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Cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (75) -- 29/03/2013 - 07:47 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (75)
"Daqui não saio, daqui ninguém me tira"
velho sucesso de carnaval

O caso do parlamentar (pra lamentar?) que teima em não deixar o efêmero cargo de presidente de uma comissão, tornou-se motivo de chacota. Com muito boa vontade e dadas as circunstàncias ele é apenas mais um. E mais boa vontade ainda se lhe atribuiria toda gente de bom senso, o fato de ele ter tido uma infància sui generis. Numa foto que avistei alhures, ele me parecia apenas um cantor de música sertaneja, daquele tipo MPV. Seu partido político, ao menos do pouco que sei, se apresenta tão ou mais preconceituoso do que ele próprio. Claro que só lá permanece porque eleito pelos pares, aqueles cujo principal objetivo é obter visibilidade para o partido que se diz, vejam só, cristão. Novamente busco amparo em Bertrand Russell: "...É ela (a palavra)usada hoje em dia, por um grande número de pessoas, de modo muito impreciso"; essa frase foi dita num dia de março de 1927, numa conferência que proferiu em Londres. Qualquer pessoa de lídimo caráter e alto grau de imparcialidade lhe daria razão. Sobretudo porque, independentemente de credo, cor, raça, time de futebol ou orientação sexual, um indivíduo não sobrevive em sociedade se não praticar uma mínima tolerància. A comissão para a qual o indigitado religioso foi indicado é justa ou injustamente a de direitos humanos e minorias. Num rápido piscar d´olhos, alguém por mais que leigo fosse, não teria indicado o bisonho cidadão para uma missão desse porte. Fica óbvio também tratar-se de troca de favores, depois que ouvi na CBN um membro da famigerada agremiação dizendo: "votamos em Dilma mesmo ouvindo dela que ela não sabe se crê em Deus". Pobre e lerdo argumento. Fosse assim o mundo teria apreciado Adolf Hitler por ser teísta? De igual forma, Stálin teria feito diferente por ser ateu?
Já dá para perceber que o principal, o mais elevado espírito cívico de um político partidário em sua tarefa cotidiana, não está sendo levado em conta. A isenção é algo tão ou mais difícil de praticar do que a gratuita parcialidade. Uma Casa dessas, um parlamento, foi erigida e será mantida pela sua legítima pluralidade, sua singela radicalidade democrática. Ali não deve prevalecer a fúria pessoal, mas o inexaurível poder de argumentação. E quem argumentar e persuadir melhor, levará para o todo o que uma pequena parcela de um ideário significar. A isso chamamos sinergia. O posicionamento da bancada evangélica, com raríssimas exceções, faz a vez de um grupo de meninos num grêmio, numa boba partida de cabo-de-guerra. De longe se vê melhor que a grande maioria do Congresso nacional leva mais jeito para a arenga provinciana do que para o debate civilizado, autêntico e respeitoso. Todos sabem que, como numa família, seus membros pensam e/ou agem diferentemente do chefe maior. As exceções, quando as há, coexistem por conta de uma coisa chamada adesismo barato ou medo solitário. O parlamento não foge à regra, mesmo porque é constituído de todos os segmentos sociais, desde as mais simples camadas até as bancas reluzentes das universidades. Noutro texto eu elogiava o trabalho de Romário e Tiririca. E continuo elogiando. Sabem por quê? Porque eles cumprem com o dever para o qual prestaram juramento. São assíduos e participantes. Mas isso também ocorre com figuras mais emblemáticas e veteranas do Congresso: Pedro Simon, por exemplo. Voltando ao Feliciano, aliás, pastor Feliciano, ele tem demonstrado no pouco que vejo no noticiário, que não está de maneira alguma preparado para a grande contenda. E considere-se que ali, naquele posto avançado da legislatura nacional, ele é principalmente um político, um homem que defende a coisa pública, a república, o cidadão contribuinte. Não se sabe, todavia, se ele sabe mesmo o que não sabe. Desconfio que, despreparado, nosso homem no PSC foi indicado para o cargo apenas para angariar mais poder de barganha, bem como, repito, maior visibilidade ao partido. E não me venham afirmar que o Estado é laico na prática. Não é. Pois se o fora, qualquer que fosse a função para a qual se lhe indicasse, ele, ciente e conscientemente saberia deixar em casa sua "toga" de homem de Deus, posto que ali não se discutem sexo de anjos, transubstanciação, poder de milagres ou cura pela água do rio Jordão. Não é bem assim que a banda toca. Essa balela de afirmar que o Estado é laico é apenas uma metáfora, tanto quanto as mesmas que estão descritas na bíblia do pastor Feliciano. Fosse realmente laico, o próprio STF não manteria o grande crucifixo pendurado nas paredes surdas da lei, mas uma réplica gigante da Constituição Federal.
Quase encerrando, vale a pena mencionar que no Congresso também existem não fiéis, agnósticos e ateístas. E é assim que o mundo roda. Acredito pia e racionalmente, que sempre será assim; enquanto houver ser humano e enquanto houver um mínimo de esforço para tornar a democracia, muito mais do que um mero regime onde se tenta montar uma pequena e barulhenta ditadura de consenso. Já que não se exigiu do pastor Feliciano um teste de tolerància em pequeno e grande comitê, faça-se agora nesse PSC, no uso gratuito do nome da cristandade, um outro tipo de teste: um exame de consciência. Que seja mais sereno e mais sábio do que o barulho que está produzindo por nada.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
27.03.2013

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