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Cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (80) -- 07/04/2013 - 12:48 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (80)

Se você não sabe o medicamento adequado para o fim de um dia estressante, segue aí a receita. O único probleminha consiste em dois itens: primeiro, não gostar do produto e segundo, não o ter em casa.
Haveria contraindicações, mas juro que as desconheço. Existe também a inconveniência de a empresa de energia elétrica calhar de lhe farrapar justo na hora da administração do remédio. O que não é muito raro por aqui onde moro nessa verdejante mata atlàntica.
E este incidente é péssimo em todos os sentidos. Paremos de tergiversar e vamos ao interessante: depois de você pendurar as chaves do carro e da casa no claviculário*, tome aquele banho refrescante, de preferência frio. Por quê? Pelas razões que você está cansada(o) de saber. Depois, ainda enxugando a cabeça, ponha sua bebida predileta e coloque-a na mesinha da sala. Não. Não faço a mínima idéia se você não bebe nada.
O ideal é que você proceda a essas preliminares, num confortável home-theater. Bem, se você não se dá a esses luxos, faz mal não, use o que dispuser em casa. Agora vem o ponto que constitui cinquenta por cento do problema: o livro que acompanha a medicação. O autor, se já não leu - o que duvido - adquira-o no próximo dia útil, para que tudo alcance a devida eficácia. Muito bem. Já possui o livro? Ótimo. "Assim falava Zaratustra". O autor todo mundo conhece: Frederich Nietzsche.
O título em alemão é mais bonito e bem mais sonoro, mas não compliquemos. A essa altura é de se esperar que você já esteja com o CD em mãos. Porque DVD ou similar não surtirão o mesmo efeito. O fundamental é que você possua em sua vasta coleção musical, a Nona.
Não, não é a Nonna, a vovó. Trata-se aqui de um compositor nascido em BONN na Alemanha. E ele ficou muito conhecido pelo seu ar casmurro. Um gênio. Dele você conhece em geral alguma peça, inclusive a mais exaustivamente tocada e que começa com quatro notas musicais. Mas não é a quinta sinfonia, não. É a última que ele escreveu, a única sinfonia escrita com coral. Um adendo: outro compositor tentou fazer a mesma coisa, mas parece que o tiro saiu-lhe pela culatra. Em suma, já na sala, copo à mão e o primeiro gole dado.
A sincronia entre controle remoto e o próximo passo é o assaz importante. Se preferir você pode ler a abertura do livro sentado confortavelmente. Eu, pessoalmente, leio em pé para melhorar a saída do ar do aparelho fonador e relaxar o diafragma. Ligue seu maravilhoso som surround e mande brasa, isto é, música. Como você já deve saber, os primeiros acordes da "Ode à alegria" começa pianíssimo, bem baixinho, no popular. Calcule uns 20 segundos e comece a ler com voz firme e compassada, naturalmente audível. Caso o vizinho passe pela sua porta de entrada aberta e o flagre tentando declamar um livro, dê de ombros. Seu vizinho é alguém sem a minimíssima sensibilidade. "Aos trinta anos apartou-se Zaratustra de sua pátria e do lago de sua pátria e foi-se até a montanha..." Você necessita imprimir um certo vigor fonoaudiológico, pois que à medida que os acordes vão se tornando mais vivos é essencial que assim se o faça com a leitura. Não se preocupe com a sincronização ideal nessa primeira vez; afinal de contas isso é o começo e todo começo é difícil.
Trata-se também de um ensaio até se poder atingir o clímax no perfeito casamento entre a bela abertura da Nona Sinfonia de Beethoven e a descrição do "livro para toda gente e para ninguém", no dizer do autor.
O primeiro movimento, por ser razoavelmente longo, há que ser medido com alguma precisão, para que não haja vazios entre acordes e leitura. O mais importante é todo o clima de relaxamento e a sincronia entre as duas obras imortais. Fiz algumas vezes essa experiência e, claro, ainda não atingi o ponto ótimo. Mas não desisto nunca, sou brasileiro.
Abro um parêntesis para explicar que escrevi certa vez um texto para ter uma melodia ao fundo. Chamava-se "Bananeiras" e se referia ao bucolismo do subúrbio de Casa Forte que é, sem desmerecimento aos demais, o melhor do Recife. A obra musical foi escrita para dois violões e de autoria de dois velhos amigos. Fecha o parêntesis. No caso em pauta, a Nona e Zaratustra, a experiência pode inclusive ser gravada diretamente no som de sua sala.
Além de uma espécie de musicoterapia, esse conjunto medicamentoso surtirá o efeito esperado e, quem sabe, deixará você com um elevado espírito e a pressão sanguínea doze por oito. A sugestão da famosa obra nietzschiana envolvendo outra página musical eterna, pode ser efetuada com outras obras musicais. Fica a seu critério.
Tenho certeza, ao menos a meu modo, que o estresse trazido do seu dia de humano - respeitemos os cães - será aliviado significativamente. Mesmo porque traz grandes benefícios à voz, à postura física e ao aumento de serotonina produzida em seu corpo holístico.
Fica, porém, uma advertência: se alguém chamar você de louca(o), dê de ombros. Responda serenamente que o mundo, da forma que aí está, não deve nada aos "normais". Não esqueça de sua medicação.
______________________________________________________________________
*pequeno cabide na parede onde se penduram molhos de chaves.

WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
07.04.2013


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