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Cronicas-->O pacto -- 11/04/2013 - 13:36 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A conversa desviando-se de matrimônio parecia melhor para Fernão. Talita fingiu esquecer a pergunta sobre o casamento dela na Igreja Católica e o Frei, não insistiu nem insinuou aguardar resposta. Despediram-se e cada um tomou sua direção.

— Não sabia que me casara com uma carola!

Ela levou um susto e com sabedoria, respondeu:

— Faz parte de nosso pacto, não te lembras?

— Sim, mas não me apronte  armadilhas para casar na tua igreja.

 Pobre Talita! Guardava com tristeza as palavras dele: “Não me apronte armadilha para casar na tua igreja”. E entendeu perfeitamente que este posicionamento era um aviso de que Fernão  jamais se casaria com ela. Percebera isso no desconforto que ele sentiu na presença do frei. Mas, o pacto que fizeram não permitia indagações sobre a vida particular de cada uma das partes.

— Quero romper o pacto, disse ela.

— Estás propondo descasamento?

— Não! Quero romper o pacto que fizemos de sermos anônimos, nada sabermos da vida do outro. Quero conhecer tua família!

— Vamos marcar um jantar com minha mãe! Sou filho único e meu pai é falecido.

Fernão ficou  aflito, chegou a imaginar que Talita pudesse  ter visto o diário de Vannini... Ligou imediatamente para dona Raquel marcando um jantar em família.

Com que roupa eu vou...

Raquel escolheu a melhor veste, nem esportiva demais, nem exagerada como em seus tempos de estrela. Era uma mulher bonita e trazia alguns traços da mocidade que marcaram sucesso em capa de revista masculina no início dos anos sessenta. Sua maior recordação, ainda palpável, era o cadilac vermelho-acetinado com que, outrora, transbordava elegância e beleza na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Precisava cuidar-se para não se dirigir a Talita, chamando-a de Vannini. Apreensiva, Raquel se policiava o tempo todo e aquela noite não fora uma das melhores de sua vida. Havia um ar pesado, alguma coisa escondida por trás do olhar da mãe de Fernão que durante aquele encontro disse apenas: “Meus filhos, o amor é lindo, e ao mesmo tempo, feio se não vivido com maturidade...”

— Muitos já falaram de amor e quase nada foi dito — completou Talita — Há muito ainda que se dizer e escrever. Há muito ainda que se viver para descobrir o verdadeiro amor. Amar é sonhar a dois os mesmos sonhos. Viver as mesmas emoções, partilhar da mesma sensação de dor ou de alegria. É um eterno retirar pedras do caminho ou aprender a desviar-se delas. Lentamente, Talita deixava que fosse lida uma ou outra página de seu passado, na esperança de que Fernão fizesse o mesmo. Mas, ele era pedra de cimento, areia e cal. Mudo e duro como uma rocha mantinha-se firme no propósito de não descobrir o véu, não revelar as sombras que pairavam sobre a sua cabeça.Tinha ciúme de Vannini e imaginava-a nos braços de Hemor. Com certeza, suas queixas eram menores do que a dor. Casara no civil e no eclesiástico, tudo direitinho, com tinta e papel! E de que lhe valeu isto? Casar é brigar e não ficar brigado. Se bem que não brigavam. Fernão apenas reclamava que Vannini não lhe dava um filho. Ele pensava em contar tudo a Talita e o medo de perdê-la dava-lhe forças para enfrentar a realidade. Não era mais casado. Vannini Saboia conseguira do Tribunal Eclesiástico a Declaração de Nulidade do matrimônio: o Defensor do Vínculo admitiu que Fernão ocultara uma doença grave para se casar com a moça... Então ele, Fernão já se sentia solteiro, pronto para assumir novo compromisso, desde que não dependesse de assinar papel em cartório ou na Igreja. Isso ele não queria mais. Não entraria em pormenores. Bastava dizer: “Sou separado”. Mas aí, a pergunta vem. “Separado e divorciado?”  Porque não dizer então: “Sou solteiro, meu casamento com Vannini foi declarado nulo.”

— Queres me dizer algo?

— Não, não! Estou só pensando em uma viagem que preciso fazer à França, para concluir meu curso de aviação.

— E nem me convidas, talvez eu possa ir junto.

— Devo ficar por lá mais de um mês e você tem sua loja para cuidar. Além disso, eu jamais  iria a passeio. Não tenho boas lembranças das tardes cinzentas de Paris. Talita sentiu os ventos elísios congelarem seu coração  e foi assim, acusando a friagem das tardes que Fernão partiu sozinho para a França.

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