TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (73)
"O Vaticano tornou-se um ninho de serpentes".
Teólogo MATHEW FOX
A frase lida acima foi proferida por um ex-frade dominicano estabelecido em São Francisco-Califórnia. Na entrevista concedida ao "Democracy now", os entrevistadores Amy Goodman e Juan González, colheram essa pérola do autor de mais de 145 livros. Ela é parte de uma longa entrevista e esta me foi enviada pelo amigo AC, um dos meus contatos em Olinda. Tentarei resumí-la, levando-a aos leitores, muitos deles católicos e gente de bem. E se o faço não é para ferir suscetibilidades de quem quer que seja; faço-o em nome da necessidade de informar e coparticipar aos meus contemporàneos do tremendo imbróglio em que está mergulhada a Cúria romana e a própria instituição de 1800 anos. Outro motivo que me incita a dar conhecimento dessa entrevista é que nem de leve o teólogo Mathew Fox previu que o papa a ser eleito seria um latino-americano. E note-se que a entrevista foi efetuada bem antes da eleição, a 03.03.2013. Todavia, ele não poupou em nenhum momento a figura de Ratzinger, a quem só não chamou de fascista por mera gentileza. A mim pessoalmente não me tocou alguns dos comentários. Sei de muita gente que abandonou as hostes católicas com muito menos do que toda essa ingresia. E mais, de pessoas letradas que foram afetadas terrivelmente pelos acontecimentos envolvendo padres pedófilos, por terem parentes prestes a se ordenarem padres. Mathew Fox foi dispensado uma vez por Ratzinger e em seguida definitivamente excomungado por defender a teologia da libertação. E sobre ela o entrevistado tece muitos comentários, trazendo à baila o envolvimento da CIA na América do Sul, para que, não podendo destruir a Igreja Católica, eles levassem ao ostracismo as figuras centrais do movimento. Toda essa articulação foi engendrada no governo Reagan, isso faz um tempinho. O que não passa sem deixar certo ar de surpresa e decepção para os católicos é o fato de que Fox chama ambos os últimos papas, Woitjla e Ratzinger de neo-inquisidores. Afora o acobertamento dos casos de abuso sexual incriminando diversos padres.
Tal cenário injeta do mesmo modo em todos os cardeais e na gente da Cúria, uma espécie de antídoto "não vi, não sei e não é comigo". Há componentes desse mesmo tipo já devidamente injetado em alguns estadistas latino-americanos. Acusa o entrevistado, o próprio papa Bento XVI, de ter tomado conhecimento do catatau de documentos sobre corrupção e desmandos e, inadvertidamente seis horas depois, renunciar à egrégia gerência eclesiástica. Nesse momento, Fox diz um tanto irónico que até ele estaria cansado, conforme declaração papal. A gravidade da situação assemelha-se, segundo a percepção de Mathew Fox, ao tempo dos Bórgias. "Eu seria um teólogo feminista. Não imaginava que este fato pudesse constituir uma heresia", diz o entrevistado quando foi definitivamente expulso da igreja por Ratzinger. Ele defendia um pequeno grupo de freiras o "Nuns of the bus", por não acatarem a perseguição a eclesiastas e não defenderem a terrível cruzada papal. Por isso o teólogo denominou esta era de "Os 42 anos mais sórdidos do catolicismo". Seria esse período também um marco histórico eclesial levando a crer ser o principal motivo a grande debandada do rebanho? E por que toda a igreja no mundo vem se indagando perplexa da perda de vocações? Há padres (sic) que depois de afastados por pensarem diferentemente, não conseguem emprego em nenhum lugar. "Como você pode construir uma igreja em nome de Jesus, a partir de um conceito que é do século quarto d.C?", indaga Fox, assinalando os motivos que levaram Ratzinger a expulsá-lo. A grande maioria das pessoas, em qualquer nível hierárquico que se instale ou em qualquer tipo de organização, tem a prudência de não questionar seus princípios básicos. E tal atitude decorre do instinto de sobrevivência. As instituições religiosas não fogem à regra. Eu próprio, por não concordar com a metodologia usada em certa empresa estatal, me vi obrigado a dizer ao diretor-geral: os incomodados se mudam, por isso estou me mudando. Considerando-se o atenuante de ter trabalhado colado ao distinto chairman. Se se levar em conta que na instituição religiosa, a grande maioria de padres e freiras está (pre)ocupada com as determinações do espírito santo, logo, é melhor não mexer no vespeiro. Pouca gente situada no lado oposto ao poder pontifício toma conhecimento do que se passa em seus subterràneos. Como já foi dito mais atrás, o governo Reagan através do Conselho de Segurança, derramou muitos milhões de dólares para tentar dividir as forças existentes no Vaticano, temendo a ascendência da Teologia da libertação. Diga-se por oportuno que a grande maioria dos católicos não está de acordo com as comunidades de base, porque veem nela uma mistificação do sagrado cànone. Como não se paga nada pra se dar pitaco, o meu é que, apesar dessa inquietação e esse ainda que sério comprometimento de mudança, duvido que ocorra algo impactante. O Concílio Vaticano II foi esquecido no armário empoeirado do pensamento reacionário da igreja. As reformas, as mesmas que esperamos do Estado brasileiro, apontam infelizmente para um ponto: é preciso mudar mesmo que seja para permanecer tudo da forma e do jeitinho que se encontra. Não nos parece diferente do status quo na instituição mais antiga do ocidente, a Igreja Católica Apostólica Romana.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
23.03.2013
