Se eu disser que te amo, dirás que minto.
Palavras. Palavras. Palavras.
Nada mais.
Buscas nas entrelinhas dos meus versos o nome obscurodo homem amado.
Escusa-me. Não tenho este direito.
Sou mulher só. A sós.
O mundo desabaria em minha cabeça.
Os meus censores não perdoariam.
Os Tribunais de Inquisição, ainda se fazem presentes no final do século.
Por força de contrato os casais se tornam
proprietários de direitos personalíssimos.
__ Meu marido! __ Minha mulher!...
Meras palavras de posse.
Ter um companheiro é amá-lo com confiança,
na forma adversa do que acontece.
Amor é renúncia, abnegação, paciência: compreensão, perdão!...
Amar é se ter um sorriso nos lábios, é partilhar alegrias, tristezas.
É entendimento mútuo.
É não exigir para não sufocar. É renunciar para não perder.
Posse é provocação do ódio, é o desamor.
Ninguém é dona de ninguém, de nada. Nem da própria vida.
Palavras. Meras conotações ortográficas.
Se eu pudesse gritar seu nome. Iriam escarafunchar minha vida.
Provocar o escarmento desta Sociedade exigente. Repreensora.
Tens um compromisso com ela.
Não me exija isto. Me deixe continuar amando platonicamente, com a válvula de escape ligada. Os versos.
Meu peito tornou-se senzala.
Se eu gritar seu nome, o açoite me cairá na pele tão sensível, mal cuidada.
Vivo uma ilusão. Fantasia que alimenta a alma, que faz viver.
Preciso continuar amando, se deixar de fazê-lo morrerei.
Meu amado pode se chamar João, Ambrósio, Petrónio.
Pode ser Joaquim, Pedro, Sebastião.
São nomes de homens brasileiros.
Por certo nenhum deles seria o seu.
No meu direito platónico. Você é meu. Só meu.
É o meu direito de posse, como todo mortal.
Sou dona dos meus sonhos, desejos.
Não sou dona de nada...
Um dia quem sabe. Possa gritar seu nome bem alto e sem censuras.
Ou dizer-lhe:
__ Amo você! Amo você!...
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Publicado em "A Crítica", Manaus- 11/12/1989
Parte integrante do livro Mulher! Conquista Fácil!... (Poesias e cronicas) Ed. Pela UFAM/1996.
Poema dedicado a uns "AAA" que se cruzam ou cruzaram meu caminho. São tantos A´s em minha vida.
Ana Zélia
