águas estagnadas sem saídas para desaguarem no Negro.
Hoje, barrancos estão caindo e matando pessoas, esperar o quê?
A natureza é sábia e Deus cobra nossos erros sem pena. A punição é severa e merecemos isto.
Governantes que foram adotados por esta terra que tem como padroeira a Virgem da Conceição, Mamãe Oxum, Senhora das Águas Doces, Mãe dos Deuses, não escolhe nem rejeita quem se decide vir morar ou sonhando com a falida Zona Franca de Manaus que inchou este pedaço do Brasil, viramos a "torre de babel" onde ninguém se entende.
Há pessoas que foram agregadas e que se intitulam amazonenses, que gritam e se acham com o direito de nos defender.
CHORA AMAZONAS, CHORA MANAUS! Eu choro por vocês todos, por nós amazonenses, por nossos filhos, netos. Choro por ver que fomos novamente subjugados, que viramos prisioneiros em nossos lares, a maioria dos bandidos são oriundos de outras plagas e matam, roubam e nós pobres coitados clamamos a Deus por segurança.
Chora Amazonas, Chora Manaus, unidos podemos clamar por AJURICABA, o CAUDILHO DA SELVA, o nosso herói, chefe dos "Manaos".
O índio que nos defendeu até a morte, preso e algemado preferiu atirar-se ao negro que ele tanto amara a ser escravo dos invasores. Não temos mais heróis, nem guerreiros.
Chora Amazonas, Chora Manaus, todas as cidades estão alagadas, não tem um município que tenha escapado do castigo de Deus.
Desmatam nossas florestas para em nome da ganància ou do "progresso" vendem nossas madeiras para outros Estados ou países. O extrativismo que nenhum mal causava perdeu-se quando a semente da seringueira foi levada para a Ásia e lá plantada nos tirou o látex, nossa castanha que nasce em qualquer lugar, nosso açaí, cupuaçu, nossas plantas nativas, nossos pássaros, nossos peixes, todos levados e nós aqui chupando o dedo.
Choremos agora, é hora. É hora de reagirmos e defendermos nossa região basta de catástrofes por culpa de terceiros. Do jeito que vai choraremos muito ainda, porque até hoje o Solimões não conseguiu adentrar à margem esquerda e vim beijar os pés da Santa, porque o nosso Guardião, o Rio Negro o enfrenta, são dois Titãs de fibra e que sem amparo, nem defesa, estão sendo destruídos pelas águas.
É o dilúvio anunciado, pergunto: Onde encontraremos o Monte para ancorarmos nossa arca de Noé? Não temos mais montes, montanhas, ponto alto, as águas estão chegando lá.
Deus não é cego, nem surdo, nem mudo. Seus clamores não foram ouvidos, nós todos seremos castigados.
CHORA AMAZONAS, CHORA MANAUS! Os poetas também choram, porque fazemos parte deste painel chamado mundo. Reflitamos.
Manaus, 09 de maio de 2009.(15h)
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