- Otorrinolaringologista!
- O quê?
- A palavra mais esquisita que existe. Otorrinolaringologista. Vocês não estavam discutindo sobre qual é a palavra mais estranha? Otorrinolaringologista.
- Mas isso foi há 15 minutos. Agora estamos indecisos sobre quem vai fazer a dobradinha com o Romário na seleção.
- hmmm... - e voltou à s suas confabulações e ao uísque.
A mesa de bar é um local mágico. Alguns até se ajoelham sob ela para orar, muitas vezes sendo confundidos com bêbados que não se aguentam mais em pé, é bem verdade.
Sentar em frente a uma mesa bebendo cerveja provavelmente começou com os alemães, nós apenas trocamos o chucrute por um prato de azeitonas e continuamos o sagrado ritual.
Figuras atualmente mais sofisticadas trocaram o "papo de boteco" pelo "happy hour", o "copo sujo" pelo "pub" e a cachaça pelo uísque. Mas a essência continua a mesma. Sentar, beber, discutir religião, beber, discutir futebol, beber, conversar com aquele elefante rosa-choque que sempre aparece depois da sétima rodada... E assim vai, até a hora em que você, sem saber como ou porquê, aparece em casa, na sua cama, sem os sapatos e com uma sede proporcional à dor de cabeça. São os mistérios da mesa de bar, só comparados ao grande e indecifrável enigma: o que o sorriso daquela loira ali quer dizer?
- O Ronaldinho Gaúcho!
- Fernando, agora estamos especulando sobre o futuro presidente...
- Difícil, heim?
Uma facção dos adeptos à mesa de bar são os "solitários de balcão". São aqueles povos bárbaros que nunca andam em bando. Chegam de mansinho, olham para todos, especialmente para o decote da garçonete e - com vergonha de serem os únicos numa mesa para quatro - encostam-se no balcão e pedem umazinha.
Um amigo me disse, certa vez, que se sentar sozinho em mesa de bar é o primeiro passo para ser um pária da sociedade. As garotas só chegam até você para pegar uma cadeira emprestada. "Me sinto como um latifundiário. Chega aquela gata de vermelho como que gritando: `cadeira improdutiva!´. É o movimento dos sem cadeira. Mas, no lugar da invasão - que seria bem agradável - o que ocorre é a tomada da `terra´ e sua alocação para a próxima mesa cheia de alegres jovens. Afinal, por quê eles são sempre tão alegres? Será que não assistem à TV senado?"
Cada mesa de bar é um Estado. Tem suas próprias leis - como rachar a conta ou o Almeidinha pagar tudo - seus assuntos de Estado - que aborda todos os temas que realmente interessam, ou seja, política, futebol, religião e mulher - e, é claro, seus heróis preparando a invasão para a próxima mesa.
- Aquela garota loirinha ali - e aponta a outra mesa, sempre apontamos - não tira os olhos de cima de mim. Acho que vou mandar um bilhete - esses são os diplomatas.
- Tá vendo aquela gatinha de olhos azuis na outra mesa? - e aponta - já vou chegar beijando - são os coronéis militares, muito pouco sutis.
- Eduardo Suplicy! E´ esse o homem!
- Eu prefiro o Reinaldo Gianechini, é o mais simpático.
- O quê? A Marília Gabriela como primeira-dama? Interessante a inversão de papéis.
- Acorda, Fernando! Estamos elegendo o mais simpático do Brasil.
- O que é isso, Geraldão? Isso é coisa de veado! - e, virando-se para o garçom - Guigui, a saideira!
