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Cronicas-->O Assalto -- 09/05/2001 - 14:45 (Tarciso José de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Estava absorto, ali no ónibus, indo para minha casa quando fui desperto por um estrondo semelhante ao de bombas de São João. Estava exausto. Havia ficado na firma, em hora extra, visando finalizar uns programas para o Departamento de Engenharia. Como a firma tem condução própria, eu nunca vou de carro, deixo-o sempre com a minha esposa. Displicentemente, imaginei que algum moleque daquela localidade teria feito uma travessura jogando a tal bomba dentro do ónibus.

Essa rua, por onde ora passávamos, fica no Amparo, bairro tradicional de Olinda, cujas ruas dão passagem aos tradicionais bonecos gigantes nos dias de carnaval. É lá nesse bairro, inclusive, que localiza-se a sede da Associação dos Boneco Gigantes de Olinda. Bom, o fato é que, em seguida àquele estampido, seguiu-se a gritaria de algumas mulheres. Eu, ainda pensativo, olhei para trás e me deparei com um sujeito, arma em punho e extremamente nervoso. Fiquei muito surpreso, se é que é esta a sensação que senti. Em meus trinta e sete anos de vida, era a primeira vez que presenciava um assalto ao vivo e em cores. O cara esbravejava:
- Todos pra fora! Pra fora! Eu vou atirar! Pra fora!
Eu não sabia o que fazer, me virei e olhei novamente para o facínora. Nessa hora ele me fitou e apontando para a porta com a arma, que segurava com as duas mãos, gritou:
- Você aí, desça! Todos pra fora! Eu vou atirar!
Repetiu a mesma frase para o pobre cobrador que se encontrava a meio metro de sua visão. O ónibus já estava parado. Uma passageira chorava compulsivamente, e não descia do ónibus. O bandido ficava mais furioso. O cobrador sumiu lateralmente por um terreno baldio. Eu, não deixei o bandido repetir a ordem, me infiltrei por entre as pessoas que aglomeravam-se na porta do ónibus e, forçando a barra, consegui sair do veículo. O pessoal empurrou a passageira chorona para fora. Ela preferia chorar a correr.

Eram apenas 22:40h do dia 08/05/2001, sei disso porque dei uma espiada no relógio enquanto, rapidamente, me distanciava do ónibus. Amaldiçoei cada minuto daquelas horas extras que me fizeram retornar mais tarde para casa. As pessoas corriam desordenadamente, eu, racionalmente, seguia o percurso original do ónibus. Tinha em mente a esperança de apanhar um outro ónibus, um táxi, uma carona. Após o fim de alguns minutos, percebi que o ónibus se aproximara e alguns passageiros, mais próximos, voltavam ao seu interior. Retornava correndo ao ónibus, o celular toca, eu atendo. Era minha esposa:
- Falta muito pra você chegar?
- Já estou próximo - respondi - É que estou correndo pra pegar o ónibus. Fomos assaltados!
- Tá bom, um beijo... - respondeu ela.
Subo no ónibus esbaforido, sento na primeira cadeira que encontro livre, o celular toca novamente, eu atendo. Novamente era minha esposa:
- O que foi mesmo que você disse?
- Sofremos um assalto. Mas, já está tudo bem. Só levaram a grana do cobrador.
- Tá bom, um beijo... - respondeu ela, novamente.
Eu estava realmente cansado. Há muito tempo que não pratico nenhum tipo de atividade física, esse cooper inevitável deixou-me com as pernas bambas. O cobrador não dava as caras, a essa altura já deveria estar na sua casa. A passageira, que não parava de chorar, subiu. Pressionaram o motorista e este, não teve escolha, deu a partida.

Todos estávamos abalados pelo acontecido. Não se tem mais segurança em lugar algum! Cheguei em casa com a camisa ainda ensopada de suor. Minha esposa me recebeu sorrindo. Suspirei:
- Como está perigoso fazer horas extras hoje em dia!
Ela sorriu. Tomei banho, jantei e fui dormir. Que dia!

A história é engraçada porque tudo acabou bem, e ninguém se feriu. Mas, dá para pensarmos um pouco no quanto estamos inseguros no nosso dia-a-dia. O que nos aguarda no futuro? Lembram-se do caso da Geisa, no Rio? Já estamos presos em nossos lares, rodeados de grades. E já não podemos mais andar nas ruas. Como observou bem o Renato Russo em Teatro dos Vampiros: "... os assassinos estão livres, nós não estamos...".

Tarciso Oliveira
09/05/2001
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