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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (71) -- 17/03/2013 - 14:48 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (71)


Nestes tempos de imediatismo e descartabilidade, prevalece o mau-gosto, resultante justamente dessa pressa e despreocupação com um mínimo de qualidade. O cenário dos anos setenta e oitenta se inverte atualmente: o que era regra, hoje é exceção. Considerando a música, o único ramo para onde aponto meu criticómetro, ouso denominar de MPV*, a sigla que escolhi para me referir à exceção que virou regra. Se você ouvir ao redor, sem quase nenhuma diferença, coexiste o ponto aonde quero chegar. Nas rádios, no som dos automóveis e lá naquele terraço de algum vizinho com quem você não se dá bem, aí também explode no último volume, nossa predominante e insuportável MPV. E não há mais como estar livre dela. Nos ónibus, no metró, no táxi, no último botequim que alguém frequentou... Todos os sítios foram deliberadamente invadidos pela MPV, tal uma epidemia de um vírus quase letal. E apesar do meteorismo de sua passagem, o que muda são os nomes dos autores, cantores, cantoras e demais membros da seita. A MPV, produto de uma época que se repete como farsa, não arredará tão cedo o pé do ápice onde se encontra. Por quê? Fácil de explicar: não há mais na mídia existente nenhum vestígio de escrúpulo, de meticulosidade, de cuidados gerais. O que importa mesmo é a resultante disso tudo: o vil metal. Lá em algum momento desses textos, defendi a tese de que o dinheiro passou a ser usado como fim e não mais como meio.
Se o produto atinge a maioria, seja qual for seu regulamento ou seu objetivo precípuo, o que vale é que dê lucro, sob quaisquer circunstàncias. Ademais, o público-alvo da MPV é exatamente a camada menos privilegiada no que concerne à educação básica. Infelizmente, a periferia não tendo acesso a certos princípios básicos educacionais, por várias razões, ela também não pode erigir seu senso crítico. E este só poderá ser melhorado se lhe puder oferecer um eclético leque de opções. Ora, se por razões peculiares, alguém for obrigado a conviver com os mesmos hábitos que compõem certa cultura, sua capacidade de escolha será tolhida. E é no público menos letrado onde reside o potencial vazio a ser preenchido pelos produtos da MPV. Ela a MPV, se adequa perfeitamente, pois percebe que ali não existe a menor exigência de conceito, senão uma demanda meramente sensorial. Trocando em miúdos, a MPV atinge principalmente o segmento onde todos, sem exceção, querem curtir uma resposta corporal e não uma provocação mental. Até aí, tudo bem. Minha crítica não poderá ser tão parcial assim, pois eu mesmo fui adepto durante muito tempo, de um bolero em compasso dois por quatro, sob a voz irritante mas afinada de Bienvenido Granda. Evidente que durante a dança, eu jamais deveria me preocupar com aquele tipo de castellano, pobre e fajuto o bastante para que eu não desse a mínima. Salientando o fato de que eu ainda não dominava bem o idioma de Cervantes. Nesses arrastares de pé havia também espaço para um Lucho Gatica, de voz mais dramática do que lírica ou, mais recentemente, certo e meio brega Luís Miguel com seu potente drama vocal. Não se trata aqui de preconceito de minha parte, mas de conceito, por oportuno. Tanto que por diversas vezes pude ouvir sem nenhuma náusea, o rei RC cantando "La barca", esse belo clássico, em língua nativa.
A MPV é poderosíssima pois que se vale da semi- ignorància alheia para esticar seus tentáculos. O mais trivial exemplo é o ataque que perpetrou ao protestantismo, à música que eles teimam em denominar gospel. Afinal, é um direito deles. O gospel, de origem afro-americana, é um gênero que se reserva o direito de manter seu atavismo e o extremo respeito ao berço onde surgiu. De origem batista, portanto protestante, ele é cantado nos templos e nos funerais especialmente do povo negro. Tive uma amiga negra, musicista, quando morei na costa leste norte-americana. Ela tocava flauta e era também exímia cantora gospel. Uma maravilha. Mas o que assistimos hoje em qualquer mídia, é um bando de rapazes/moças relativamente verdes, cantando na maior "seriedade", a MPV em forma de gospel. Argh! Claro que me dá náusea. Sem absoluta nenhuma falsa modéstia, tenho um ouvido (aliás, dois), muito exigente. Aí também há de se manter certas exceções. Já ouvi num templo presbiteriano, uma banda tocando música de qualidade, de caráter cristão. Mas isso foi umazinha apenas. No geral, pelas razões expostas no início dessa homilia escrita, a música protestante-gospel está aí também para, no popular, faturar uma boa grana. Eles, os donatários atuais e monopolistas da música contemporànea, vão demorar muito a se darem conta de um fato simples: poderiam, se quisessem, aperfeiçoar o imperfeito. E nisso não precisamos ir tão longe não. Durante um bom tempo, na praça da Jaqueira, em Recife, a orquestra sinfónica do Recife, fez boas e úteis audições para o grande público. Talvez por falta de patrocinadores, essas tardes dominicais se acabaram. E não se sabe quando retornarão. No mais, sem querer ensinar reza a padre, quando o programa da tevê é ruim, salve-nos o remoto que está à mão. Ainda bem que nos socorre a tecnologia. E quanto à MPV como um todo, resta-nos proceder como o maestro Villalobos: ele escrevia seus arranjos no maior barulho existente na sala. Por quê? Respondia ele simplesmente: "eu escrevo e ouço com o ouvido de dentro". Procedamos nós ouvintes, da mesma forma, pois.
______________________________________________________________________
*MPV: música para vomitar.

WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
17.03.2013
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